Isaac o Sírio — O Livro de Isaac de Nínive
Livro de Isaac de Nínive
Fac-símile e transcrição diplomática de Ronaldo Menegaz
Fundação Biblioteca Nacional
(minha versão para um português parcialmente atualizado)
O códice da Biblioteca Nacional tradicionalmente denominado Liber de Contemptu Mundi, na verdade, devia preferencialmente ser chamado de Livro de Isaac. Seu copista e iluminador, Frei João d’Anha, que se apresenta no que se poderia chamar colofão, ao final do códice, escreve em curto preâmbulo após a tavoada que ele desconhece ao certo o nome da obra, sabendo apenas que o autor foi “um Isaac que havia cura de reger monges”. Não sabendo com certeza que nome dar à obra, opta por deixá-la sem título pois, como confessa, teme que venha a aparecer alguém que conheça o nome da obra e que poderá julgá-lo “escrivão de falsidade e de mentira rindo-se do que assim afirmasse por título o que não sabia”:
No entanto, no aqui denominado colofão, o frade copista escreve:
Eu frei João d’Anha pecador e não digno per graça e ajuda de meu Senhor Deus e de sua madre Santa Maria e do precioso São Jerônimo escrevi e aluminei este livro segundo por ele podes bem ver. O qual livro é chamado de Isaac.
A referência ao autor, Isaac, teve o copista através de São João Clímaco, que viveu entre os fins do século VI e princípios do VII e foi abade do Mosteiro do Sinai e autor de uma obra intitulada Escada Santa, onde dá regras aos superiores para o bom governo dos religiosos. Havia um exemplar da Escada Santa em latim no Mosteiro de Alcobaça.
Sabe-se que Isaac de Nínive, falecido em 461, foi discípulo de Santo Efrém (± 306-373) e escreveu suas obras em siríaco, donde foram vertidas para o árabe, o grego e o latim e, daí, para as línguas modernas ocidentais. É provável que seu livro tenha exercido influência sobre a obra de São João Clímaco.
*AS COISAS DE DEUS