Maximo Centurias Varios Textos

Máximo o Confessor — Centúrias sobre vários textos de Teologia, a Divina Economia, e Virtude e Vício
Tradução em grande parte feita a partir da versão francesa da Philokalia, mas eventualmente utilizada a versão inglesa.

Primeira Centúria
Na Philokalia esta Centúria se encontra dentro das Centúrias sobre Teologia, como Terceira Centúria
1. Um é o bem que, acima de tudo, não tem começo e que é mais que a essência: a Santa Unidade em três hipóstases, Pai e Filho e Espírito Santo. União infinita de três infinitos, guardando totalmente inacessível aos seres a razão do ser: como ele é, o que ele é e qual ele é. Pois esta razão escapa à compreensão daqueles que pensam: ela não sai absolutamente da interioridade oculta segundo a natureza, e ela supera infinitamente todo conhecimento de todos os conhecimentos.

2. O bem no sentido próprio, em sua essência, é o que não tem nem começo, nem fim, nem causa do ser, nem também, no ser, algum movimento, qualquer que seja, para uma causa. Mas este que não é assim não é em sentido próprio, pois tem um começo, um fim, uma causa do ser e, no ser, o movimento para uma causa. O que não é no sentido próprio, quando assim mesmo será denominado ser, é e é denominado ser por participação, pela vontade dAquele que é no sentido próprio.

3. Se uma razão guia o devir dos seres, ela não seria, ela não é, ela não será uma razão mais alta que o Verbo. O Verbo não é nem sem inteligência nem sem vida, mas é inteligente e vivente, pois ele porta nele realmente o Pai que é a Inteligência geradora, e ele porta nele a vida cuja existência é realmente ligada ao Espírito Santo.

4. Ele é um só Deus, Pai que engendra um só Filho, e que é a fonte do Espírito Santo, Unidade sem confusão e Trindade sem divisão, Inteligência que não tem começo, Pai único engendrando realmente o único Verbo que não tem começo, e fonte da única vida eterna, quer dizer do Espírito Santo.

5. Ele é um só Deus, pois é uma única Divindade: Unidade que não tem começo, que é simples, mais que a essência, sem partilhamento e sem divisão. A mesma é Unidade e Trindade, etc.

6. Se toda participação daqueles que participam é preconcebida, a causa dos seres que, por conta de sua natureza, existe e é concebida antes dos seres, supera de toda evidência e de toda maneira todos os seres, claramente e incomparavelmente. Não porque ela é a essência das criaturas pois o divino se revelaria composto, desde quando tivesse a realidade dos seres para completar sua própria existência. Mas porque ela é a supra-essência da essência. Se, com efeito, as artes imaginaram formas que moldam e se a natureza em seu conjunto inventou as espécies que suscita, quanto mais Deus criou do nada as essências dos seres, ele que é mais que a essência e que, ainda mais, está infinitamente além do que poderia o estabelecer na supra-essência, ele que uniu as ciências e as artes para que elas inventem formas, que deu à natureza a energia que lhe permite suscitar as espécies, e que fundou tal qual ele é este ser das essências.

7. Aquele à essência do qual os seres não participam, mas que, de uma outra maneira, quer que aqueles que o possam, participem nele, não sai absolutamente do secreto da essência. Então mesmo que o modo segundo o qual ele quer ser partilhado, como ele o sabe, permanece continuamente invisível a todos, ele quer assim fundar o que participa, segundo uma razão que ele mesmo conhece, na superabundante potência de sua bondade. O que foi feito pela vontade do Criador não poderia então ser eterno com Aquele que o quis.

8. O Verbo de Deus, nascido uma vez por todas segundo a carne, quer sempre, por amor do homem, nascer segundo o Espírito naqueles que o desejam. Ele se torna pequenino, se formando ele mesmo neles pelas virtudes, se revelando na medida onde sabe que o porta aquele que o recebe, e não diminuindo pela inveja a revelação de sua própria grandeza, mas avaliando a potência daqueles que desejam o ver. Assim, enquanto ele se manifesta sempre nas modos daqueles que o participam, o Verbo de Deus, na transcendência do mistério, permanece sempre invisível a todos. Eis porque, depois de ter sabiamente examinado o poder do mistério, o divino Apóstolo disse: “Jesus Cristo, o mesmo ontem, hoje, e para sempre” (Hebr. 13,8). Ele sabia que o mistério é sempre novo e que não envelhece jamais na compreensão da inteligência.

9. O Cristo Deus nasceu, se tornou homem assumindo uma carne que tem uma alma espiritual, ele que concedeu aos seres de nascer do nada, e que a Virgem procriou sobrenaturalmente (Lc, 1,31) sem perder nenhuma marca da virgindade. Pois assim como se tornou homem sem mudar a natureza e sem alterar o poder, do mesmo modo fez Mãe e guardou Virgem aquela que o procriou. Ele explica o milagre por um milagre, ao mesmo tempo que oculta um pelo outro. Pois, para ele mesmo, Deus é sempre mistério em sua essência: não sai do secreto natural a não ser para o deixá-lo ainda mais secreto pela manifestação, e do mesmo modo faz da Virgem Mãe que só procria para fazer pela gestação as ligações da virgindade impossíveis de romper.

10. As naturezas são renovadas e Deus se torna homem. Não é apenas a natureza divina, constante e imóvel, que se põe em movimento em direção da natureza móvel e inconstante a fim de que ela cesse de ser carregada. E não é somente a natureza humana que, sem semente, mais alta que a natureza, cultiva uma carne levada a seu termo pela razão divina, a fim de cessar de ser carregada. Mas é também a estrela que em pleno dia aparece no Oriente, e conduz os Magos (Mt 2,2-9) ao lugar da encarnação do Verbo, a fim de significar a palavra que estava na Lei e nos Profetas, misticamente mais forte que os sentidos, conduzindo as nações à imensa luz do conhecimento. Pois a palavra da Lei e dos Profetas tinha claramente em vista o conhecimento do Verbo encarnado, assim como a estrela, considerada com piedade, conduz aqueles que, no desígnio de Deus, foram chamados pela graça.