Parábola das Minas [OPEI]

Uma versão da parábola se encontra no Evangelho dos Nazarenos, onde junto com o servo que multiplicou as minas confiadas e o que enterrou as minas se apresenta um terceiro servo que que dilapidou as minas com rameiras e flautistas; o primeiro recebe aprovação, o segundo é apenas censurado, o terceiro é posto na prisão.

Segundo Antonio Orbe, Eusébio de Cesareia faz uma resenha da parábola como relatada no Evangelho dos Nazarenos: “Posto que o Evangelho chegado até nós em caracteres hebraicos não lançava a ameaça contra o que escondeu o talento (de fato mina), se não contra o que viveu dissolutamente. Pois distinguia três servos: um que havia consumido a fazenda do senhor com meretrizes e flautistas; outro que havia feito render muito seu trabalho; e outro, finalmente, que havia ocultado o talento. E dizia que o primeiro foi recebido, que o segundo apenas admoestado, e o último encarcerado. Me ocorre perguntar se por ventura a ameaça que vem depois da reprimenda contra o que nada trabalhou vai dirigida não contra este, se não por epanalepsis contra o primeiro, que havia comido e bebido com os bêbados.”

Segundo Antonio Orbe tudo depende do verbo ter: entre valentinianos pode-se ter “em propriedade” (idiokteton) ou “em uso” (en kresei); a primeira refere-se a graça (gnosis), típica da semente espiritual; a segunda à pistis, peculiar do indivíduo animal.

  • Filiação natural (algo próprio; congênita) e adotiva (aditícia); Evangelho da Verdade e Evangelho segundo Felipe: “Que é o Nome? Este (=o Filho) é o Nome autêntico; é efetivamente o Nome que vem do Pai, porque é seu próprio Nome. Não recebeu, pois, o Nome, como os demais, a título de empréstimo, como acerto de modo peculiar como cada um deles produziu. Ao contrário, este é o Nome próprio; nenhum outro a quem Ele o tenha dado.”
  • O Nome passa em propriedade do Pai ao Filho; aos demais se os outorga em préstimo. Enquanto ao Filho nada se o tira, pode-se retirar aos demais? A divindade verdadeira vai do Pai ao Universo, junto com o Nome próprio, autêntico, de Deus. E não como sobrevém aos deuses do paganismo, por arbitrária denominação.
    • A teologia pagã presenteava o nome de deus a quem não o era. E como o concediam em préstimo podiam impunemente retirar, por não tê-lo em propriedade.
  • Outra coisa sucede ao nome de Cristo (resp. Filho de Deus) apropriado pelos cristãos no batismo. O declara o Evangelho de Felipe:
    • «Se alguém baixa à água e sai dela sem haver recebido nada, e diz: ‘Sou cristão (christianos)’, apropriou (falsamente) o Nome. Mas se recebe o Espírito Santo, possui o dom (dorea) do Nome. Ao que recebeu um dom não se retira-o (mais). Mas se o priva dele a quem o tenha apropriado.
      • Adquire em propriedade o dom imperdível da gnosis. Heracleon: «Porque eterna é sua vida, e já não se corrompe como a primeira vinda do poço, senão que a persevera. Porque a graça e o dom de nosso Salvador é imperdível e não se perde nem corrompe em quem o participa…»
      • O dom da gnosis; Evangelho de Felipe: «Deus é um tingidor. Assim como as tinturas boas, que chamam autêntica, morrem com as matérias tingidas com elas, assim as matéria que Deus tingiu. Porque suas tinturas são imortais. Resultam imortais mercê de suas cores.»