Corpo Etéreo

CORPOS SUPERIORES — CORPO ETÉREO

VIDE: CORPOS SUTIS; CORPO DE RESSURREIÇÃO; CORPO LUMINOSO; CORPO PARADISÍACO; CORPO; CARNE

PERENIALISTAS
Leo Schaya:
Voltando ao estado primordial do homem, aquele do Paraíso terrestre corresponde, acabamos de ver, em um grau existencial que se interpõe, no itinerário tanto pré-terrestre quanto póstumo da alma humana, como uma “estação” ou um intermundo entre o céu e nossa terra, intermundo que ela deve atravessar inevitavelmente. Vimos igualmente que o ser humano se envelopa da substância respectiva dos mundos que percorre, entre outras, por conseguinte, da substância edênica e etérea, que é o intermediário entre a substância celeste, sutil e “fluida” da alma e da matéria grosseira, opaca ou “sólida” do corpo terrestre. Este intermediário é o princípio substancial mesmo do corpo carnal, sua quintessência incorruptível comportando, ao estado perfeitamente homogêneo, as essências dos quatro elementos sensoriais que o compõem e nos quais ele se decompõe no momento da morte. Se o corpo terrestre é corruptível, seu protótipo paradisíaco e interior é portanto imperecível, e não basta, falando estritamente, para definir a constituição do ser humano, de distinguir simplesmente entre “corpo”, “alma” e “espírito”, — pelo menos assim é para o homem atual se situando no estado de queda —; convém discernir mais precisamente entre o “corpo grosseiro” ou caído e o “corpo etéreo”, prototípico e paradisíaco, que é necessariamente inerente ao primeiro, não somente enquanto sua quintessência inalterável, na qual seus elementos acabam por se reabsorver para reencontrar sua perfeição primordial, mas também enquanto mediador permanente entre ele — este corpo de matéria opaca e obscura — e a alma, cuja substância é sutil e celeste e cuja natureza é essencialmente espiritual. Mas há uma diferença fundamental entre a existência embrionária-passiva e o estado atualizado do corpo interior, que retoma “forma” e força eficiente na medida de sua realização espiritual pelo homem. Este corpo “cristalino”, ao mesmo tempo “coagulado” e “translucido”, prefigura por sua deiformidade e sua estabilidade o corpo carnal ao qual transmite a luz do alto mas que, face à pureza e à perfeição de seu protótipo, que permanece na sombra. Por vezes, no entanto, esta transmissão da luz espiritual é tão forte em certos homens de Deus que seu corpo carnal é transfigurado. Seu corpo interior se encontra então como exteriorizado, e sua perfeição transparece através de seu envelope mortal à ponto que a luz espiritual dela se irradia e se torna visível a outro, assim como a Bíblia relata para Moisés descendo da montanha do Sinai, dotado das Tábuas da Lei: “… a pele de sua face tinha se tornado brilhante enquanto falava com YHWH. Arão e todos os filhos de Israel viram Moisés, e eis, a pele de sua face brilhava” (Ex XXXIV, 29,33). Do mesmo modo, Jesus tendo conduzido os apóstolos Pedro, Tiago Maior e João sobre o monte Tabor, “foi transfigurado diante deles; sua face brilha como o sol, e suas vestes se tornaram brancas como a luz” (Transfiguração).
A existência do corpo etéreo é atestada também por outras tradições do Oriente e do Ocidente, ao mesmo tempo que a realidade do intermundo paradisíaco correspondendo a este corpo primordial e perfeito. Encontra-se aí em presença de um dado tradicional unânime que, à maneira de seu conteúdo, é de natureza primordial: ela trata do homem terrestre enquanto precede sua queda e, portanto, todo particularismo racial, étnico ou religioso — enquanto é simplesmente homem verdadeiro e perfeito, o homem original e espiritual, o homem paradisíaco que é também o “Homem Novo”, quer dizer o homem que, depois da queda, se renovou espiritualmente, até ser “nascido de novo” de Deus. O homem que “nasce de Deus” “viu Deus”: recebeu “no alto” Sua alma própria e universal que, em seguida, é veiculada neste baixo mundo pelo “corpo espiritual”, etéreo e imperecível, por esta “carne alada da alma” que permite a esta se elevar sempre de novo para o céu e, abandonando no termo de sua existência terrestre tudo o que é criado, se reabsorver em sua Essência suprema e divina.

A restauração interior do estado primordial, que precede esta realização da Unidade suprema, se opera portanto, em princípio, a partir do estado de Queda, senão depois da morte do corpo decaído. Trata-se para o homem de se unir ao fundo dele mesmo, como através de seu próximo e de todas as coisas, à Imanência ou Presença de Deus, a fim de reencontrar por Ela sua Identidade eterna com a Transcendência. Do ponto de vista escatológico, a restauração do estado paradisíaco e a União suprema, acabamos de dizer, são correlativas da morte terrestre do homem ou do fim deste mundo e da ressurreição dos corpos, esta sendo seguida, para os “eleitos”, da entrada no novo paraíso terrestre ou, em termos judeo-cristãos, na “Nova Jerusalém”. Ora, quer se trate da realização atual e puramente interior do estado primordial e espiritual ou de sua recuperação póstuma — que será portanto dada quando da ressurreição dos mortos e definitiva para os “eleitos” — o corpo futuro e glorioso será o mesmo corpo etéreo que já se oculta em nós, mas que será passado do estado virtual a sua plena atualização. Sua substância incorruptível terá reabsorvido completamente os quatro elementos grosseiros dos quais é composto nosso envelope perecível, e é assim que se verificará a palavra do Paulo Apóstolo: “Semeado na corrupção, o corpo ressuscita incorruptível”.

Com efeito, a tradição cristã prolonga a doutrina judaica do corpo etéreo, idêntico ao “Corpo de Ressurreição” — entendido, seja no sentido de sua realização imediata, seja no sentido escatológico —. Ela compartilha esta doutrina, dissemos, com outras tradições onde o corpo etéreo é em princípio considerado como o “corpo de aparição” dos espíritos, à maneira daquele dos Anjos do monoteísmo semita; da mesma maneira, elas o consideram como o Corpo Luminoso de homens viventes e cujo esplendor se exterioriza por vezes — como assim foi para Moisés e Jesus — a ponto de se tornar visível. É neste corpo que Enoque, Elias e Jesus subiram vivos ao céu, e que tem a mesma forma que o Corpo de Carne, mas difere deste por sua perfeição primordial e sua substância incorruptível; no cristianismo, os doutores da Igreja, tais como Orígenes, Tertuliano, Lactancio e Agostinho de Hipona, fazem alusão a este corpo interior.