Segundo Relato: Gn 2,4 – quando Deus fez uma realidade…

Chouraqui

[(4 Voilà les enfantements des ciels et de la terre en leur création, au jour de faire IHVH-Adonaï Elohîms terre et ciels.)]

Nothomb

[(Gen 2,4 Eis como se produziu a degenerescência da Realidade, em favor da liberdade de sua Criação.)]

«Eis as origens dos céus e da terra quando foram criados» traduz Louis Segond. Mas a palavra hebraica TWLDWT («toledot») formada sobre a raiz YLD quer dizer «descendência, posteridade, geração» noções associadas à Queda e não à origem, pelo menos no que concerne o Homem Criado fora das espécies. A expressão totalizante «os céus e a terra» significa, no meu entendimento, como em Gen 1,1 e Gen 2,1 «a Realidade» da origem. O hebreu «BHBR’M» é o infinitivo passivo do verbo BR’ (criar) precedido da preposição B instrumental e seguido do sufixo pronominal que ao invés de «quando foram criados» deve ser traduzido, me parece, como o proponho aqui. Em relação à Realidade, esta relembrança de sua Criação é uma relembrança de sua dimensão de liberdade que permitiu ao Homem negá-la e de provocar sua «geração» quer dizer no contexto sua degenerescência.

PRÓLOGO

[(Quando Deus teve a intenção de fazer uma «realidade».)]

«Quando Deus fez uma terra e céus» traduz Segond. Mas em hebreu o verbo está no infinitivo precedido da preposição B, um pouco como em Gen 1,1 com o verbo «Criar» e não «fazer» como aqui (B é seguido em Gen 1,1 de «princípio» e aqui de «dia» mas a indicação sintática é a mesma). Nos dois casos a ação do verbo não é dada como cumprida mas incipiente ou projetada.

A expressão que Segond traduz por «uma terra e céus» reproduz na ordem inversa e sem determinação aquela da frase precedente que traduzo por «a Realidade». Esta sugere uma «realidade» mais vaga e ao inverso, correspondendo bastante ao caráter geral do verbo «fazer» em oposição à especificidade de «Criar».

LXX

(2:4) αυτη η βιβλος γενεσεως ουρανου και γης οτε εγενετο η ημερα εποιησεν ο θεος τον ουρανον και την γην

Vulgata

(2:4) istae generationes caeli et terrae quando creatae sunt in die quo fecit Dominus Deus caelum et terram

Fílon

1. (Gênesis 2:4) Por que, quando ele (Moisés) considera e reflete sobre a criação do mundo, diz: “Este é o livro da criação dos céus e da terra, quando surgiram”?

A expressão “quando surgiram”, que é indeterminada e incircunscrita, aparentemente indica tempo. E essa evidência confunde aqueles que consideram que se trata de um certo número de anos, somados em um único período, durante o qual o cosmos viria a existir. Mas a expressão “este é o livro do surgimento” tem a intenção de indicar um suposto livro que contém a criação do mundo e uma insinuação da verdade sobre a criação do mundo. [LOEB]


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