EVANGELHO DE TOMÉ — Logion 52=>LOGION 53<=Logion 54
Seus discípulos lhe disseram: a circuncisão é útil ou não? Ele lhes disse: se fosse útil, seu Pai os engendraria circuncisos de sua mãe. Mas a circuncisão verdadeira em espírito tem sido útil por inteiro. (Roberto Pla) EVANGELHO DE JESUS:
Roberto Pla Há dois modos de circuncisão prescritos por Deus como selo da aliança: a circuncisão da carne (externa, manifesta) e a do coração (interior, oculta). Ambos os modos foram descritos pela Lei e pelos profetas, e incluso Jeremias falou dos incircuncisos de coração e de ouvido que não podem entender, e proporcionou com isto um elemento de valorização gnoseológica das formas de circuncisão.
O logion é mais radical, pois a circuncisão na carne, como rito cultual, “não é útil” (gr. ophelei, opheleo = utilidade, ajuda, socorro, proveito, benefício, apoio), e somente é verdadeira a circuncisão em espírito. Em tudo isto coincide o apóstolo, o qual fala aos romanos da “verdadeira circuncisão segundo o espírito e não segundo a letra e raciocina que quando Abraão recebeu o sinal de circuncisão como selo (gr. sphragis), já havia mostrado “a justiça da fé que possuía sendo incircunciso” (na carne) (Rom 4,11). Daí que Paulo dissera que a circuncisão, em verdade, “é útil se cumpres a lei” (Rom 2,25).
O que o logion denomina “a circuncisão verdadeira em espírito” é sem dúvida um lavado ou purificação dos conteúdos da alma, e o rito da circuncisão da carne o prefigura como selo da aliança ou união verdadeira que é dada pelo regime da fé. Este selo é o que torna possível a percepção da presença (parusia) do Filho do homem, e como consequência permite ao homem circunciso de “olhos e coração” alcançar o fim proposto pela lei divina: a justiça e a santidade.
Neste sentido de regime da fé no qual pode se dizer que a circuncisão é um sinal que tem no AT a mesma significação purificadora que possui o selo do batismo na Boa Nova. Ao rito cultual da fé, o segue o sacramento da fé, que permanece em mero rito também se, em ambos casos, ao braço estendido e espectante de Deus, não o sucede a justiça da fé, como porta da santidade.
Não deixa de anotar Lucas em seu evangelho a cerimônia de João e de Jesus ao cumprir-se os oito dias do pequenino, o qual se faz em ambos os casos em ato simultâneo ao da imposição do nome de significação divina dado pelo anjo (Lc 1,59; 2,21).
O Caminho de João, era “o da lâmpada que arde e ilumina” para dar testemunho da luz e o Caminho de Jesus — feito Caminho em si mesmo — começa quando a lâmpada não tem mais testemunho de si que suas obra, pois é a luz que arde sem pavio nem combustível, como corresponde ao “enviado” do Pai do qual “ninguém viu nunca seu rosto”. Mas ambos caminhos são um só, o Caminho do homem que o leva desde seus primeiros passos no mundo até a redenção final, quer dizer, até o cumprimento da aliança com o Pai.
Para a aliança final, a circuncisão verdadeira é útil, proveitosa, como é útil, proveitoso, o batismo verdadeiro em espírito. Quando ambas formas são externas e se reduzem a ser ritos cultuais, isentos de utilidade, proveito. O que importa e o que se explica em um sentido oculto em um caso e em outro, é a renovação, a vida nova que só é possível quando da plenitude de fé “em um coração purificado de consciência má” (Hb 10,22).