Face de Deus

FACE DE DEUS — FACE DE CRISTO

VIDE: FACES GRANDE PEQUENA; ANJO DA FACE; SANTA FACE; PROSOPON, OLHO DO CORAÇÃO

EVANGELHO DE JESUS: DAR A OUTRA FACE

PERENIALISTAS
Ananda Coomaraswamy: A FACE OBSCURA DA AURORA

Jean Canteins: MYSTÉRES ET SYMBOLES CHRISTIQUES
Considerando as provações de Moisés demandando a Deus o favor de ver sua face (Ex. XXXIII,20), sabe-se que o profeta não foi atendido, só conseguindo ver Deus de costas, quando Ele já tendo passado, se afastava (Seguir Deus). Gregório de Nissa (Vida de Moisés), extrapolando ao caso de Moisés a palavra do Cristo,: «Se alguém quer vir atrás de/junto a mim… que me siga», interpreta a experiência do profeta hebreu como uma injunção a «seguir Deus». Certamente, já é muito mas isso não acontece sem bloquear toda possibilidade no que concerne a representação de YHWH: Gregório de Nissa não deixa de lembrar em quais termos dissuasivos Aquele conclui a primeira parte da entrevista com Moisés: «… nenhum homem verá Minha face e viverá». Se, portanto, para o homem do AT, não se poderia ver a face de Deus sem morrer, pode-se dizer inversamente que, para aquele do NT, não se poderia viver sem O ver — estando entendido que não se poderia O ver sem O adorar. A reviravolta das crenças e comportamentos, a este respeito, quando se passa de um mundo a outro, se explica evidentemente pela intervenção do dogma da Encarnação. «Outrossim (entendamos, no quadro do AT), escreve João Damasceno, Deus, sem corpo nem forma, não era representável em absoluto, mas hoje (naquele do NT), que Deus apareceu na carne e viveu entre os homens (na pessoa de Jesus Cristo), represento o que é visível em Deus».

André Allard l’Olivier: L’ILLUMINATION DU COEUR

Há duas «faces» a considerar: a Face de Deus que se mira no espelho que lhe estende a mente e que ilumina existencialmente esta mente, e a face da mente, o intelecto agente, que é este espelho. Estas duas faces são distintas uma da outra (pois o criado não é o Incriado) e, ao mesmo tempo, em razão da unidade de Ruysbroeck da alma mental e de Deus, uma só e mesma realidade, chamada «Olho do Coração». Importa ter solidamente juntos estes dois aspectos e de distinguir as faces ao mesmo tempo proclamando sua unidade — mas não sua identidade; pois então os dois aspectos seriam contraditórios e não poderiam ser propostos juntos. Não se deve portanto nem separar estes dois aspectos por uma distinção radical, nem os identificar, o que teria por efeito confundir o intelecto agente criado com o Intelecto divino. Pois o que, na alma da criatura é, como disse Mestre Eckhart, incriado e incriável, não é o intelecto agente, mas Deus, no centro da alma.

A disjunção radical das duas faces é praticamente admitida por toda espiritualidade preocupada, antes de tudo, de evitar a confusão panteísta do criado e do incriado; mas ela nega a unidade da qual fala Ruysbroeck; ela consuma a «separação» da criatura fazendo de Deus um «existente» (um «ente», um «ens», um «on») a sua imagem. Ora, «todas as criaturas são ligadas a esta unidade divina, escreve Ruysbroeck, e se, sob esta relação, elas se separassem de Deus, elas cairiam em nada e se tornariam nada». Quanto a identificação radical, ela chega a confundir absolutamente o intelecto agente criatural e o Intelecto divino, o que vem a destruir a criatura como mente. O homem é inconcebível sem o intelecto agente. Sem o intelecto agente, o homem é desprovido de mente; desprovido de mente, ele é desprovido de razão e desprovido de razão, ele nada mais é que um animal. Mas o homem não possui uma inteligência agente criada senão na medida que é indestrutivelmente unido a Deus.

Roberto Pla: Evangelho de Tomé – Logion 2
Para contemplar a face, face a face, é indispensável conhecer de um modo perfeito, coisa que é inacessível ao homem de abaixo, pois tal Conhecimento perfeito não pode obter o homem sem passar antes pela morte, tal como é dito em: Mt 10:39;Mc 8:34-35; Lc 9:23-24. Tudo isto quer dizer que ó em seguida a esta paixão e morte em Cristo é possível levantar a luz do justo ao nível da consciência pura: Salmo 11:7; Salmo 17:15

A imagem é tua face, tu mesmo individualmente enquanto filho da luz e seu reflexo fiel — contemples e tua face conheça o que está diante de ti; algo inexpressável, indicado apenas como “o que é” (Ex 3:14), o Ser, o único Ser, com exclusão de qualquer outro e a cuja luz todo o oculto é revelado. Jesus Cristo, sumido no Pai, disse Jesus Eu Sou e todos retrocederam e caíram em terra (João 18:4-6).