CORPO — ROSTO — BOCA
VIDE: ROSTO; DENTES; SALIVA; LÍNGUA
EVANGELHO DE JESUS: O QUE SAI DA BOCA
Cabala Cristã
Annick de Souzenelle: O SIMBOLISMO DO CORPO HUMANO
Atapetada de vermelho (língua), a boca se abrindo sobre último palácio (palato), tem seu nome do latim buca, cuja etimologia é a mesma que as palavras francesas bucle (anel) e bouclier (escudo).
O dragão das profundezas que guarda o NOME é celebrado por sua terrível mandíbula. E todos os guardiões da passagem herdam dele sua função de monstros devoradores. Aquele que destrava as mandíbulas do Leviatã nas profundezas, e que abre a goela do monstro, se torna Verbo.
Enquanto goela, a boca é « liberação », conquista da última pele e da última liberdade que é a realização do Verbo. Identificada ao feminino, a boca é Isha que selava em suas profundezas, e revela agora — o segredo do NOME; e com ele, Basar, a « carne » totalmente entregue a seu Esposo divino, e Basorah, esta « boa nova » que clama a língua tornada Logos.
Charbonneau-Lassay: BESTIÁRIO DO CRISTO
No conjunto da boca humana, os lábios são os guardiões da entrada, pois impedem ou liberam o sopro como a palavra. Agindo de acordo com a língua e as cordas vocais, são eles que dão ao verbo sua forma, sua nitidez, sua beleza, seu poder de ação. São eles que, no beijo real, celam as palavras de amor e de fidelidade, lhes dando assim sua suprema consagração; e, quando eles traem, entende-se como um eco de Gethsemani: Beijo de Judas.
Em muitas passagens a Escritura celebra os lábios puros. Davi quer que YHWH ele mesmo lhes abra a fim de cantar dignamente seus Salmos; e é aos lábios dos pequeninos inocentes que atribui o privilégio da salmodia perfeita. As iluminuras dos quinze primeiros séculos cristãos, nos bizantinos e nos orientais sobretudo, reproduziram muitas vezes a cena onde o Serafim de YHWH pousa sobre os lábios do profeta Isaías um dos carvões ardentes do altar, e lhe diz: Veja, teus lábios estão purificados e tua iniquidade não mais está sobre ti (Is VI, 6-8).
E é o Verbo divino, se exprimindo pelos lábios humanos, que nossos anciões honraram quando denominaram Crisóstomo, « boca de ouro », ao santo bispo de Constantinopla, João Crisóstomo, que viveu no século IV; e Crisólogo, « palavra de ouro », São Pedro, arcebispo de Ravena, um século depois.