CRISTOLOGIA — ERÍGENA
João Escoto Eriugena, ou Erígena, era irlandês, como seu nome sugere, tendo sido educado na Irlanda e na tradição céltica, recebendo também a formação clássica nas Sete Artes Liberais, com forte domínio das línguas grega e do hebraico. Embora não fosse monge ou padre, era um sábio "santus sophista Joahnnes", de acordo com seu epitáfio.
Nasceu no século IX, por volta de 850 estava na França, onde ganhou reputação junto à Escola da Catedral de Laon. A primeira notícia que dele se tem foi a controvérsia sobre a predestinação agostiniana, segundo a qual os homens estavam predestinados por Deus, à salvação ou à danação; doutrina que Eriugena classificou de "uma loucura muito cruel e estúpida". Por suas opiniões teve seu trabalho censurado e condenado pelo Sínodo de Valencia (855).
Devido a seus méritos intelectuais incontestáveis, o rei da França, Carlos o Calvo, pediu que traduzisse do grego as obras de Dionísio o Areopagita. Traduzindo em seguida obras de S. Gregório de Nissa e S. Máximo o Confessor.
Durante essas traduções iniciou a composição de sua obra maior, Periphyseon, Da Divisão da Natureza. Considerada uma síntese de teologia, filosofia, cosmologia e antropologia, segundo a mais perfeita fusão de Cristianismo e Platonismo, constituindo assim a única alternativa filosófica ao escolasticismo aristotélico, àquela época.
Sua obra foi marcante na tradição cristã, tendo inspirado entre outros movimentos o do Irmãos do Livre Espírito, que teve muitos de seus membros queimados pela Inquisição, como por exemplo Marguerite Porète.
Frithjof Schuon: ESOTERISMO COMO PRINCÍPIO E COMO VIA
Quando se fala de esoterismo cristão, não se pode tratar de mais do que três coisas: pode tratar-se, em primeiro lugar, da gnose crística, fundada na pessoa, nos ensinamentos e nos dons de Cristo e eventualmente beneficiada por conceitos platônicos, o que em metafísica não tem nada de irregular; essa gnose se manifestou especialmente, embora de maneira muito desigual, em escritos como os de Clemente de Alexandria, Orígenes, Dionísio, o Areopagita — ou o Teólogo ou o Místico, se preferir —, Escoto Erígena, o mestre Eckhart, Nicolau de Cusa, Jacob Boehme, Angelus Silesius. A seguir, pode tratar-se de algo completamente diferente, a saber, do esoterismo greco-latino — ou do Oriente Próximo — incorporado ao cristianismo: pensamos aqui, antes de tudo, no hermetismo e nas iniciações artesanais. Neste caso, o esoterismo é mais ou menos limitado e até fragmentário, reside mais no caráter sapiencial do método — hoje perdido — do que na doutrina e no fim; a doutrina era sobretudo cosmológica e, consequentemente, o fim não ultrapassava os “pequenos mistérios” ou a perfeição horizontal, ou “primordial”, se nos referirmos às condições ideais da “idade de ouro”. De qualquer forma, esse esoterismo cosmológico ou alquímico, e “humanista” num sentido ainda legítimo — porque se tratava de devolver ao microcosmo humano a perfeição do macrocosmo sempre conforme a Deus —, esse esoterismo cosmológico cristianizado, dizemos, era essencialmente vocacional, uma vez que nem uma ciência nem uma arte podem impor-se a todo o mundo; o homem escolhe uma ciência ou uma arte por razões de afinidade e qualificação, e não a priori para salvar sua alma. Estando a salvação garantida pela religião, o homem pode, a posteriori, e sobre essa mesma base, tirar proveito de seus dons e ocupações profissionais, e é até normal ou necessário que o faça quando uma ocupação ligada a um esoterismo alquímico ou artesanal se impõe a ele por qualquer motivo. (Esoterismo como princípio e como via)