Sepher Yetsirah
Séfer Yetziráh; Sepher Ietsirah; Sefer Yetzirah; Sefer Ietsirah, Livro da Formação, Livro da Criação
Qabbalah
Harold Bloom
Após uns oito séculos de silêncio dos gnósticos, um livro curto, o Séfer Yetziráh (Livro da Criação) foi amplamente difundido entre os judeus eruditos. Existe pelo menos uma meia dúzia de traduções inglesas disponíveis do Séfer Yetziráh e é provável que este livrinho seja para sempre popular entre os esotéricos. Ele não tem, em si, nenhum valor literário ou espiritual mas é, historicamente, a verdadeira origem da Cabala. Ignora-se por completo a data de sua redação, no entanto, presume-se que ela remonte ao século III. Em discussões cabalísticas posteriores, sua autoria foi atribuída ao grande Rabi Akiba, a quem os romanos martirizaram, fato que contribuiu em muito para o prestígio deste livro. O que realmente importa no Séfer Yetziráh é que ele introduziu, de forma bastante rudimentar, a noção estrutural central da Cabala, as Sefirót, que, em obras ulteriores, passaram a ser as emanações divinas através das quais toda a realidade é estruturada. Uma vez que, até o século XIII, não havia sido escrito o próximo texto cabalístico de importância, o Sefer ha-Bahir, e que aquela obra apresenta um desenvolvimento mais completo, porém não definitivo, das Sefirót, os estudiosos da Cabala necessariamente se confrontam com a problemática que representam mil anos de tradição oral. Dessa forma, todo o medievalismo judaico se converte em um vasto labirinto, onde as ideias características da Cabala eram inventadas, revistas e transmitidas em uma área que abarcava da Babilônia até a Polônia. Nesta vasta extensão espacial e temporal, até mesmo Gershom Scholem fica desconcertado, uma vez que a própria essência da tradição oral é que ela deva derrotar todo o saber histórico e crítico. (Cabala e Crítica)
Elias Lipiner
Excertos do livro de Elias Lipiner, “As letras do Alfabeto na criação do mundo”
De acesso reservado, segundo se crê, aos iniciados, o texto original, em língua hebraica, do velho, enigmático e temido Séfer Yetziráh, ou seja, Livro da Criação ou Livro da Formação (do Universo), se tem prestado a variadas interpretações. Não é tarefa fácil, com efeito, trazer esse amontoado de proposições ao nível da clareza e da evidência. Repleto de armadilhas etimológicas e sintáticas, o estilo do Livro, ainda que de rica e audaz sugestividade, é de pouca lucidez. A sua formulação quase matemática e precisa contrasta com o sentido metaforicamente confuso de suas frases. Aproximando-se à poesia, o texto alude, por vezes, a coisas remotas e indizíveis mediante o emprego de expressões dificilmente penetráveis. Estas parecem conter confidências metafísicas murmuradas a meia-voz, a excitar, a um tempo, o irresistível interesse do leitor e a sua grave desconfiança.
Bem por isso a tradução do Livro, adiante apresentada, foi feita com extrema fidelidade, sem fugir, inclusive, às oscilações de significação que lhe viciam com frequência o estilo. Isto, a fim de oferecer a cada leitor o ensejo de sua livre interpretação. A exemplo da música — representativa de linguagem despojada de sentido objetivo e convencional, atribuindo-lhe cada ouvinte, a seu ver, um valor subjetivo próprio e, por vezes, surpreendente. Ou a exemplo, mesmo, do texto poético, a que cada um — poetá e leitor — atribui um valor decorrente de sua própria imaginação. Em relação ao Livro, tais alternativas semânticas só poderiam ser proporcionadas por uma tradução fiel, de estilo algebricamente simplificado e generalizado, destituída intencionalmente de notas limitativas de sentido no rodapé, e suscetível, como o texto original, de tantas interpretações quantas fossem necessárias. De acreditar-se mesmo que, uma vez proporcionadas tais alternativas, e dada a oportunidade por elas oferecidas ao leitor de apropriar a si — aos seus critérios e aos seus sentimentos — as revelações porventura contidas no vetusto e estranho texto, dissipar-se-ão os temores sempre provocados pela obra em razão do seu estilo obscuro, lacônico e enigmático.
A época do Livro bem como a identificação de seu autor não se podem estabelecer com segurança. Continuam envolvidas nas mais densas trevas. Os exegetas tradicionalistas emprestam-lhe antiguidade pré-bíblica atribuindo a sua autoria ao patriarca Abraão, que teria sido o primeiro a contemplar e a desvendar os mistérios cósmicos. Outros atribuem-na a Rabi Akiba ou a Rabi Elisha ben Avuyah, dois sábios do período pós-bíblico, tornados conhecidos, o primeiro, por sua paixão pelas letras do alfabeto e, o segundo, por suas tendências gnósticas, sendo estas como aquelas elementos essenciais na composição da velha obra. Os autores mais modernos, entretanto, proclamam o anonimato definitivo da obra, remontando-lhe a origem aos primeiros séculos da era comum. Colocam-na neste ou naquele trecho de tempo, conforme as influências gnósticas, neoplatônicas ou neopitagóricas por ela supostamente sofridas, e para sincronizá-la com os períodos em que tais influências seriam cronologicamente mais prováveis. Uns e outros, porém, tradicionalistas e modernistas, confessaram-se perplexos com as estranhas afirmações contidas no Livro. O texto revela um autor preocupado em busca dos muitos caminhos para alcançar e conhecer a realidade a fim de tornar mais transparente, para o leitor, o mistério do Cosmos; um autor que é físico e metafísico simultaneamente, porque ele não só registra os rudimentos dos fenômenos físicos da natureza, mas indaga também a sua razão de ser. O tema central da obra é a busca de solução para o problema das relações entre Deus, que é infinito, e a sua criação finita, entre o espiritual e o material, ou seja, para o problema “como derivaram coisas finitas de uma força infinita” — na expressão de Rabi Abraham ben David, no introito ao comentário do Séfer, que lhe é atribuído nas edições impressas.
Preocupado com a origem e a estrutura dos corpos naturais, o autor anônimo foi buscar o modelo espiritual primitivo de tudo quanto existe às trinta e duas sendas ocultas da Sabedoria que seriam, segundo ele, os canais intermediários entre o Criador e a criação. Esta, destacada da Eternidade e confinada nos angustiosos limites do espaço, do tempo e do corpo humano, pode ter sugerido ao autor do Livro a imagem de uma evolução cósmica tríplice. Com efeito, como adiante se verá, o autor opera em três planos diferentes e interligados, por ele classificados de Holam (Espaço ou Universo), Shanáh (Tempo) e Néfesh (Corpo humano ou Vida inteligente) procurando estabelecer as relações metafísicas existentes entre as coisas situadas nesses diversos planos ou aos mesmos pertinentes, sempre considerando o mecanismo psicofisiológico da linguagem humana.
René Guénon
Impõe-se um paralelo com o papel que desempenham as letras na doutrina cosmogônica do Sepher Ietsirah. A “ciência das letras” tem, aliás, uma importância quase igual na cabala hebraica e no esoterismo islâmico. É preciso também notar que o “Livro do Mundo” é, ao mesmo tempo, a “Mensagem Divina” (Er-Risâlatul-ilâhiyah), arquétipo de todos os livros sagrados; as escrituras sagradas nada mais são que sua tradução em linguagem humana. Isso é afirmado de forma expressa com relação ao Veda e ao Alcorão; a ideia do “Eterno Evangelho” mostra também que a mesma concepção não era inteiramente estranha ao cristianismo ou que, pelo menos, nem sempre o foi.
C. del Tilo
Excertos de LA PUERTA
Las opiniones más diversas han sido emitidas respecto al origen y patria espiritual de este escrito, que no cuenta más que con algunas páginas.
Gershom Scholem sugiere que fue compuesto en el siglo II o III en Palestina.
En su libro el Sefer ha Guematría, Rabi Judá el piadoso, escribe: “Ben Sira queria estudiar el Sefer Ietsirah. La voz celeste se hizo oír: jNo puedes hacerlo solo! Ben Sira fue a buscar a su padre Jeremias. Lo estudiaron juntos. Después de tres anos crearon a un hombre y sobre su frente estaba escrita la palabra EMET (verdad), lo mismo que sobre la frente de Adán. Este Ser les dijo: El Santo Bendito Se a creó a Adán, pero cuando quiso volverle mortal, borro una letra de la palabra EMET y quedó la palabra MET (muerte)”. (La letra borrada es la letra alef).