meio [MSLM]

Marcia Sá Cavalcante Schuback: Excertos de “Para Ler os Medievais” [MSLM]

O quase-lugar da alma indica a vida circunstanciada das coisas e, portanto, a vida das coisas em seu elemento. Lírio junto às fontes, rosa na primavera, estrela da manhã no “meio” da nuvem. Esse estar em meio a deus caracteriza o pertencimento dinâmico entre deus e todas as coisas. O meio é o elemento, no sentido em que a água é elemento para o peixe. O meio-elemento é que localiza as coisas, descobrindo os seus lugares no modo em que elas indicam a ação do meio. O lugar é, assim também, lugar-meio. O sentido de meio difere inteiramente de metade, de linha divisória e média. E com base na experiência medieval de meio como elemento que podemos observar como é imprópria a denominação desse tempo como Idade Média. A expressão “Idade Média” surge no Renascimento para qualificar essa estranha época inteiramente ocupada pela questão de deus. Com a expressão “Idade Média“, o Renascimento caracteriza essa época como aquela que está no meio, na metade entre duas épocas, a Antiga e a Moderna, que são épocas marcadas pela liberdade. A Idade Média, ao contrário, está marcada apenas pelas trevas. O mais paradoxal é que, para essa época assim designada, o termo “meio” é uma de suas experiências mais próprias e decisivas. Mas o meio enquanto elemento, de onde surgem e para onde se destinam todas as coisas. Podemos nesse sentido perceber que essa designação tão imprópria de Idade Média deve-se, fundamentalmente, à incompreensão moderna do que seja o meio enquanto elemento. Pois o que faz do meio elemento é que todas as coisas que nele se encontram estão sempre reafirmando, confirmando, indicando o meio. Todas as coisas são sinais do meio-elemento. O peixe é sinal da força elementar da água. O lírio é sinal da força da fonte. A rosa é sinal da força primaveril. A estrela da manhã é sinal da força da sombra. Cada coisa é sinal da força do meio. Todas as coisas são sinais da força do meio divino. Mas de que maneira a alma humana é sinal do verbo de deus? Quais os advérbios da alma, quais os modos e circunstâncias em que ela é o mais possível o seu limite, o seu sinal?