DIAS DO FILHO DO HOMEM
Então disse aos discípulos: Dias virão em que desejareis ver um dos dias do Filho do homem, e não o vereis. Dir-vos-ão: Ei-lo ali! ou: Ei-lo aqui! não vades, nem os sigais; pois, assim como o relâmpago, fuzilando em uma extremidade do céu, ilumina até a outra extremidade, assim será também o Filho do homem no seu dia. Mas primeiro é necessário que ele padeça muitas coisas, e que seja rejeitado por esta geração. Como aconteceu nos dias de Noé, assim também será nos dias do Filho do homem. (Lc 17:22-26)
Gnosticismo
Roberto Pla
Evangelho de Tomé – Logion 113
Se englobam aqui as locuções: “Aquele dia”; “O dia do juízo”; “O dia que Noé entrou na arca”; “Ao terceiro dia”; “Meu dia”. Das epístolas paulinas é possível agregar, por ter sentidos paralelos, as locuções seguintes: “Dia da ira” (Rm 2,5); “Dia da salvação” (Ef 4,30); “Dia de Cristo”(Flp 2,16); “Filhos do Dia” (1Ts 5,5).
Todas as locuções que aqui se mencionam se referem de maneira direta ou indireta aos Dias da VINDA DO FILHO DO HOMEM. Desde um ponto de vista oculto, gnoseológico, a VINDA DO FILHO DO HOMEM à percepção da consciência, quer dizer, o descobrimento e estabilização do Eu Sou, é coisa idêntica ao juízo, à redenção, o Dia de Cristo, e também ao “Terceiro dia”. Em nenhum dos casos possui a palavra Dia um significado de duração temporal, senão de acesso a uma situação na qual o Espírito de Deus está presente como Eu Sou de cada um. Ao mesmo tempo é percepção da luz em seu sentido de Vida eterna e conhecimento.
*”Aquele dia” (também “aqueles dias”, “esse Dia”, “em seu Dia”, “meu Dia”).
Às vezes é esta expressão estereotipada que tal como ocorre em muitas locuções nas quais intervem a palavra “dia”, carece de exatidão cronológica, mas não deixa de ser cronológica até certo ponto. No entanto, em outras ocasiões se faz referência com esta expressão ao Dia em que virá o Filho do Homem e ao Juízo. Mas em seu sentido verdadeiro tal expectativa, a espera de “Aquele Dia” se ordena para a plenitude da contemplação do ser.
*O “dia do juízo” (da “ira”, da “salvação”, da “redenção”)
A VINDA DO FILHO DO HOMEM e a contemplação do Ser, não são diferentes de um ato de juízo mediante o qual o homem nega a si mesmo (sua consciência psíquica) e com isto destrói tudo o que nele não é o Filho do Homem. A negação é o juízo e ambas as coisas são a Vinda, da mesma maneira que o desaparecimento da obscuridade é luz, ainda que não fosse este o fim proposto. Nessa luz de conhecimento e vida eterna, se invade a consciência que culminou a negação e o juízo, e esse é o Dia, como também é a salvação.
O “dia do juízo” é uma locução muito própria de Mateus, mas o juízo se evoca às vezes como os “dias” de Sodoma e Gomorra, ou como os “dias” de Lot, como os “dias” de Noé, quando entrou na arca para salvaguardar-se do dilúvio.
*“No terceiro dia” (“aos três dias”, “no último dia”).
Os “três dias” dos quais fala Jesus não significavam tempo, senão o interregno completo de um trânsito para a redenção do homem pneumático. Este trânsito consiste de três fases diferentes pois seu cenário são as três esferas ou reinos do cosmos, e estes são os “três dias”.
Aplicado à ressurreição, este trânsito, ou páscoa, explica em chave oculta que o homem pneumático, que jaz cativo no corpo passível aprisionado pela inclinações “egóticas” da consciência psíquica, alcança por fim a “união”, a “unidade” com o Pai, na plenitude de Sua Glória e de sua liberdade.
Este conceito dos três dias é tão antigo quanto a redação do Gênesis, pois nas palavras do relato da criação tem sua origem. Durante muitas gerações deve ter formado parte dos conhecimentos próprios dos melhores mestres em Israel, e há vários lugares da escritura nos quais se menciona; mas seu segredo foi guardado com tanto zelo que ao que parece se perdeu (vide genesis).