Signos do Céu (Mc XIII, 24-25; Mt XXIV, 29)

LOGIA JESUS – SIGNOS DO CÉU (Mc XIII, 24-25; Mt XXIV, 29)

EVANGELHO DE JESUS

24) Mas naqueles dias, depois daquela tribulação, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz;
25) as estrelas cairão do céu, e os poderes que estão nos céus, serão abalados.
(Mc 13:24-25)


Roberto Pla: Evangelho de ToméLogion 113

Por “predizer” entende Marcos o relato “em parábola” dos padecimentos, a tribulação, que a cada homem “em Cristo” o toca sofrer desde que é entregado até que consuma a negação de si mesmo. Durante esse período, enquanto transita por esses Dias, o homem leva sobre si a cruz, até que “consente” e se entrega à crucificação. Só então a tribulação termina.

Muito cuidado parecem ter posto os evangelistas Mateus e Marcos, e especialmente este último, em deixar bem explicado em seu evangelho o paralelismo entre a Paixão-Ressurreição de Jesus (Paixão e Calvário), e a que vem apontada na parábola para todo homem em Cristo. A Paixão-Ressurreição de Jesus é o paradigma da Paixão-Ressurreição de todos. Algumas observações a esse paralelismo podem agora ser estudadas.

Roberto Pla começa sua análise pela traição de Judas.

Em seguida examina como deve se desenvolver tal estudo ao repassar as vigílias desta “noite da alma” relatada por Marcos, a prisão de Jesus (14,43) em consequência da entrega de Judas, e seu comparecimento diante do Sinédrio (14,53), e constatar que tais eventos se inserem na parábola para todos quando se diz nela: “Os entregarão aos tribunais” (Mc 13,9; PRESENÇA DO ESPÍRITO SANTO).

Ao “amanhecer” (quarta vigília do Dia primeiro dos Ázimos), entregaram Jesus a Pilatos (15,1). No lugar paralelo, a parábola diz: “Comparecereis diante de governadores” (13,9).

No relato da Paixão de Jesus se diz que os soldados, o golpeavam “na cabeça com uma cana, e o cuspiam, etc … A parábola menciona esta tribulação com validez para todos quando diz: “Sereis odiados de todos por causa de meu nome” (13,13).

Roberto Pla investiga então um símbolo significativo, qual seja o da “Hora”, determinando eventos fundamentais do Calvário.

25) as estrelas cairão do céu, e os poderes que estão nos céus, serão abalados

Usa aqui Marcos uma linguagem metafórica tão mitificada, tão “em parábola”, que obriga a efetuar uma tradução minuciosa para avançar quase palavra por palavra na exegese segundo o sentido oculto.

As “estrelas”, são os anjos, e estes são o espírito do homem completo, o homem pneumático, quer dizer, os eleitos.

Se diz no Apocalipse que “a calda da grande serpente vermelha — que a tradição identifica com Satã — arrastou a terceira parte das estrelas do céu e as precipitou sobre a terra”. Este fato se interpretou como a caída dos anjos — um drama cósmico, em verdade — ocorrido no princípio dos tempos. Para os eclesiásticos, estas estrelas foram os anjos “maus”, constituídos mais tarde em “legião” à serviço de Satã. Mas para certos gnósticos, estes anjos caídos eram as partículas de luz, caídas na geração humana, quer dizer, o espírito do homem, os eleitos, que gemem cativos sob a grossa e pouco permeável capa de ignorância dos homens psíquico-hílicos. A estes eleitos é aos quais veio Jesus resgatar.

Quanto à locução “do céu”, assim indeterminada e em singular, significa que algo — as estrelas, os anjos — pertencem ao lar de Deus, pois são de condição divina. Isto é o que se afirma, por exemplo, de “tesouro no céu” que obterá aquele jovem rico ao qual fala Jesus, quando dá aos pobres tudo o que possui (Tesouro no Céu). E isto mesmo se diz do batismo de João Batista, que “pode” ser do céu.

Quando Marcos diz agora que “as estrelas irão caindo do céu”, o que quer dizer de forma oculta, “em parábola”, é que aqueles que “concedem” ser crucificados e chegam com isto ao limite da negação de si mesmos, pois isso é a cruz, vivem por essa causa uma tribulação como não houve até o presente (deles), nem tornarão a viver, porque é a tribulação extrema,e portanto, irrepetível, que é possível suportar. Passar por esta tribulação significa nada menos que “vencer ao mundo”.

Por conta dessa vitória, a escada que sonhou Jacó e pela qual podem baixar à consciência psíquica as estrelas que habitam no céu, fica já aberta a comunicação entre os três reinos cósmicos estabelecida para sempre. As chaves dessa porta, pela qual os atos na terra são ao mesmo tempo atos no céu, como em um espelho, as tinha Jesus em uso de ser Cristo oculto e manifesto ao mesmo tempo.

No que respeita às “forças”, há que entender que se pode dizer destas, por extensão, que são os seres espirituais, com vida eterna e portanto, doadores de vida. A eles nomeava Paulo quando dizia que o último Adão, o nascido de acima, era “espírito que dá vida”; e o dizia em oposição ao homem psíquico ou Adão, alma vivente (mortal).

Os anjos que estão nos céus — no céu do céu — na mansão do Pai, do qual dimana a vida toda, são aqueles que já passaram pela ressurreição. Isto é o que explicava Jesus quando disse que os que ressuscitaram “serão como anjos nos céus”.

E se se diz destas estrela ou “forças” já ressuscitadas, que serão “sacudidas”, ou melhor, “movidas”, é pelo “gozo” com que receberão a descida do Filho do Homem à consciência do que passou triunfalmente pela crucificação, e alcança a ver o Filho do Homem, na “Glória de seu Pai (acompanhado) com os santos anjos (quer, dizer, com eles)”.

A descrição que aqui faz a parábola tem seu paralelo na passagem da Paixão de Jesus onde se diz: “O véu do Santuário se rasgou em dois de cima abaixo” (Mc 15,38) (vide Véu do Santuário Rasgou).