Evangelho de Tomé – Logion 113


Pla

Seus discípulos lhe disseram: O Reino, que dia virá? Jesus disse: Não virá com uma espera. Não se dirá: Já está aqui, ou já está ali, mas o Reino do Pai está espalhado sobre a terra e os homens não o veem.

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Puech

113. Ses disciples lui dirent : Le Royaume, quel jour viendra-t-il? < Jésus dit > : Il ne viendra pas avec une attente. On ne dira pas : Voici qu’il est ici, ou : Voici qu’il est là; mais le Royaume du Père est répandu sur la terre et les hommes ne le voient pas.

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Suarez

1 Ses disciples lui dirent : 2 le Royaume, quel jour viendra-t-il ? 3 Il ne provient pas d’une attente. 4 On ne dira pas : 5 voici il est ici ! 6 ou voilà il est là ! 7 Mais le royaume du Père s’étend sur la terre 8 et les hommes ne le voient pas.

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Meyer

113 (1) His disciples said to him, “When will the kingdom come?” (2) “It will not come by watching for it. (3) It will not be said, [Or “They will not say.”] ‘Look, here it is,’ or ‘Look, there it is.’ (4) Rather, the Father’s kingdom is spread out upon the earth, and people do not see it.” [Cf. Mark 13:21–23; Matthew 24:23–25, 26–27 (Q); Luke 17:20–22, 23–24 (Q); [Gospel of Thomas 3:1–3->breve6404]; Gospel of Mary 8.]

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Canônicos

Sendo Jesus interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, respondeu-lhes: O reino de Deus não vem com aparência exterior; nem dirão: Ei-lo aqui! ou: Ei-lo ali! pois o reino de Deus está dentro de vós. (Lc 17,20-21)


E estando ele sentado no Monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos em particular, dizendo: Declara-nos quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo. Respondeu-lhes Jesus: Acautelai-vos, que ninguém vos engane. (Mt 24,3-4)


Se, pois, alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! ou: Ei-lo aí! não acrediteis; (Mt 24,23)


Dize-nos, quando sucederão essas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem para se cumprir? (Mc 13,4 e seq)


Respondeu-lhes João: Eu batizo em água; no meio de vós está um a quem vós não conheceis. (Jo 1,26)



Roberto Pla

A expectativa da [->Vinda] a explica o logion em sua justa vertente oculta, profunda. O Reino é infinito e eterno, e não pode vir, senão por des-encobrimento, porque já é/está; não pode chegar, porque não há lugar não ocupado por ele desde antes do começo dos tempos. Dizer do Reino, do Filho do homem, o qual é o Reino, que vem ou que não chegou é uma figura de linguagem, como dizer que o Sol se levanta ou se põe.

O espírito do homem “é” do Reino de Deus, e o que denominamos a Vinda do Reino a nós, a Vinda que a cristandade espera, é em verdade a abertura da consciência à luz do Filho do homem, essa Luz que é conhecimento e vida, e que em essência somos sempre ainda que sem sabê-lo. No terceiro evangelho se explica isto muito bem: “O Reino de Deus vem sem se deixar sentir. E não dirão: veja-o aqui ou lá, porque o Reino de Deus está entre nós” (Lc 17, 20-21).

A salvação do homem, significada pela Vinda, pela manifestação do Reino de Deus na alma, é um acontecimento decisivo na vida de cada homem, mas é um ato íntimo, pessoal, não intercambiável, que tem que ver com o silêncio absoluto da alma e com a redenção do espírito; sem relação com as catástrofes cósmicas ou com o fim do mundo, menos ainda com a destruição do templo, ainda que este seja o de Jerusalém.

No entanto, os relatos dos sinópticos e com eles de toda a tradição eclesial, entenderam, segundo o parecer “manifesto”, que existe uma dependência mútua entre coisas tão díspares e heterogêneas como são o [->des-encobrimento] de Deus na alma e a dissolução do mundo por efeito de um fogo celeste.

Se pode dizer que o discurso escatológico relatado no capítulo 13 de Marcos, e com poucas variantes, no capítulo 24 de Mateus, parece querer conjugar, por razões não compreensíveis, as místicas bodas da alma com a caída dos astros e as estrelas, e com uma espécie de loucura coletiva dos seres humanos, convertidos de improviso muitos deles em loucos assassinos e trânsfugas.

É certo que para achar o Ser de Deus é necessário que todo homem se ofereça em holocausto e consinta no sacrifício de seu próprio ser, do si mesmo psíquico; mas tal como se conta do ancião Abraão, quando não se negam a mão nem a faca para amolação aí está, bem próxima, a bem-aventurança. O sacrifício do homem não sempre é a morte; o que necessita em todos os casos é a transformação e esta, já se sabe, vem pela negação da alma com a cruz sobre os ombros.

É a transformação do homem o que traz a liberdade ao espírito cativo, essa liberdade para todos que foi o fim perseguido por Jesus ao proclamar a Boa Nova. A explicação do que há de fazer e não fazer para culminar nessa transformação que é liberdade e consumação, forma o corpo doutrinal do Evangelho, o qual é sempre um ensinamento; mas o capítulo da Vinda, o relato da descida do Espírito na consciência do homem, não pretende ser uma parênese senão até tudo uma descrição geral dos acontecimentos próprios de uma teofania.

Os evangelistas Marcos e Mateus não foram, seguramente, uma exceção em experimentar a condição inapreensível do acontecimento que tentavam descrever, e no capítulo da Vinda do Filho do Homem seguiram a norma de seus antecessores Moisés, Elias, Ezequiel, Daniel e carregaram as tintas hermenêuticas do lado da vertente oculta.

Por tudo isso não deve surpreender que os exegetas modernos da vertente manifesta encontrem normalmente diáfanos e claros os textos que estudam. No entanto, quando eles tropeçam em um texto e os parece notoriamente obscuro, tal como ocorre com o capítulo 13 de Marcos e o 24 de Mateus, é porque sua exegese só é possível desde a vertente oculta, a ciência hermenêutica que eles não praticam.

Essa ciência é por sua vez o fundamento deste nosso escrito. Como a descrição da [Vinda do Filho do Homem->vinda] é de uma importância singular porque é uma tentativa de descrever, embora por via oculta, a Paixão e a ressurreição de todo homem que aspira a lograr seu fim, seu telos, no mundo, haverá de submeter este relato a um trabalho exegético algo minucioso.

Para este trabalho tomaremos como base o capítulo 13 de Marcos, construído por seu autor como um todo, sem prejuízo de consignar quando faça falta, as variantes dadas por Mateus 24 e pelo curto fragmento de Lucas 21, sempre que ditas variantes aportam algum signo novo de interesse.

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Suarez

Voici encore un logion qui est l’écho d’un langage de sourds. On ne peut pas à chaque fois le rappeler, mais il convient de rapprocher ce texte du [log. 3->breve6404].

Pour les disciples, le Royaume viendra dans un grand déchaînement cosmique et des signes annonciateurs apparaîtront dans le ciel.

L’aventure du Royaume, pour Jésus, est intérieure; toutes les paraboles, pour peu qu’on sache les lire, lorsqu’elles n’ont pas été déformées, en témoignent d’une façon irrécusable. On se rend compte que le Royaume est sur la terre quand on le possède en soi. La même vérité première — mais si difficile à comprendre — est annoncée au [log. 3->breve6404]. Jésus a soin de dire et de répéter qu’il n’est pas dans tel ou tel lieu, mais qu’il s’étend sur la terre et que les hommes ne le voient pas.

Le texte correspondant de Lc reproduit assez fidèlement les paroles de Jésus. Seulement il est inséré dans un tel contexte apocalyptique qu’on se demande comment il a pu parvenir dans cet état de conservation jusqu’à nous.

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Gillabert

-* O Reino não é redutível ao espaço-tempo, ele aí está mesmo não visto.
-* Cruel cegueira esperar um Reino, um Reino coletivo, um Reino a vir, e que aí está…


Ce que Jésus appelle le Royaume, ce que certains maîtres appellent la nature propre, ou l’état sans pensée, ou encore la vision du cœur ou vision dans le vide, etc., le vieux Tcheng l’appelle l’esprit originel. Après avoir dit que l’esprit originel n’est rien et ne dépend en rien de ce qui varie et meurt, le vieux maître ajoute : l’esprit originel a toujours été présent sous vos yeux. Vous n’avez rien à acquérir pour le voir car rien ne vous a jamais manqué pour cela. Si vous en êtes incapables c’est à cause de votre incessante jacasserie avec vous-même et avec les autres. Comme tout se tient et concorde admirablement avec l’Évangile : Le royaume du Père s’étend sur la terre et les hommes ne le voient pas. (log 113)


L’aventure gnostique ne s’inscrit dans un contexte spatio-temporel que pour une salutaire prise de conscience de son caractère aliénant. Jésus est le Maître incontesté de cette prise de conscience. Il s’inscrit en faux contre une forme de salut à venir en affirmant que le Royaume est déjà là mais que les hommes ne le voient point (log. 3 ; 31 ; 113). Les miracles du Christ sont passés pratiquement sous silence ; il n’est pas fait mention des résurrections opérées par le Christ et sa propre résurrection est comprise dans le sens d’éveil. [Jésus et la Gnose]


Dès lors le salut dans le devenir, personnel ou collectif, perd tout son sens ; l’attente des fins dernières liée au retour du Messie devient un rêve de mégalomane entretenu par les fantasmes prophétiques. Du reste, chaque fois que les disciples parlent de cette espérance, Jésus leur reproche de chercher dans le futur ce qui est déjà là (log. 4, 18, 37, 51, 52, 113, etc.). [Le procès de Jésus]

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Puech

-* Em Lucas o Reino em (dentro dos) os homens (entos humon)
-* Vide [Logion 3->breve6404] -* O sentido de “interioridade” do Reino é enfatizado pelos gnósticos
-* No Evangelho de Maria, onde o Salvador diz a seus discípulos: “Cuidado para que não vos induzam em erro com as palavras: “Vejam aqui” ou “Vejam aí”. Pois o Filho do homem está no interior de vós”.
-* Este logion 113 dá, diferentemente dos canônicos uma ênfase na ubiquidade do Reino: O Reino esta espalhado…
-* O Reino está aí, em toda parte, e ao mesmo tempo, sempre aí, universalmente e constantemente presente ao nosso redor, no meio de nós, em nós, “no mundo e nos homens”, como afirmado no “mesos humon” de João (1,26, citado acima), como confirma Heracleon, citado por Orígenes (Comentários sobre João).
-* Vide [Logion 51->art10273]


…l’expression : « le Royaume du Père » (log. 57, 76, 96, 97, 98, 113 ), employée par Jésus concurremment avec « Royaume » tout court et plus fréquemment que « Royaume des cieux », et dont l’équivalent est ailleurs, en particulier dans les versets synoptiques parallèles, « le Royaume de Dieu ».

Evangelho de Tomé