PHILOKALIA KAKIA

PHILOKALIA-TERMOSKAKIA

Evágrio:

  • Os vícios destroem as atividades naturais da alma; se toda malícia é engendrada pela inteligência, pelo poder irascível e pelo poder do desejo, e que destes poderes podemos usar bem ou mal, é logo é evidente que é pelo uso contra natureza destas partes da alma que os males nos chegam. E se assim é nada há que seja criado por Deus que seja mau.

Máximo o Confessor:

  • Nada do que é não é mau, mas só o mal uso, por conta da negligência de nosso espírito a se cultivar segundo a natureza.
  • ... o pecado em todas as coisas, é o mau uso.
  • ... é na medida que usamos mau os poderes de nossa alma : desejo, ardor e razão, que os vícios nela se instalam.
  • O que a saúde e a doença são para o corpo do vivente (...) a virtude e o vício o são em relação à alma.

Cassiano:

  • Todos os vícios só têm uma mesma fonte e uma origem idêntica. Mas, segundo a parte da alma, e por assim dizer, o membro que está viciado na alma, recebe os vocábulos diversos de paixões e doenças espirituais. A analogia das afeições corporais disto serve às vezes de prova. Pois, embora a causa seja única, não deixa de se diversificar em várias espécies de doenças, segundo o membro que é atingido. Se o humor pecaminoso toma a cabeça, que é como a cidadela do corpo, dá lugar à cefalgia; se invade as orelhas ou os olhos, temos a otalgia ou oftalmia; se ataca às articulações ou às extremidades das mãos, é a doença articular ou a gota das mãos; e se desce até as extremidades dos pés a afeição muda de nome para se chamar gota dos pés. Para uma mesma fonte de humor maligno, tantos vocábulos distintos quanto partes ou membros atingidos. Da mesma maneira, das coisas visíveis passando às invisíveis, podemos crer que a energia dos vícios se encontra semelhantemente localizadas nas diferentes partes e, se se pode dizer, os membros da alma. Ora os sábios aí distinguem três faculdades: a razão (logistikon), o ardor (thymikon e o desejo (epithymikon. Uma ou outra será necessariamente alterada todas as vezes que o mal nos atacar. Logo quando a paixão má toca qualquer um destes poderes, é segundo a alteração que ela aí determina, que o vício particular receba sua denominação.

Gregório do Sinai:

  • Muitos dos que praticam os mandamentos pensam que estão seguindo o caminho espiritual. Mas ainda não alcançaram a cidade, e d fato permanecem fora dela. Pois viajam tolamente, desviando-se se perceber da via reta em vicinais, não se dando conta quão próximo os vícios são do caminho da virtude.
  • As virtudes cardeais são quatro: coragem, compreensão, auto-restrição e justiça. Há oito outras qualidades morais, que vão além ou aquém destas virtudes. Estas vemos como vícios e assim as chamamos; mas as pessoas não espirituais as veem como virtudes e assim as chamam.

Teodoro o Grande Asceta:

  • Uma alma inteligente, enquanto no corpo, só tem uma tarefa: realizar sua própria finalidade. Mas posto que a energia da vontade permanece desestimulada a não ser que haja intelecção, começamos por tentar energizar noeticamente (vide noeton). A atividade noética é ou com vistas à vontade, ou mais comumente, para si mesmo assim como para vontade. Bem-aventurança — da qual qualquer vida significativa na terra é não apenas uma abertura mas uma prefiguração — é caracterizada por ambas energias: tanto intelecção e vontade, ou seja, tanto amor e prazer espiritual. Se ambas energias são supremas, ou uma superior a outra, está aberto a discussão. Por momento devemos olhar ambas como supremas. Uma chamamos contemplativa outra prática. Onde estas energias supremas são levadas em conta, uma não pode ser encontrada sem a outra. No caso das energias inferiores, seguintes a estas, cada uma pode ser encontrada singularmente. O que quer que iniba estas duas energias, ou as oponha, chamamos vício. O que quer que as estimule, ou as libere de obstáculos, chamamos virtude. Energias que brotam das virtudes são boas; aquelas que brotam de seus opostos são distorcidas e pecaminosas. A meta suprema, cuja energia, como sabemos, é um composto de intelecção e vontade, dota cada energia particular com uma forma específica, que pode ser usada seja para o bem ou o mal.

Jean-Claude Larchet:

  • Afastando de Deus as diferentes faculdades de sua alma e de seu corpo e orientando-as para a realidade sensível, para aí encontrar a felicidade na busca incessante da saciação dos prazeres da vida terrestre, o homem fez manifestar nele as paixões, denominadas também vícios — kakia-. O homem decadente, abandonando sua identidade com Divino ("criado a imagem e semelhança de Deus"), é assim como um espelho que reflete ao inverso impulsos divinos que assim se degeneram nas paixões e vícios que o degradam e o afastam deste caminho.