Evangelho de Jesus — MENINO JESUS NO TEMPLO (Lc II, 21-38)
Rama Coomaraswamy: Menino Jesus no Templo
Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 102
Da presença fala Lucas quando diz: “Com ele estava o Espírito Santo (a presença), mas o havia sido revelado pelo espírito que não saborearia a morte antes de haver visto ao Cristo do Senhor“.
Evangelho de Tomé – Logion 93
No que respeita a universalidade do Cristo oculto, mencionado, como vemos na Escritura, segundo a tradição judia, sob a denominação de Israel, é um bom exemplo o que oferece o Nunc dimittis, de Simeão, que aparece no terceiro evangelho.
Segundo se diz, a Simeão havia sido revelado pelo Espírito Santo que veria a morte antes de haver visto ao Cristo do Senhor. Do ponto de vista oculto, esta declaração significa que o havia sido revelado que receberia a unção do espírito — a descida do Espírito — para unir-se com ele em um só, antes de saborear a morte.
O evangelista funde aqui com extrema perícia hermenêutica em um só texto a explicação da ordem manifesta — o ato de tomar em seus braços ao Cristo menino, a Jesus — e a percepção da presença profunda, interior, do Espírito, que o converte em Cristo oculto, como destinatário pessoal do mistério da unção de seu espírito pelo espírito, por longo tempo esperada por ele.
Outra dificuldade hermenêutica agrega Lucas para completar a grandeza e complexidade de seu propósito de escriba. Jesus, o Cristo manifesto e oculto, era o enviado a anunciar a Boa Nova, e assim diz: “O Espírito do Senhor sobre mim porque me há ungido” (Lc 4,18), sua proclamação se fazia, como se verá, sob o mesmo signo do Espírito que recebia Simeão.
Nos braços deste homem justo e piedoso estava depositada a representação visível, manifesta, do Cristo universal, o que havia sido enviado para revelar às nove gerações humanas os mistérios da Vinda em Glória e poder do Filho do Homem. Ao mesmo tempo, no espírito deste homem de Jerusalém, no Simeão pneumático, se derramava a unção que o convertia em Cristo oculto, pronto a ser manifesto nele.
Assim é como poderia Simeão, o servo humilde, andar em paz, posto que seu olhos haviam visto por dupla via a salvação: a preparada segundo o plano divino, para cada homem, e a que trazia a Boa Nova como antecipação para todos os povos. Simeão descreve esta salvação com textos da tradição escriturária judia, mas que não é outra que a salvação proclamada no evangelho.
Nesta descrição os “gentios” (gr. ethnos) não são, segundo o sentido oculto, os povos não israelitas, mas os “não escolhidos”, quer dizer, as almas “chamadas”, carentes de luz (e Vida) próprias e que hão de ser iluminadas. Na declaração de propósitos feita por Jesus na sinagoga de Nazaré, estes são os “oprimidos” aos quais deseja dar a “liberdade”. (Lc 4,18s)
O “povo” na mesma descrição de Simeão (gr. laos) é o grupo formado pelos “escolhidos”, nos quais cada um é uma partícula de luz eterna que se constitui no homem pneumático. Segundo o Gênesis, eles são o povo único, “de uma mesma linguagem e idênticas palavras (Gn 11,1).
Uma vez “reunidos”, feitos um estes “escolhidos” são a Glória, o manto de luz de Deus, que na versão veterotestamentária se denomina em sentido oculto, “Israel”.
Na declaração de Nazaré estes são os “cativos” cuja liberação proclama Jesus (Lc 4, 18); aqueles que depois de sua ressurreição dentre os mortos vêm ver ao Filho do Homem com sua Glória e poder, e todos os anjos reunidos.