Hans Jonas — Religião Gnóstica
O Conteúdo da Chamada
O que é que a chamada vem comunicar aos homens? Seu conteúdo é determinado por sua meta de “despertar”, cuja simples denominação pode às vezes ser toda a mensagem ele mesma, e quase sempre é a parte de abertura dela. A chamada como tal é seu conteúdo, pois simplesmente afirma o que seu ser soado efetivará: o despertar do sono. Este despertar é constantemente designado como a essência de sua missão seja pelo mensageiro ele mesmo ou por aqueles enviados por ele.
De acordo com isso, o primeiro efeito da chamada é sempre descrito como “despertar”, como nas versões gnósticas da estória de Adão. Frequentemente a exortação meramente formal “Desperte do sono”, com elaboração metafísica e em diferentes fraseados, constitui o único conteúdo da chamada gnóstica à salvação. Entretanto, este imperativo formal implicitamente inclui a armação especulativa dentro da qual as ideias de sono, embriaguez, e acordar assumem seus sentidos específicos; e como regra a chamada faz esta armação explícita como parte de seu próprio conteúdo, ou seja, conecta o comando para despertar como os seguintes elementos doutrinais: a lembrança da origem celestial e a história transcendente do homem; a promessa de redenção, à qual também pertence o relato do redentor de sua própria missão e descida neste mundo; e finalmente a instrução prática de como viver doravante no mundo, em conformidade com o conhecimento novamente conquistado e em preparação para eventual ascensão. Estes três elementos contêm em poucas palavras o mito gnóstico completo, de modo que a chamada gnóstica de despertar é um tipo de abreviação da doutrina gnóstica em geral. A gnosis transmitida por esta mensagem e comprimida nela em alguns termos simbólicos é o mito cosmogônico-soteriológico total dentro de cuja narrativa o evento desta mensagem ele mesma constitui uma fase, de fato o ponto de mutação no qual o movimento total é revertido. Este “conhecimento” compendioso de todo teorético tem seu complemento prático no conhecimento do “caminho” justo para liberação do cativeiro do mundo. Nas numerosas versões literárias da chamada, um ou outro destes aspectos pode preponderar ou ser expresso exclusivamente: a lembrança da origem, a promessa de salvação, a instrução moral.