Ascetismo e Misticismo — Angelus Silesius (1624-1677)
A obra deste poeta místico alemão é hoje em dia considerada por todos como uma das mais puras expressões do misticismo ocidental.
Nascido em uma família luterana de posses em 1624, em Breslau, onde recebeu uma formação clássica, partiu em 1643 para estudar medicina em Strasbourg, Leyde e Pádua. Doutor em filosofia e medicina, tornou-se médico do príncipe de Öls, frequentando círculos místicos e ligando-se a Abraham von Franckenberg, díscipulo de Jacob Boehme. Um ano após a morte de seu mestre, Scheffler converteu-se ao catolicismo em 1653, tomando o nome de Angelus Silesius ("Mensageiro de Silésia"), passando a viver em retiro e silêncio durante três anos, e publicando vários poemas. Ordenou-se padre em 1661, escreveu panfletos contra os protestantes, continuando com sua obra poética. Morreu devido a ascese e a doença em 1677, deixando como legado coletâneas de poemas espirituais, dos quais destaca-se o Peregrino Querubínico (1675).
Herdeiro da grande tradição de Eckhart e Tauler, mas também de Boehme, Angelus Silesius lhes deu uma expressão poética ímpar, além de qualquer formulação cofessional. Deus é indefinível, ao mesmo Tudo e Nada, Ser e Nada. Diante de seu Criador, o homem não é nada e no entanto nele somente, que é "à imagem de Deus", Este pode se contemplar. O homem deve assim abandonar-se totalmente, esvaziar-se de si-mesmo, para tornar-se aquilo que verdadeiramente é, um reflexo divino e deste modo eterno. O Peregrino Querubínico influenciou muitos filósofos alemães, sendo reconhecido como uma das formulações mais notáveis de um misticismo que supera toda e qualquer convenção.