Segundo Willis Barnstone, THE RESTORED NEW TESTAMENT, Flavius Josephus e outros descrevem os fariseus como a principal seita judaica crendo na ressurreição dos mortos. Os saduceus não são assim crédulos, negando a vida após a morte. Considerando a formação de Paulo e seu treinamento teológico, como fonte das epístolas ele era um fariseu capacitado como rabino por Gamaliel, neto do famoso rabi Hilel. Uma vez fariseu, o rabi Paulo seguia aqueles que acreditavam na vinda da era messiânica divina. Ele absorveu a noção platônica da imortalidade da alma que os fariseus adotavam.Diferentemente da casta dos sacerdotes saduceus presos a letra da lei, os fariseus seguiram a tradição oral de interpretação livre da Torá. Como os fariseus e Jesus dos evangelhos, Paulo liberalmente abandonou as regras do Sabbath, dos jejuns e da circuncisão dos gentios convertidos. Como recompensa final dos pobres, “Paulo do amor” prometia a ressurreição após a morte. Os fariseus, eles mesmos pobres, eram escribas e sábios dos pobres, em oposição aos saduceus, que eram o rico clã aristocrata dos sacerdotes do templo asmoneano favorecendo o Rei Herodes apontado por Roma. Os fariseus opunham-se ao Templo estrangeiro dominador e estabeleceram suas próprias pequenas sinagogas em oposição.
Willis Barnstone sugere que as cartas de Paulo teriam rejeitado o retrato posterior que apresentava Jesus demonizando os irmãos fariseus como arrogante “geração de víboras” que punham a letra da lei acima do espírito humano, como os ricos hipócritas do Templo em liga com o diabo e colaborando com o inimigo Roma. Paulo sabia, como qualquer um bem informado de seu tempo, que os saduceus, não os fariseus, eram sustentados por Roma e controlavam o Templo com a benção de Herodes. De fato, os fariseus, os Prushim, como seu nome indica eram “os de fora” não guardando semelhanças com sua caricatura maligna nos evangelhos, que revertem o papel dos fariseus e saduceus. A versão caricaturada dos fariseus como “hipócritas” persiste no dicionário ainda hoje. Então como entender este personagem assim figurado tão falsamente nos evangelhos?
Mestre Eckhart: Eckhart – Sermão 7
Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 39
Antonio Orbe: Parábolas Evangélicas em São Irineu
Orbe em seu estudo sobre Parábolas Evangélicas em São Irineu, na análise da parábola do Fariseu e Publicano apresenta considerações de Irineu de Lião sobre os “fariseus”. Primeiramente, o termo no plural é muitas vezes associado aos saduceus, e mais frequentemente com os escribas, como sinônimo de chefes (aqueles que presidem o povo). Referência àquela ou àquelas partes que dominam nossa alma, conduzindo-a, determinando sua atitude e comportamento, resumindo nossa “personalidade”.
Algumas vezes Irineu intercambia “fariseu” com “judeus”, como tipo representativo do povo hebreu, e com os escribas. Entendido o povo hebreu como aquelas partes “escolhidas por Deus” (destinadas?) a se desenvolver na vida, mas que se atém à lei e não ao seu espírito.
Em singular ou em plural, Orbe lembra que jamais figura o termo “pharisaeus” com sentido benévolo; como algumas vezes o termo “escriba”. A citação de Mat 23:1-7ss confirma.
Segundo Orbe, refere-se assim a gente insidiosa, hipócrita, amiga de justiças externas, raça de víboras, “fermento” de corrupção, cega ao mandamento de Deus, fundadores de uma lei contrária à divina.
Hipócritas, encobriam, como sepulcros caiados, a podridão escondida em seu interior. Entretanto, diante de Deus, que entendia o mal interno.