PHILOKALIA-TERMOS — PISTIS — FÉ
Versão Inglesa
Não apenas uma crença individual ou teorética nas verdades dogmáticas do Cristianismo, mas um relacionamento abarcante, uma atitude de amor e total confiança em Deus. Como tal, envolve uma transformação da vida do homem. A fé é uma dádiva de Deus, o meio pelo qual somos tomados pela atividade teantrópica de Deus em Cristo e do homem em Cristo através da qual o homem alcança a salvação (soteria).
Padres da Igreja — em nosso site francês
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Clemente de Alexandria: CLEMENT OF ALEXANDRIA: A STUDY IN CHRISTIAN PLATONISM AND GNOSTICISM de Salvatore Lilla
No pensamento de Clemente de Alexandria a ideia de gnosis merece destaque, mas só pode ser compreendida, por sua teoria da fé (pistis). Esta teoria é uma tentativa séria de explicar os termos pistis e pisteuein que ocorrem com tanta frequência nos Evangelhos, sem cair na crítica dos pensadores gregos, que acusavam os cristãos de uma crença sem racionalidade, ou na visão dos gnósticos, como Valentinus (vide Gnosticismo), que privilegiava uma gnosis, totalmente distinta e superior a pistis dos crentes ordinários; uma gnosis concedida apenas aos pneumáticos — pneumatikoi -. Ao mesmo tempo Clemente tinha que se defrontar com os cristãos que não aceitavam uma explicação racional para a fé.
Clemente de Alexandria buscou em Fílon e nas escolas filosóficas de seu tempo os argumentos para esta difícil tarefa, atribuindo três sentidos à pistis:
*a atitude peculiar a mente humana quando acredita nos primeiros princípios de uma demonstração; em termos gerais, designa qualquer espécie de conhecimento imediato (vide Stromata VIII VII; VIII)
*convicção firme que a mente humana possui depois de alcançar o conhecimento de algo por demonstração racional; (Stromata VIII VIII)
*tendência dos crentes em aceitar verdades contidas nas escrituras sem buscar uma maior compreensão das mesmas. (vide Stromata VII VII)
Raimundo Lulio: FIDES
Frithjof Schuon: LINGUAGEM DA FÉ; VIDA ESPIRITUAL — PERSPECTIVAS
Evagrius Ponticus ensina que a fé, fortificada pelas outras virtudes (temor, temperança, paciência e esperança), engendra ”apatia”, ou seja, indiferença espiritual ou impassibilidade, que por sua vez engendra caridade, e caridade precede conhecimento (gnosis — episteme). Pode ainda se adicionar que, de acordo com os Hesicastas Barsanufio e João de Gaza, “a prece contínua se contrapõe a ‘apatia’”.
Este é o grande absurdo: que os homens vivam sem fé e de uma maneira desumanamente horizontal, em um mundo no qual, no entanto, tudo que a natureza lhe oferece testemunha do sobrenatural, do mais além, do divino; da primavera eterna.
A fé é dizer sim a Deus. Quando o homem diz sim a Deus, Deus diz sim ao homem.
A fé como tal não resulta de nosso pensamento, antecede este; inclusive nos antecede. Na fé estamos fora do tempo.
O arquétipo divino da fé é o “sim” que Deus se diz a Si mesmo; é o Logos (logos) que por uma parte reflete a Infinidade divina e por outra a refrata.
Se a fé é um mistério, é que sua natureza é inexpressável na medida em que é profunda, pois não é possível dar conta totalmente com palavras desta visão que todavia é cega e desta cegueira que já vê.
O incrédulo, na terra, não crê mais que o que vê; o crente, no Céu, vê tudo o que crê.
A fé sem verdade (aletheia) é heresia; o saber sem fé é hipocrisia. A obra sem virtude é orgulho (hyperephania) e a verdade sem obra é vaidade (kenodoxia). Schuon Pérolas Peregrino