Qumran Luz

Manuscritos do Mar MortoLUZ
Bíblia y legado del Oriente, el entorno cultural de la historia de salvación, M. Garcia Cordero, Biblioteca de Autores Cristianos, BAC serie normal 390, Madrid, xxiii, 1977, 711 p., ISBN: 84-220-0809-2.
XII. Os Documentos do Mar Morto
B) Os escritos de Qumran e o Novo Testamento
6. Influência de Qumran nos escritos apostólicos ?
Contribuição e tradução de Antonio Carneiro das páginas 686 e 688
Contraposição entre “luz” e as “trevas”
Qumrân
“ … O sábio explique a todos os filhos da luz … Da fonte da verdade e do manancial das trevas a geração da iniquidade. Em mãos do príncipe da luz está a dominação de todos os filhos de justiça. Eles marcham pelos caminhos da luz. Em mãos do anjo das trevas está o domínio sobre os filhos da iniquidade, eles marcham por caminhos tenebrosos …” (Regra I Qs III, pp.13-14)

São Paulo
“Foste há algum tempo trevas, mas agora sois luz no Senhor; andais, pois, como filhos da luz. O fruto da luz é todo bondade, justiça e verdade. Buscais aquele que é grato ao Senhor, sem se comunicar com as obras vãs das trevas …” (Ef 5 e ss.)

“O Pai nos livrou do poder das trevas e nos transladou ao Reino do Filho de seu amor …” (Ts 5, 4-5).

Em 2Cor 11,14, São Paulo diz que o diabo se converte em “anjo da luz”; e em Ef 6,12 fala dos “dominadores desse tenebroso mundo” e “anjo das trevas”. Também fala do “poder das trevas”, aludindo ao poder diabólico.(Lc22,53; Col1.13). Estas denominações são correntes nos livros apócrifos judaicos, aparte dos escritos de Qumrân. Os relatos bíblicos estão montados como um drama, no que pulsa um dualismo moral ou pugna de duas forças antagônicas, tal como se encena no capítulo terceiro do Gênesis: a serpente representa o espírito anti-Deus, que instiga ao homem a ultrapassar os limites que impõe a lei divina em sua qualidade de criatura. e um poder satânico trata desde então de desfazer a obra de Deus. Por outro lado, o símile da “luz” e das “trevas” contrapostos na ordem moral surge espontâneo, já que o diabo habita nas regiões tenebrosas, fugindo da “ luz” , que desmascara suas atividades turvas. E no “Testamento de Levi” se lê: “Elege entre a luz e as trevas” (Test.Levi 19,1). Segundo Jo 12,46, Jesus declara enfaticamente: “Vim como luz do mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas”. Por isso o evangelista disse de Cristo que é “a luz que brilha nas trevas, mas as trevas não o abraçaram” (Jo 1,5). Neste suposto, São João desenvolve o símile da luz e das trevas na ordem moral e espiritual de modo seguinte:

“Esta é a mensagem que d’ Ele ouvimos e vos anunciamos: que Deus é luz e que n’ Ele não há treva alguma. Se disséssemos que vivemos em comunhão com Ele e andamos nas trevas, mentiríamos e não obraríamos segundo a verdade. Mas, se andamos na luz, como Ele está na luz, então estamos em comunhão uns com os outros …” (1Jo 1, 5-7)

“As trevas passam e aparece então a luz verdadeira. O que disse que está na luz e incomoda seu irmão, este está ainda nas trevas. O que ama seu irmão está na luz … O que incomoda seu irmão está nas trevas … ” (1Jo 2, 8-11)

Jesus se apresenta como a “luz do mundo” (Jo 8,12), mas “os homens amaram mais as trevas que a luz, porque suas obras eram más. Porque todo aquele que obra mal incomoda a luz … Porque o que obra a verdade vem para a luz … pois está em Deus” (Jo 3,19-21). A luz é sinônimo da verdade, e as trevas equivale a mentira. Estas contraposições morais são correntes na literatura judaica e gnóstica. Em Qumran se contrapõe a “verdade” e a “perversão”, que equivale a obrar mal, em quanto obra caliginosamente, nas trevas. O que tem consciência tranquila, busca a luz, enquanto que o que obra avessamente, busca a obscuridade. É uma relação conceitual muito normal; e não é necessário buscar dependências diretas de uns textos a outros. São Paulo joga com conceitos análogos, contrapondo a situação de pecado e de justificação:

“Fostes algum tempo trevas, mas agora sois luz no Senhor; andais, pois, como filhos da luz. O fruto da luz é todo bondade, justiça e verdade … Buscais aquele que é grato ao Senhor, sem se comunicar com as obras vãs das trevas” (Ef 5,6).

“Quanto à vós, irmãos, não vivais nas trevas, para que esse dia não os surpreenda como ladrão, porque todos são filhos da luz e filhos do dia; não sois filhos da noite nem das trevas” (Ts 5, 4-5).