LINGUAGEM — FALA — DITO — ORDEM — MANDAMENTO
VIDE: LOGOS, VERBO; PALAVRA; MANDAMENTO; POEMA; LOGIA; TRADIÇÃO ORAL
CABALA
[wiki base=”fr”]Armand Abecassis[/wiki]
Segundo Armand Abecassis (citado por Jacques Bonnet), as raízes hebraicas DBR e AMR são empregadas para “falar”, mas a tradição judaica distingue as “dez palavras”, maamarot, dos “dez mandamentos”, devarim. DBR, é o rigor, aquele da Lei. Rachi diz que cada vez que a palavra devarim é empregada, uma repreensão é evocada. Ao contrário, o vaiomer, o “Deus disse” do início do Gênesis, é o amor. Para DBR há um interlocutor, que está ausente em AMR. Deus criou o mundo por amor. Ora é AMR que figura no segundo versículo do Eclesiastes: Amar Qohelet, “diz Qohelet”. (Études Traditionnelles 485, 1984)
FILOSOFIA
Georg Kühlewind: FALA
Arcângelo Buzzi
O falar não-filosófico, o comum, o quotidiano, diz sempre que o ser é isto ou aquilo. É alegre, triste, bom, mau, azul, inferno, céu, jovem, velho. Falar assim não é filosofar. Mas há um filosofar nesse falar. Não é filosofar se o espírito em assim falando pára no definido do enunciado. É filosofar, se o espírito, aí no definido da fala, surpreende uma profundidade que se esquiva. Aquela profundidade está no modo definido da fala como que evaporada para a inteligência, habituada a representar o que se diz em conceitos, modelos e sistemas. Por isso, porque a filosofia é um falar do que se esquiva ao modelo representativo, para a modernidade, ela se ocupa do nada, i. é, de uma profundidade que a inteligência científica não logra representar e controlar. Para o espírito, porém, aquela profundidade é o ser, é o extraordinário de toda fala.
Quando o pensamento se propõe pensar o ser resvala necessariamente para um modo de ser. Se atende bem ao que faz, percebe que no ato de pensar o ser já se distancia do ser, já o representa. O ser de que fala não é mais o originário, mas o representado. É então um ser e não mais o ser, é apenas um ente percebido como estando no ser. O ser representado persegue o ser originário, busca identificar-se com ele. Essa perseguição se faz em linhas assintóticas: o ser falado e o ser originário jamais se identificam.