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EVANGELHO DE TOMÉ - LOGION 21

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Maria disse a Jesus: Teus discípulos, a que se assemelham?

Ele disse: Se assemelham a uns pequeninos instalados em um campo que não é deles. Quando venham os amos do campo, dirão: deixem-nos nosso campo. Eles estão desnudos ante sua presença de modo que o deixam e os dão seu campo. Por isto digo: se o dono da casa sabe que o ladrão vai vir, vigiará antes que venha e não o deixará perfurar um buraco na casa de seu reino de modo que levem seus negócios. Vós, vigiais frente ao mundo, cinjais vossos rins com grande força para que os ladrões não encontrem o caminho para chegar até vós, pois o necessário com que contais, o encontrarão. Possa haver em meio de vós mesmos um homem prudente! Quando o fruto está maduro, vem em seguida com sua foice na mão e o colhe. O que tenha ouvidos para ouvir, que ouça. Roberto Pla EVANGELHO DE JESUS: João Batista; Mt 11,16-19; Lc 7,31-35; 2Cor 5,2-3

Hermenêutica

Roberto Pla

Este logion consiste em um confluir de várias metáforas a interpretar uma a uma para chegar a seu sentido direto. O conteúdo completo, por outra parte, não é muito difícil de entender uma vez se tenha adestrado devidamente os ouvidos para ouvir.

A expressão "crianças pequeninas" ou "pequeninos" se usa para descrever metaforicamente o grau de conhecimento verdadeiro alcançado pelos discípulos naquele momento. Neles se realizou por um ato de fé a revelação interior do Filho do homem, evento religioso verdadeiro e excepcional que se reputa como um segundo nascimento, vindo do Alto (v. Nascer do Alto), pela transformação total “em direção ao divino” que suscita na consciência. Este nascimento é nos discípulos muito recente, pelo qual são ainda muito inexperientes quanto ao governo do reino e são contados entre os “inocentes”, vítimas fáceis dos reis do mundo e como “menores de dois anos”, quer dizer, são contados entre aqueles cuja “medida” do fruto obtido é de “trinta”, a menor, segundo a escala centuple divulgada pela parábola do semeador.

O “campo” do logion, é o reino de Deus, do qual os pequeninos ainda não tomaram firme posse, estabilizada, pois depende das oscilações de sua psique, próprias da falta de maturidade. Por isso se diz dos discípulos que estão desnudos, quer dizer, que ainda "não se revestiram de poder, nem das armas da luz" (Lc 24,49), nem tampouco do "branco linho puro" com que se revestem os exércitos do céu, para que o ser mortal seja revestido de imortalidade e não permaneças como acessível ao temor da morte, tal como parece ter ocorrido a esse discípulo jovem que Marcos descreve, o qual “deixando o lenços”, que o revestia de fé na imortalidade, correu nu. (vide Veículo da Alma; Lc 24,49; Rom 13,12; Ap 19,14; 1Cor 15,53

No entanto, está dito que “o Dia do Senhor há de vir como um ladrão na noite” (Mc 14,52). O autor do Apocalipse recorda isto a todos os termos paralelos aos do logion: “Venho como ladrão. Ditoso o que esteja velando e conserve suas vestimentas para não andar nu” (Ap 16,15).

Isso foi claramente manifestado, graças ao qual todo o dono de casa, todo habitante (consciência, alma) do santuário de seu Deus, sabe que o ladrão, que não é outro que o Filho do Homem, há de vir apossar-se de seu reino de uma maneira definitiva. Em vida ou na morte este é o sinal final de toda estrutura humana. Ao dizer que o Filho do Homem “vem como um ladrão” se explica que pode chegar na noite escura da alma e, de fato, o Dia sempre chega em seguida ao desvanecer a noite, a qual é privação de luz para a alma, obscuridade na que é fácil não reconhecer o que chega.

A atitude que recomenda Jesus em todas as ocasiões aos que esperam esta vinda (parousia) é “vigiar” (nepsis), o que supõe a exigência de um estado de alerta permanente, sem desfalecimentos, para manter-se sempre “nas armas da luz”. O estado de alerta, não há que esquecê-lo, é aquela contemplação interior, sobrevinda pela conversão ou metanoia que explicou Jesus nos começos da predicação da Boa Nova e que constitui o fundamento indispensável de todo viver religioso.

A exclamação de Jesus com a qual se encerra o logion, expressa a ânsia do mestre de que todos os homens encontrem e realizem ao Filho do homem como em um incêndio interior propiciado pela chama da espada vibrante. A tocha acesa para tal fogo a encomenda Jesus ao homem “prudente”, “advertido”, que em nós habita. Podeis mantê-lo sempre — diz Jesus — vigilante, alerta, no centro (psíquico, vital) de vós mesmos! Ele é o fruto que quando está maduro poderá ser coletado; ele é o fruto e também o lavrador que com sua foice na mão, o colhe.

Porque um é o tempo de semear e outro o de colher, mas um só e mesmo são o que planta e o que sega, o lavrador e a videira verdadeira que sustenta o fruto maduro até o Dia do Senhor.