A interpretação dos sinais, a) Segundo a disposição de quem os percebe, os sinais podem-se interpretar como simples fatos (cf. 7,3: Essas obras que fazes) ou como verdadeiro sinal. Contudo, as obras de Jesus são sempre sinais, pois dão testemunho de que é o enviado do Pai (Jo 5,36).
b) Nem todas as interpretações que os espectadores dão dos sinais correspondem ao seu verdadeiro sentido, por não se aplicar o verdadeiro critério de interpretação. Assim, diante do gesto messiânico de Jesus no templo, que ele denuncia como idolátrico (Jo 2,16), os discípulos recordam um texto da Escritura (Jo 2,17: a paixão por tua casa me consumirá), que interpretam de zelo com o de Elias: veem em Jesus um Messias reformador, que utilizará a violência.
Os sinais que Jesus realiza em Jerusalém durante aquelas festas da Páscoa, que continuam o gesto do templo, provocam a adesão de muitos; mas esta adesão, baseada em interpretação falsa (não na chave de glória/amor), faz com que Jesus não confie neles (Jo 2,23-25).
O fariseu Nicodemos, por seu lado, deduz dos sinais que Jesus é Messias-mestre (Jo 3,2) a serviço da Lei, reformador que se apoia nela. É incapaz de compreender as palavras de Jesus, que demonstram o propósito do seu amor já expresso em Caná: a comunicação do Espírito ao homem a fim de tirá-lo de sua condição de “carne” (Jo 3,6).
Os sinais de Jesus com os fracos-enfermos, tirando-os de sua prostração (Jo 5,3ss), despertam a esperança de multidões que o seguem (Jo 6,2). Na proximidade da segunda Páscoa (Jo 6,4), o sinal dos pães interpreta-se de duas maneiras: uns identificam Jesus com “o Profeta que tinha que vir ao mundo” (Jo 6,15), maior do que Eliseu (Jo 6,9: pães de cevada; cf. 2Rs 4,42-44); outros pretendem fazê-lo rei, segundo a ideia messiânica tradicional de chefe do povo (Jo 6,15). Esta segunda interpretação é rechaçada por Jesus, que se retira de novo ao monte (Jo 6,15). Mais tarde, a multidão o busca por próprio interesse, e não pelo significado do sinal (Jo 6,26); daí a censura de Jesus (Jo 6,36).
Na proximidade da terceira Páscoa, a multidão sai de Jerusalém ao encontro com Jesus, atraída pelo sinal que realizou com Lázaro (Jo 12,18). Interpreta-o como sinal messiânico e aclama em Jesus o rei de Israel, um Messias que há de durar para sempre (Jo 12,34); interpretam “a glória do Homem” (Jo 12,23) em chave de poder real e não aceitam o Messias que dá a vida pelo povo (Jo 12,32; cf. 11,50; 18,14).
c) Os sinais de Jesus, todos expressões do seu amor, manifestam o seu desígnio: terminar o homem infundindo-lhe o Espírito, a força do amor (Caná); dar-lhe vida (Jo 4,50), integridade e liberdade (Jo 5,8s), dar-lhe dignidade e independência pelo amor que se expressa no compartilhar e no serviço mútuo (Jo 6,10s); iluminá-lo para dar-lhe o valor, a identidade e a independência diante do seu opressor (Jo 9,1ss): tudo isso incluído no dom de uma vida que supera a morte (Jo 11, 1s). Quer levar o homem ao seu pleno desenvolvimento, segundo o projeto divino.
Pelo contrário, as interpretações que se propõem têm por denominador comum a dependência de um líder: o Messias reformador mediante a violência (Jo 2,17) ou mediante a Lei; o rei que assegura aos súditos o sustento (Jo 6,15); o rei que com sua autoridade muda a situação em favor dos oprimidos (Jo 12,12ss). As ideologias, cujo protótipo é a Lei (Jo 12, 34), fizeram com que o homem renuncie ao desejo de ser livre.
O grande sinal. Como se anuncia em Caná (Jo 2,4: a minha hora), o grande sinal de Jesus será a sua cruz; por isso é objeto de testemunho particular e solene (Jo 19,35: O que o viu pessoalmente deixa testemunho). A glória-amor que se manifesta na cruz é simbolizada pelo sangue (o amor demonstrado) e pela água (o amor comunicado, o Espírito) que saem do lado de Jesus. É o sinal do Homem levantado ao alto, de que irradia a vida (Jo 3,14s). Daí vem que a comunidade se identifique com o grupo que contempla sua glória (Jo 1,14; 17,24) e participe dela (Jo 1,16).
A morte-exaltação de Jesus integra e explica os sinais anteriores. Uma vez que o evangelista completou com este último e grande sinal, ele caracteriza sua obra como “livro dos sinais” (Jo 20,30).