Eu Sou

DEUS — ALMA — SOU ESTE SOU

VIDE: ipsum esse; eu; atman; ahamkara; ego; tat tvam asi; natureza-própria

Ananda Coomaraswamy

Sería una antinomia aplicarme a mí mismo — a este hombre, Fulano — o a cualquier otro hombre entre otros las palabras, «Eso eres tú», o pensar de mí mismo, le moi, en los términos del «Yo» de estos versos de Swâmi Nirbhyânanda: «Yo soy el pájaro cogido en la red de la ilusión, Yo soy el que inclina la cabeza Y el Uno ante quien él se inclina: Solo Yo existo, no hay ni buscador ni buscado Cuando al fin realicé la Unidad, entonces conocí lo que había sido desconocido, Que Yo había estado siempre en unión con-Tigo». [Ananda Coomaraswamy: Coomaraswamy Metafisica, Coomaraswamy Transmigrante]

”André

Joaquim Carreira das Neves

A expressão EU SOU (ego eimi) é típica do Jesus joanico. Trata-se duma expressão de revelação em que o sujeito — Jesus — se autoproclama como AQUELE QUE É, referindo-se a ele mesmo, sem predicado, ou com predicado: “Eu sou o pão da vida” (6, 35. 48); “Eu sou o pão que desceu do céu” (6,41); 6,51: “Eu sou o pão vivo”; 8,12. “Eu sou a luz do mundo”; 8, 23: “Eu sou do Alto”; 8, 24 “…De fato, se não crerdes que Eu sou o que sou, morrereis nos vossos pecados”; 8, 28: “Então ficareis a saber que Eu sou o que sou…”; 10,7: “Eu sou a porta das ovelhas”; 10, 1 l: “Eu sou o bom pastor”; 10,30: “Eu e o Pai somos um”; 11, 25: “Eu sou a ressurreição e a vida”; 14, 6: “Eu sou o caminho e a verdade e a vida”; 15, l: “Eu sou a videira verdadeira”; 18, 5, 6.8: “Sou Eu”.

No AT é o próprio Deus (YHWH) que se manifesta como o EU SOU. A expressão de Ex 3, 14 significa EU SOU O QUE SOU. Na tradução dos LXX (ego eimi ho ôn) significa EU SOU AQUELE QUE É. A tradução grega sublinha a essência do ser de Deus ou a sua natureza única: Deus é.

Em João, o EU SOU na boca de Jesus revela também o seu ser e natureza divinas. Jesus não diz EU SOU YHWH, mas revela o seu ser divino. E bem elucidativa a declaração de 8,24: “De fato, se não crerdes que EU SOU O QUE SOU, morrereis nos vossos pecados.” Jesus tem a vida em si mesmo (5, 26), como tem o poder de “oferecer a sua vida e de a retomar” (10,17-18). Tem o poder de dar a vida escatológica aos que guardam a sua palavra (8, 51: “Em verdade, em verdade vos digo: se alguém observar a minha palavra, nunca morrerá”, 17, 2: “… a fim de que dê a vida eterna a todos os que lhe entregaste”). E sintomática a afirmação de 8, 58: “Antes que Abraão fosse, Eu sou”. O presente do indicativo significa que a essência do ser de Jesus é o próprio SER. O contraste entre o verbo genesthai (vir à existência), aplicado a Abraão, e o presente do indicativo de eimi, aplicado a Jesus, já diz tudo. E é interessante a maneira como os judeus reagem a esta afirmação: “Então, agarraram em pedras para lhe atirarem.” Significa que Jesus tinha proferido uma blasfêmia, e que, por isso mesmo, devia morrer. O predicado VIDA ETERNA, que Jesus, juntamente com o Pai, oferece e dá a quem nele acredita, só pode significar o seu poder divino: 3,16.36; 4,14.53; 5, 21-26,6, 33.35.44.51-58.68; 8,12; 10,10.17-18; 11,25; 14,6; 17,2-3. Ora, segundo a ortodoxia judaica, só Deus é eterno e só ele pode dar a vida eterna; logo, a ação de Jesus, confundindo-se com a do próprio Deus, seria, naturalmente, para os judeus, uma blasfêmia. [Joaquim Carreira das Neves: Escritos de São João]

Daisetz Suzuki

Quando Hui-chung perguntou ao seu visitante o que ele sabia sobre o Zen-budismo do sul, este contou: “Há, atualmente, muitos mestres zen no sul e, de acordo com eles, existe em cada um de nós a natureza de Buda; e é essa natureza que nos faz ouvir, ver e pensar. Quando movemos as pernas ou as mãos, é a natureza que o faz em nós, e o faz consciente desses movimentos. O corpo está sujeito ao nascimento e à morte, mas a natureza escapa de ambos como uma serpente muda de pele ou um homem de casa.” A este relato feito pelo homem chegado do sul, Hui-chung acrescentou: “Também conheço essa espécie de professores de Budismo, pois encontrei muitos deles no tempo em que andei peregrinando. São como os filósofos hereges da Índia, que criaram a hipóstase de uma alma. Isso é realmente deplorável. Pois adulteram o T’an-ching e fazem toda espécie de alterações de acordo com suas próprias ideias, contrariando o ensino de seu Reverendo Mestre. Daí resulta a destruição do princípio que nós, os verdadeiros seguidores do Mestre, sustentamos…”

O T’an-ching parece ter sofrido muito nas mãos de sucessivos compiladores, e mesmo a cópia mais antiga pode não ser o relato muito exato dos sermões de sofia:Hui-neng. Mas não há dúvida de que mesmo a cópia corrente do T’an-ching contém muito do ponto de vista característico de Hui-neng, especialmente sua doutrina sobre o Prajna, distinta do ponto de vista dos seus antecessores e contemporâneos.

A concepção de uma substância da alma não é uma interpretação errônea de Hui-neng, tão sutil quanto a do mero nada. Podemos dizer que esses dois conceitos, Prajna e natureza-própria, são as duas grandes armadilhas nas quais a maioria dos seguidores do Zen e, na verdade, a maioria dos budistas podem cair. Os estudantes do Zen precisam cuidar para não cometerem tais erros. O que os leva à armadilha é a tentativa de substituir a experiência genuína do Zen por uma compreensão intelectual ou conceituai da experiência. Esse procedimento errôneo é a fonte de todos os erros graves.

Farei ainda outras citações dos anais do Zen segundo Hui-neng, a fim de ilustrar a facilidade com que nos desviamos da compreensão da relação entre natureza-própria e Prajna, Corpo e Uso, Inconsciente e consciência, Vazio e mundo do devir, Inatingível e atingível, Nirvana e o reino do nascimento e morte, não-discriminação e lógica, estado-de-não e pluralidade, etc.

No que se segue, mostra-se o esforço dos mestres empenhados em conseguir que seus discípulos experimentem algo que está ao mesmo tempo além das dualidades e nelas contido — tal como nos exemplos acima. Fundamentalmente, a experiência zen consiste em ver interiormente o trabalho do Prajna, de onde surge o nosso mundo de contradições. [Doutrina Zen da Não-Mente]