Paul Nothomb — O SEGUNDO RELATO
Gen 3,23 E Deus o remeteu do jardim do Éden para «cultivar» a adama, da qual tinha sido tomado.
A «Queda» implica, vimos, o retorno à adama, ao não-lugar do ««adama» genérico, de onde Deus o arrancou em o Criando mas onde o Homem agora quer ao menos ensaiar de «viver». Com pena, Deus lhe anunciou, em «se contendo» dia após dia que ela lhe dará «espinhos e sarças». A adama não é a terra nutritiva, como se diz às vezes, nem mesmo o solo ingrato. Como seu nome derivado de «adam» o indica, ela é ao mesmo tempo que o não-lugar imaginário de um «adam» genérico que jamais existiu, o fantasma regressivo de «haadam» que aí vê sua emanação, sua pseudo-criação, uma sub-realidade mais constritora, logo mais repousante que a Realidade edênica, muito livre, muito imensa da Criação divina. Uma pseudo-criação que, contrariamente à verdadeira, exigirá dele cuidados constantes, porque ela é artificial. Ele deverá a «cultivar». Mas não no sentido utilitário ou eficaz cujo entendimento nossas bíblias, no sentido de melhorar, de entreter, de pôr em valor até mesmo de explorar como cultivadores. O verbo ‘BD (pronunciado «avad») aqui empregado o é como em Gen 2,5 (e não como em Gen 2,15) com a partícula ‘T do complemento direto que por toda parte na Bíblia lhe dá a significação de «servir» e de «dar um culto», conquanto se trate de um soberano ou de uma divindade. Os exilados servirão a adama como um mestre, e eles lhe renderão também um culto. Pois se a adama não é a terra-mãe, ela será para eles, certamente, a terra-cemitério da condição humana. Bem antes de aí edificar civilizações onde ela se auto-idolatrará, a humanidade aí praticará o culto dos mortos, tão louvado, que a distinguirá das espécies animais, assim parece, quando não se tornará simplesmente o culto da morte. É a este culto mórbido que Deus, que não quer para ele nenhum culto, remete sua Criatura decepcionante, de quem respeita a liberdade.