COSMOLOGIA — EIXO — EIXO VERTICAL — EIXO DO MUNDO
René Guénon: «Dictionnaire de René Guénon»
O Eixo do Mundo (skambha) simboliza a passagem vertical entre o plano terrestre e o plano celeste, situado no Centro do Universo, ao mesmo tempo raio do círculo e raio do Sol, pois sempre considerado como portador de luz (Lúcifer), Platão o descrevendo mesmo como “Eixo luminoso de diamante”, o que, escreve Guénon, não é sem fazer lembrar um dos aspectos do Vajra tibetano, este tendo o sentido de “raio” e igualmente de “diamante”. Na mesma ordem de ideia, a escada de Jacó é também identificada ao Eixo do Mundo, lugar de passagem entre a Terra e o Céu (Céu e Terra).
É a notar, que a Cruz, frequentemente representada entre o Sol e a Lua nas antigas figurações medievais, é uma imagem bastante evidente do Eixo do Mundo, Guénon chega mesmo a precisar, que esta identificação da Cruz com o Eixo do Mundo, se encontra expressamente enunciada na divisa da Ordem dos Cartuchos: “Stat Crux dum volvitur orbis”; o símbolo do “globo do Mundo”, mostrando uma cruz sobrepondo-se ao polo terrestre, e sendo a princípio uma cativante e muito significativa identificação com o “Eixo do Mundo”, assim como uma recordação alquímica surpreendente do hieróglifo da Terra e o emblema do poder imperial.
Quanto aos símbolos podendo ser identificados com o Eixo do Mundo, e afim de ser o mais completo possível, conviria assinalar igualmente além da Árvore, a Escada e a Cruz que já se falou, a “Montanha Polar” que ocupa uma lugar totalmente especial no seio das figurações simbólicas do Eixo. Se destaca que a ciência dos símbolos nos indica que a Lança, como o Cálice, que figuram em lugar importante nos elementos fundamentais da Lenda do Graal, são comparáveis à “Montanha Polar”.
*Símbolos da ciência sagrada”
**LII, “A árvore e o vajra”
**LIV, “O simbolismo da escada”
*Esoterismo de Dante
**VIII, “Os ciclos cósmicos”
*Simbolismo da cruz
**IX, “A árvore do meio”
Grão de mostarda
Existe ainda, na parábola do grão de mostarda, um ponto que exige explicação no que se refere ao que acaba de ser dito:1 a semente, ao se desenvolver, torna-se uma árvore, e sabemos que a árvore é, em todas as tradições, um dos principais símbolos do “Eixo do Mundo”.Le Symbolisme de la Croix)), cap. IX. Essa significação ajusta-se aqui perfeitamente: a semente é o centro; a árvore que dela sai é o eixo, proveniente desse centro, e, através de todos os mundos, ela estende seus ramos, sobre os quais vêm pousar as “aves do céu” que, como em certos textos hindus, representam os estados superiores do ser. Esse eixo invariável, de fato, é o “suporte divino” de toda existência; ele é, como ensinam as doutrinas extremo-orientais, a direção segundo a qual se exerce a “Atividade do Céu”, o lugar da manifestação da “Vontade do Céu”.2 Não seria essa uma das razões pelas quais, no Pater, logo após o pedido “Venha o teu reino” (trata-se na verdade do “Reino de Deus”), suceda-se este outro: “Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu”, expressão da união “axial” de todos os mundos entre si e ao Princípio divino, da plena realização daquela harmonia total à qual nos referimos e que só pode ser alcançada se todos os seres acordarem suas aspirações segundo uma única direção, qual seja, a do próprio eixo?3 “Que todos sejam um”, diz Cristo, “assim como tu, meu Pai, estás em mim e eu em ti, também eles sejam um em nós… Que sejam um como nós somos um, eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade.” (João, 17,21-23) Essa perfeita união é o verdadeiro advento do “Reino dos Céus” que vem de dentro e desabrocha para fora, na plenitude da ordem universal, acabamento de toda manifestação e restauração da integridade do “estado primordial”. É a vinda da “Jerusalém Celeste no fim dos tempos”:4 “Eis o tabernáculo de Deus com os homens: Ele habitará com eles, e eles serão o seu povo; e o próprio Deus estará com eles como seu Deus.5 E lhes enxugará toda lágrima de seus olhos, e a morte não mais existirá…”6 “Nunca mais haverá qualquer maldição. Nela estará o trono de Deus e do Cordeiro; seus servos o servirão, contemplarão a sua face e nas suas frontes estará o nome dele.7 Não haverá mais noite,8 e não mais terão necessidade, nem da luz de lâmpada nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles e reinarão por todos os séculos.9
- Podemos ainda assinalar que o “campo” (kshêtra) é, na terminologia hindu, a designação simbólica do domínio no qual se desenvolvem as possibilidades de um ser.[↩]
- Le Symbolisme de la Croix, cap. XXIII. Empregaríamos aqui, de bom-grado, a expressão “lugar metafísico”, por analogia com o “lugar geométrico”, que oferece um símbolo tão exato quanto possível do que estamos tratando.[↩]
- Cabe observar que a palavra “concórdia” significa literalmente “união dos corações” (cum-cordia); nesse caso, o coração é utilizado para representar principalmente a vontade.[↩]
- Para vincular essa expressão mais estreitamente ao que acabamos de dizer sobre o simbolismo da árvore, lembraríamos ainda que a “Árvore da Vida”, está colocada no centro da “Jerusalém Celeste” (cf. O Rei do Mundo, cap. XI, e Le Symbolisme de la Croix, cap. IX).[↩]
- Poderíamos naturalmente nos reportar aqui ao que foi dito mais acima a respeito da Shekinah e de Emmanuel.[↩]
- Apocalipse, 21, 34. A “Jerusalém Celeste”, enquanto “Centro do Mundo”, identifica-se de fato à “morada da imortalidade” (cf. O Rei do Mundo, cap. VII).[↩]
- É possível ver nisso uma referência ao “terceiro olho”, com a forma de um iod, tal como explicamos em nosso estudo (Cap. 72) sobre O Olho que tudo vê: uma vez restabelecidos no “estado primordial”, eles possuirão de fato, por isso mesmo, o “sentido da eternidade”.[↩]
- Naturalmente a noite está aqui entendida no seu sentido inferior, em que é assimilada ao caos; evidentemente a perfeição do “cosmo” é o oposto do caos (poderíamos dizer que é o outro extremo da manifestação), de modo que tal perfeição pode ser considerada como um “Dia” perpétuo.[↩]
- Apocalipse, 22, 3-5. Cf. também ibid., 21, 23: “A cidade não precisa nem de sol, nem de lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a ilumina, e o Cordeiro é a sua lâmpada.” A “glória de Deus” é ainda uma designação da Shekinah, cuja manifestação, de fato, é sempre representada como “Luz” (cf. O Rei do Mundo, cap. III).[↩]