PHILOKALIA-TERMOS — NOESIS = INTELECÇÃO, ENTENDIMENTO, PENSAR
Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento — Coenen & Brown
O verbo noeo de Homero em diante originalmente significava “perceber com entendimento”, e incluía as impressões dos sentidos e da mente. Na filosofia de Parmênides, o pensamento e o ser ficam sendo quase idênticos. Um tema que tem significância para o pensamento grego é “homoion homoio noeitai”, “o semelhante é conhecido pelo seu igual”. A divindade é conhecida a si mesma.
No AT (LXX) noeo interpreta, juntamente com syniemi e ginosko, as várias formas do hebreu bin, “observar”, “notar”, “entender”, ou o hebreu sakal, “entender”. O órgão típico do entendimento no AT é o coração.
No NT noeo significa “perceber”, “reconhecer” num sentido religioso, com especial referência a Deus, aos Seus atos e à Sua vontade. A justaposição de noeo e kardia mostra que noeo é uma atividade do coração, um reconhecimento espiritual (Jo 12,40). O invisível é percebido, mas não numa visão mística: pelo contrário, a expressão visível é excogitada, num tipo de reflexão que leva da criação para o Criador. O invisível é encarado como algo que se reconhece. A expressão “quem lê, entenda” (Mt 24,15), conclama o leitor a entender corretamente o texto, empregando noeo no sentido de entendimento do plano divino de salvação.
Versão Inglesa
Não é conceito abstrato ou imagem visual, mas o ato ou função do intelecto (nous) pelo qual este apreende as realidades espirituais de maneira direta.
Nicetas Stethatos
Assim como no corpo existem cinco sentidos — visão, audição, paladar, olfato e tato — também na alma existem cinco sentidos: intelecto (nous), razão (dianoia), percepção noética (phantasia), conhecimento intuitivo (gnosis) e percepção cognitiva (aisthesis). Estes estão unidos em três atividades psíquicas: intelecção, raciocínio e percepção noética. Por meio da intelecção apreendemos as intenções espirituais, por meio do raciocínio interpretamo-las, e através da percepção noética apreendemos imagens de insight divino e conhecimento espiritual (gnosis). Da Prática das Virtudes (Philokalia-en)
Elias Ekdikos
Como Maximo o Confessor faz uma clara distinção entre “pensamento” ao nível discursivo e racional, e “intelecção”, compreendida como apreensão não-discursiva da verdade espiritual (Antologia — Parte III — Philokalia-en):
1. O homem de conhecimento espiritual (gnosis) deve reconhecer quando o intelecto está no reino da intelecção, quando está no do pensamento (dianoia) e quando está no percepção-sensorial (aisthesis). Em em cada caso deve reconhecer se lá está na hora certa ou errada.
2. Quando o intelecto não está no reino da intelecção, está geralmente no do pensamento. E quando está no reino do pensamento, não está no da intelecção. Mas quando está no reino da percepção-sensorial, está associado de todos os modos com as coisas visíveis e materiais.
3. Por meio da intelecção o intelecto (nous) alcança as realidades espirituais; através do pensamento a razão apreende o que é racional. A percepção-sensorial está envolvida com realidades práticas e materiais por meio da fantasia (phantasia).
4. Quando o intelecto está concentrado em si, não contempla nem objetos da percepção-sensorial nem aqueles da faculdade racional; ao contrário, contempla intelectos puros e raios da luz divina fluindo com paz e alegria.
5.A intelecção de um objeto é uma coisa, a apreensão racional deste objeto é outra, e o objeto percebido é uma terceira. A primeira constitui a essência, a segunda é um atributo da essência e a terceira compreende a matéria subjetiva distintiva.
21. O homem de conhecimento espiritual (gnosis) é aquele que desce do reino da intelecção para aquele da percepção-sensorial de maneira sublime e que ascende sua alma ao céu com humildade (tapeinophrosyne).
Allard l’Olivier: L’ILLUMINATION DU COEUR
A intelecção é a operação pela qual, enquanto agente (em ato), o intelecto detecta e abstrai a inteligibilidade contida em potência na imagem, de sorte tal que, fecundado pela determinações inteligíveis assim abstraídas, o mesmo intelecto, mas desta vez enquanto possível (em potência) se atualiza produzindo um conceito verbal que exprime esta inteligibilidade. Estes dois aspectos do intelecto não são contraditórios, poisnão é sob a mesma relação que o intelecto é, de um lado, agente, e de outro, possível: em ato, opera a extração das determinações inteligíveis, o que quer dizer que faz que o objeto, então reduzido ao estado de imagem (espécie impressa) esteja em seguida presente na inteligência por sua espécie inteligível (não é a espécie inteligível do objeto que está na inteligência, mas o objeto ele mesmo por sua espécie inteligível); em potência, ele recebe a espécie inteligível desprendida pelo inteleto agente e, fecundada por ela, passa ao ato em produzindo um conceito mental que exprime (espécie expressa) a inteligibilidade que recebeu. E é necessário que produza um conceito mental — outro, desta vez, que o objeto; pois, na ausência desta atividade, a inteligência não seria senão uma placa onde os inteligíveis viriam se imprimir: ela seria desprovida desta vida ativa de que é animada a vida judicativa e discursiva que tem precisamente por raiz a apreensão dos conceitos, a qual é completa na medida onde inclui a ação produtiva que acaba de ser questão. Assim, o intelecto possível passa ao ato; e na medida onde se torna ativo, toma o nome de intelecto adquirido (intellectus adeptus).
Filosofia
Platonismo: VOCABULÁRIO DE PLATÃO; TRADIÇÃO FILOSÓFICA GREGA
Martin Heidegger: NOESIS