CASSIANO — CONFERÊNCIAS
PRIMEIRA CONFERENCIA DO ABADE MOISÉS — DA META E DO FIM DO MONGE
III. Nossa resposta
Como insistisse em nossa resposta, dissemos que tudo isso tolerávamos por causa do reino dos céus.
IV. Pergunta do abade Moisés sobre o que acabamos de a firmar
Muito bem, disse ele, falastes corretamente sobre o fim. Mas, antes de mais nada, deveis saber qual é o nosso escopo, isto e, a firme determinação a que devemos aderir sem cessar, para podermos atingir o nosso fim.
Como confessássemos com simplicidade a nossa ignorância, acrescentou: Em toda arte e disciplina, como ja disse, tem precedência um certo escopo, isto é, um propósito da alma, uma incessante intenção da mente. Se alguém não o guardar com perseverante empenho, não poderá chegar ao fim desejado.
Pois, como eu disse, o lavrador, tendo por fim próprio viver do provento de colheitas abundantes com segurança e largueza, exerce o seu escopo ou determinação ao purgar de sarças e ervas inúteis o seu campo, só confiando em atingir o fim almejado, a opulência, se, antes de obtê-lo, já de algum modo o possua em seu trabalho e sua expectativa.
Igualmente o mercador. Não abandona o desejo de adquirir mercadorias, pois e por seu intermédio que pode mais rendosamente acumular riqueza. Em vão cobiçaria o lucro, se não tomasse o caminho que a ele conduz.
Os que ambicionam as honras deste mundo, através de determinadas dignidades, escolhem antes os cargos e carreiras a que devem dedicar-se para poder chegar, pelo caminho certo, ao fim que ia desejada dignidade.
Assim, o fim ultimo da nossa via e o reino de Deus. Mas, qual seja o escopo, deve-se cuidadosamente procurar. Se nao o soubermos com clareza, em vão nos cansaremos em nossos esforços, pois os que viajam sem caminho certo, só conseguem o labor da jornada, não o avanço.
Diante do nosso assombro,continuou o ancião: O fim último da nossa profissão, como dissemos, e o reino de Deus ou dos céus. Quanto ao nosso escopo, e a pu reza de coração, sem a qual e impossível alguém alcançar aquele fim.
Portanto, fixando neste escopo o olhar quer nos dirige, orientamos a nossa corrida por uma linha certa, de modo que se o nosso pensamento se desviar um pouquinho, nos o retificamos, voltando logo a contemplá-la , como a uma norma. Revertendo os nossos esforços a esse signo único, ele nos avisara imediatamente, caso o nosso espírito se desvie ainda que pouco da direção proposta.