Evagrio Logia-Philokalia

EVÁGRIO — CAPÍTULOS SOBRE A ORAÇÃO

Este tratado “Da Oração”, atribuído a Nilo pela tradição grega, deve ser restituído a Evágrio, como Hausherr demonstrou de maneira decisiva. Este tratado constitui uma das obras notáveis de Evágrio, aí se encontram elementos diversos de seu ensinamento místico.

1. Se se quer preparar o perfume de bom odor, se porá junto igualmente, conforme à lei, o incenso diáfano, a canela, o ônix e a mirra. É o quaternário das virtudes. Se elas estão inteiras e iguais, a inteligência não será traída.

2. A purificação da alma pela plenitude das virtudes torna a atitude da inteligência inabalável e apta a receber o estado procurado.

3. A oração é uma conversação da inteligência com Deus: que estado não lhe é, portanto, necessário para assim se tender sem retorno, ir a seu Senhor e conversar com ele sem qualquer intermediário?

4. Moisés, quando quis aproximar-se da sarça ardente, foi disto impedido até que tivesse tirado seus calçados: como tu que pretendes ver Aquele que ultrapassa todo pensamento e todo sentimento, não te separas de todo pensamento apaixonado?

5. Ore então para obter o dom das lágrimas a fim de atenuar pela compunção a dureza inerente à tua alma e, nisto confessando contra ti tua iniquidade ao Senhor, obter dele teu perdão.

6. Use lágrimas para ter sucesso em todas as tuas demandas, pois teu Senhor está muito contente de ti quando oras em lágrimas.

7. Quando versas fontes de lágrimas em tua oração, não te eleves em ti mesmo, como se estivesses acima da maior parte de teus semelhantes: é simplesmente que tua oração obteve um socorro para que possas com ardor confessar teus pecados e apaziguar o Senhor por tuas lágrimas. Não transforme em paixão o antídoto das paixões, se não queres irritar muito o doador da graça.

8. Muitos daqueles que choram sobre seus pecados, esquecendo a meta das lágrimas, forma tomados de loucura e se perderam.

9. Mantém-te bravamente e ora energicamente; afasta as preocupações e as reflexões que se apresentam, pois elas te perturbam e te agitam para enervar teu vigor.

10. Os demônios te vêem cheio de ardor pela verdadeira prece? Eles te sugerem ao pensamento certas coisas que te representam como necessárias. Em seguida, não tardam a exasperar a lembrança que aí se apega, levando a inteligência a buscá-las. A inteligência não as encontra e ela se entristece vivamente e se aflige. Vindo o tempo da prece, eles lhe repõem então na memória os objetos de suas procuras e lembranças a fim de que enfraquecida por estas associações a memória perca a prece frutuosa.

11. Esforça-te por manter teu intelecto, durante a prece, surdo e mudo: assim poderás orar.

SEGUE: §§ 14-28; §§ 31-44; §§ 50-61; §§ 66-85; §§ 87-153;