PHOTISMOS — ILUMINAÇÃO

Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus. Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. (2Co 4:4-6)

Quando Deus fez o homem, colocou-lhe na alma sua obra prima, equilibrada, ativa, sempiterna. Foi uma obra tão grande que não poderia ser senão a alma e a alma não poderia ser senão a obra de Deus. A natureza de Deus, seu ser e a Divindade, todos dependem de sua obra na alma. Abençoado, abençoado seja Deus que faz sua obra na alma e que ama sua obra! Aquela obra é amor e amor é Deus. Deus ama a si mesmo e sua própria natureza, seu ser e a Divindade e, no amor que tem a si mesmo, ama todas as criaturas, não como criaturas, mas como Deus. O amor que Deus tem a si mesmo contém seu amor por todo o mundo.

A afirmação de Eckhart do amor de Deus por si mesmo, que “contém seu amor por todo o mundo”, corresponde, de certo modo, à ideia budista da iluminação universal. Quando Buda alcançou a iluminação, convém lembrar, percebeu que todos os seres, tanto os sensíveis quanto os insensíveis, já se encontravam na própria iluminação.

A ideia da iluminação pode fazer com que, sob certos aspectos, os budistas pareçam mais impessoais e metafísicos que os cristãos. O budismo pode, assim, ser considerado mais científico e racional que o cristianismo, que se encontra pesadamente sobrecarregado de toda a sorte de acessórios mitológicos. Procede-se, pois, agora, entre os cristãos., um movimento visando a despir a religião de seu desnecessário apêndice histórico. Embora seja difícil prever até que ponto tal movimento será bem sucedido, o fato é que existem, em todas as religiões, certos elementos que podem ser chamados de irracionais e que, em geral, se relacionam com a necessidade de amor dos seres humanos. A doutrina budista da iluminação não é, afinal de contas, um frio sistema de metafísica, como parece a alguns. O amor também entra na experiência da iluminação como um de seus componentes, pois, de outro modo, ela não poderia abranger a totalidade da existência. A iluminação não significa fugir do mundo, e sentar-se de pernas cruzadas no alto da montanha, baixando-se os olhos, calmamente, para a massa humana condenada. Tem mais lágrimas do que se imagina.(Daisetz Suzuki, Mística: cristã e budista)


Toda cadeia discursiva de conceitos, toda ordem de razões acaba sempre por se enraizar em um proposição primeira. Esta proposição original não pode ser de mesma natureza que o sistema, pois se assim fosse, toda enunciação remeteria sempre a uma enunciação anterior, e assim ao infinito. Mas se não se remonta alé da evidência última, se a evidência parece se dar por si mesma, não é ela seu fundamento? Como a ausência de fundo conceitual pode se tornar o fundamento ele mesmo? É então que a iluminação toma seu verdadeiro sentido. A iluminação, o clarão de verdade, não é o brilho misterioso de um reino irracional. Ela não vem ao sujeito de um mundo de trás que a natureza ocultaria, como uma decoração oculta os bastidores e o real. Segundo Sohravardi, ela é o ato do Intelecto Agente depositando na alma a assistência que lhe é necessária par alcançar o verdadeiro. ( Christian Jambet: La logique des orientaux )


A iluminação da alma ou do olhar espiritual pelo Espírito é inseparável da santificação

Ela é análoga ao clareamento do ar e do olho pelo sol:

O Paracleto, “como um sol se amparando de um olho muito puro, te mostrará nele mesmo a Imagem do invisível. E na bem venturosa contemplação da Imagem, verá a indicível beleza do Arquétipo… É ele que brilhando naqueles que se purificaram de toda sujeira, os torna espirituais pela comunhão com ele (pros eauto koinoni). Como os corpos límpidos e transparentes, quando um raio do atingem se tornam, eles também, cintilantes e deles mesmos refletem um outro brilho, também as almas que portam o Espírito, se tornam espirituais também e remetem nas outras graças. (Basílio o Grande, De Spiritu Sancto)

O vocabulário de luz não concerne mais aqui a relação intra-trinitária entre luz verdadeira (phos alethinon) do Verbo e o poder iluminador (dynamis photistike) do Espírito, mas a relação de graça entre o Espírito e as “almas iluminadas pelo Espírito”. O Espírito é análogo a “raio” (aktis) que torna os corpos “límpidos” (lampra) e “transparentes” (diaphane), cintilantes (perilampe) e refletindo uma “outra claridade radiante” (auge), pois esta irradiação não é a sua, mas aquela do “raio solar1 através de sua própria limpeza.

Nesta passagem, a iluminação é dita «ellampsis», mas numa passagem paralela, a iluminação do Espírito é dita «photismos». Estes dois termos «ellampsis» e «photismos» têm todos os dois uma significação batismal pois a contemplação ou a adoração do Pai no Filho, ou pelo Filho no Espírito, é o fruto da graça batismal que é dada “ao nome do Pai e do Filho e do Espírito”, segundo Mateus 28,19:

Assim como se vê o Pai “no” Filho, assim se vê o Filho “no” Espírito. Adorar “no” Espírito quereria logo dizer que nossa atividade mental se desenrolaria na luz, como se pode deduzi-lo do que foi dito à Samaritana… Assim com se fala de uma adoração “no” Filho como em uma Imagem de Deus o Pai, assim se fala de uma adoração “no” Espírito, como naquele que mostra nele mesmo a deidade do Senhor. Eis porque, na adoração, o Espírito Santo é inseparável do Pai e do Filho. Fora dele com efeito não se adora de modo algum, mas se neles se está, não se separa de Deus de modo algum: ainda mais, na verdade, que não se separa a luz do que se vê. Deste fato, é impossível ver a Imagem de Deus invisível, senão no clareamento do Espírito. E aquele que fixa os olhos sobre a Imagem é incapaz dela separar a luz pois o que causa a visão é necessariamente visto com o que se vê. Assim, a bem dizer, a conclusão se impõe: pela iluminação do Espírito discerne-se a irradiação (apaugasma) da glória de Deus, pela impressão se é levado para aquele a quem pertence a impressão (karakter) e o selo da mesma forma (isotypos sphragis)2.
( Ysabel de Andia: Mystiques d’Orient et d’occident )


Sin embargo, lo verdaderamente nocivo no es el «conocimiento» en si. La calidad de éste depende de los objetos sobre los que se ejerce. Cuando se refrena su habitual tendencia a buscar fuera objetos externos y se vuelve hacia el interior, el «conocimiento» se transforma en la forma suprema de la intuición: la «iluminación» (ming).

Quien conoce a los demás ( o sea los objetos externos ) es un hombre «perspicaz». Pero quien se conoce a sí mismo es un hombre «iluminado».

Cabe señalar que acabamos de ver la misma palabra, ming (iluminación), que hemos encontrado en el Zhuangzi. También resulta significativo el hecho de que, en el texto citado, la «iluminación» esté directamente relacionada con el conocimiento de uno mismo. Se refiere claramente al conocimiento inmediato e intuitivo de la Vía. Se describe como «auto-conocimiento» del hombre porque éste sólo puede captar intuitivamente la Vía a través de la «introspección». (Toshihiko Izutsu – Sufismo e Taoismo)
Citações dos Padres

  1. Basílio o Grande, De Spiritu Sancto: “a imagem de um raio solar cuja graça, presente nele que dela usufrui como se fosse o único a usufruir, brilha sobre a terra e sobre o mar e se mistura ao ar”.[]
  2. Basílio o Grande, De Spiritu Sancto. «karakter» e «sphragis» são ainda dois termos da teologia batismal como «photismos».[]