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EVANGELHO DE TOMÉ - LOGION 11

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Jesus disse: o céu passará e o que está sobre ele passará e os que estão mortos não viverão e os viventes não morrerão. Nos dias que comerdes o que está morto, os convertereis em viventes. Quando estiverdes na luz, que fareis? No tempo em que ereis um, haveis engendrado dois e agora, quando sois dois, que fareis? Roberto Pla EVANGELHO DE JESUS: Mt 24,35; Mc 13,31; Lc 21,33; Mt 5,18; Lc 16,17; 1Cor 7,31; 1Jo 2,17

Hermenêutica

Roberto Pla A transitoriedade do céu e da terra está bem atestada nos escritos testamentários. Os três evangelistas sinóticos coincidem em incluir a perícope na que Jesus diz que "o céu e a terra passarão", e anteriormente o profeta Isaías já havia explicado com esse voo poético seu, não isento de precisão: "Os céus como fumaça se dissiparão, a terra como um vestido se gastará". O céu é figura, com efeito, do mundo sutil: nuvens em seu sentido objetivo e conteúdos mentais no subjetivo, prontos em ambos os casos a dissipar-se como fumaça; quanto à terra é um revestimento ou cobertura externa do mundo e do homem, vítima inexorável da erosão temporal. No fato de passar consiste sua condição própria de coisa criada. Como é sabido, a atividade criadora de Deus se empregou unicamente nisto: no firmamento, chamado céus (no dia segundo) e na terra (no dia terceiro), além de todo o aparato de ambas as criações (v. outra interpretação, na qual a "criação" de Deus se resume a mente do homem, capaz de "fazer" tudo mais que lhe cerca: Segundo Dia e Terceiro Dia).

O apóstolo Pedro explica que os céus e a terra presentes estão reservados para o fogo. Seguramente se refere a este fogo do conhecimento que Jesus veio trazer ao mundo (quer dizer, aos céus e à terra que constituem o mundo) e por cuja ação devoradora de inspiração divina, no dia do Senhor, que chegará como um ladrão, os céus sutis se dissiparão e os elementos terrenos, abrasados, ficarão consumidos (2Pe 3,5-10).

VIDE CÉU E TERRA; ÁGUAS

A frase do logion que diz: e o que está sobre ele, passará, pode ser interpretada de duas maneiras. Segundo a primeira destas, se adverte que tudo aquilo que pertence ao mundo celeste, tal como o Adão psíquico feito do pó cósmico, é mortal, tão mortal como o terreno, o Adão hílico que reveste e protege o outro. A segunda maneira de ler a frase do logion implica em recordar que no Gênesis, Segundo Dia, se fala de um firmamento separando as águas.

O que diz em definitivo o logion é que não somente é transitório o céu mas também o céu dos céus. Daí que a revelação interior do Filho do homem, que sim é eterno, se diz que virá sobre as nuvens do céu, expressão com o que se significa que tal contemplação ou revelação não será possível sem atravessar antes a névoa ou nuvem do enigma sobre a qual cavalga a luz pura do Filho do homem. Por outro lado, se afirma que a residência do Filho do homem se acha ainda mais alta que a nuvem do céu dos céus, quer dizer na esfera do Ser, donde a Vida é eterna e não há de passar.

VIDE: MORRER E VIVER

Jean-Yves Leloup

  • Tudo passa — os mundos materiais como os mundos celestes. Tudo que é composto será decomposto, o que é mortal só pode morrer.
  • Por esta lembrança incessante Jesus nos convida a buscar aquilo que não passa, aquilo que é verdadeiramente vivente, e não pode morrer: o Incriado que não sendo composto não será decompostos.
  • Razão pela qual uma das tarefas do gnóstico é de comer o que é mortal para dele fazer o vivente, assimilar o que não tem vida em si (nosso corpo, o mundo, a matéria) para dele fazer o lugar mesmo da manifestação do Ser.
  • "Tudo é puro para aquele que é puro", é como afirma Henri-Charles Puech, uma das funções do gnóstico: liberar as parcelas de luminosidade contidas nos alimentos: a luz absorve a escuridão — a vida deve também, integrar a morte.