Hans Jonas — Religião Gnóstica
“Além de”, “Sem”, “Este Mundo” e “O Outro Mundo”
A este conceito central outros termos e imagens estão organicamente relacionados. Se a “Vida” é originalmente estrangeira, então sua morada é “fora” ou “além” deste mundo. “Além” aqui significa além de tudo que é do cosmos, céu e estrelas inclusive. E “inclusive” literalmente: a ideia de um absoluto “sem” limitar o mundo a um sistema fechado e cercado, terrífico em sua vastidão e inclusão para aqueles que nele estão perdidos, no entanto finito dentro do escopo total de ser. É um sistema de poder, uma entidade demoníaca cheia de tendências pessoais e forças compulsivas. A limitação pela ideia de “além” priva o “mundo” de sua afirmação de totalidade. Enquanto “mundo” significa “o Todo”, a soma total da realidade, há apenas “o” mundo, e maiores explicações são sem sentido: se o cosmos deixa de ser o Todo, se é limitado por algo radicalmente “outro”, no entanto real, então deve ser designado como “este” mundo. Todas as relações da existência terrestre do homem estão “neste mundo”, “deste mundo”, que está em contraste com “o outro mundo”, a morada de “Vida”. Visto de além, entretanto, e aos olhos dos habitantes dos mundos de Luz e Vida, é nosso mundo que aparece como “aquele mundo”. O pronome “aquele” assim se torna uma adição relevante ao termo “mundo”; e a combinação é novamente um símbolo linguístico fundamental do Gnosticismo, muito relacionado com o conceito primário do “Estrangeiro”.