Quarta parte — A estrutura metafísica da caridade na sua ordem divina
Introdução — A Trindade é o verdadeiro fundamento da caridade
Se tudo que foi dito até aqui nada mais é que um reflexo da caridade in divinis, segue que os temas que destacamos, proximidade, relação, pessoa, ato de amor revelador, devem receber aqui sua completude.
Todavia deve-se observar que a caridade in divinis pode ser vista segunda duas perspectivas: na sua dimensão interna — eis porque se pode dizer que pela porta do amor entrevemos algo do mistério da interioridade divina — e em sua dimensão externa, como amor criador. Consagraremos à estrutura da caridade cósmica uma parte especial. Pois é preciso, se se quer compreender o amor, o apreender em sua raiz suprema, a qual se aprofunda no coração do mistério trinitário.
Mostramos que o amor ao próximo só tem sentido quando é compreendido como acesso ao grau espiritual da proximidade. Quer dizer do amor de um indivíduo que se completa no amor de uma relação. Ao mesmo tempo é preciso admitir que trata-se da realização de um relação preexistente. Sob pena de recair na confusão da caridade triunfalista. Por outro lado, se amar o indivíduo-próximo, é amar uma relação, segue-se que este amor exige sua identificação. Eis o que é requerido, aos termos desta análise, para que possa se realizar o ato de caridade. Ora, esta exigência não parece humanamente realizável. Por um lado se admitirá dificilmente que um indivíduo possa se tornar uma relação. Mas então como o outro se transformará em “próximo”? Por outro lado se admitirá também dificilmente que uma relação, a “proximidade”, seja identificável a um indivíduo. Mas então, como se conceberá que o próximo seja uma pessoa? Tocamos aí à imperfeição do amor do próximo, quer dizer a sua contradição. Reencontramos esta contradição no amor de si e finalmente no amor mesmo de Deus, onde, se ele é permitido de exprimir assim, ela é levada a seu ponto mais alto que é a Cruz, signo de contradição. Assim fazendo, descrevemos as transformações espirituais as quais nos conviria o Mandamento supremo. Assim foram postas as condições das quais depende a verdade da caridade no sujeito humano. Mas outra coisa é de tomar consciência das exigências e dos efeitos da caridade no homem, outra coisa é fundar logicamente a estrutura caritativa da qual nada de humano precisamente não parece poder dar conta. A supor mesmo que todas estas condições fossem realizadas, a caridade permaneceria um belo sono, e finalmente uma ilusão, se, em última análise, sua estrutura se revelasse “impossível”. Eis porque o amor exige um fundamento lógico de sua possibilidade1, sem que, por conseguinte, assim como veremos quando tratarmos do Espírito Santo em quem toda necessidade é graça, este fundamento possa jamais constituir uma determinação implicando segundo a interpretação de Nygren, a negação do agape na sua gratuidade essencial. É a doutrina das “relações subsistentes”, elaborado pela teologia escolástica, que pensamos poder encontrar este fundamento, porque ela faz a síntese da pessoa (a subsistência) e da relação.
Um primeiro capítulo nos conduzirá de pronto ao topo da teologia trinitária, nos fornecendo os elementos intelectuais necessários a um conhecimento especulativo do mistério. No segundo capítulo, nos efetuaremos uma primeira abordagem da Pessoa do Espírito Santo, segundo a perspectiva tradicional. Pois, depois de ter proposto, em um terceiro capítulo, uma nova apreensão especulativa do mistério trinitário, efetuaremos uma segunda abordagem da Pessoa do Espírito Santo, que é a chave do Amor eterno. Então, chegado a este topo, apresentaremos, em um quinto e último capítulo, uma síntese de toda a metafísica do Mysterium caritatis.
XII — Teologia da Trindade : Hipóstases e Relações
Introdução
Esta doutrina não tem por finalidade uma interpretação do mistério da Santa Trindade. Ela se esforça simplesmente de fornecer deste mistério a formulação conceitual menos inadequada, ou ainda exprimir o que somos capazes de conceber do Mistério da Santa Trindade. Ela corresponde portanto à mais alta e última possibilidade de concepção, além da qual não há mais que intelecção apofática, o conhecimento que sobrepassa todo conhecimento. A doutrina, teologicamente certa, das relações subsistentes, é encarregada de exprimir a distinção real das Pessoas e sua identidade comum à Essência divina.
Seção I A noção de hipóstase
1) Nos gregos
A expressão de “relação subsistente” é composta de dois termo: relação e subsistência (do latim subsistentia). Devemos portanto explicar cada um deles. Ver-se-á melhor então a importância do que podemos denominar “a coroa especulativa do Ocidente cristão”. Começaremos pelo termo subsistência.
2) Nos latinos
Seção II A noção de relação subsistente
1) As pessoas divinas são relações subsistentes
2) Análise filosófica da relação
3) As relações subsistentes em Deus
4) As hipóstases trinitárias são relações subsistentes
5) Identidade e distinção em Deus do Absoluto e do relativo
6) As relações subsistentes na tradição
XIII — A processão do Espírito Santo
Introdução
Seção I Processões e relações
1) Do Pai pelo Filho
2) A espiração passiva
3) Não-contradição dos gregos e dos latinos
Seção II O “mistério” do Espírito Santo
1) Significação apofática do “Filioque”
2) Toda processão depende do Espírito Santo
3) O Espírito Santo resume a Trindade
4) O Espírito Santo
XIV — As funções trinitárias das hipóstases
Introdução — Um novo ponto de vista
Seção I A função do Verbo como relação prototípica, na Escritura
1) O Verbo, relação do criado ao Incriado
2) O Verbo, relação de Deus a Deus
Seção II Retrospectiva: Como o mistério trinitário funda a caridade
1) Fundamento lógico e fundamento real
2) A Trindade é o fundamento real de todo amor
3) Todo amor participa do amor trinitário
Seção III O Verbo como fundamento da relação de proximidade
1) O Verbo como fundamento lógico
2) A hipóstase do Verbo é o fundamento real da relação de proximidade
3) O amor do próximo é quase sacramental
4) O próximo é o Cristo porque o Cristo é o Próximo
XV — A função hipostática e a função maternal do Espírito Santo
Introdução
Seção I Fundamentos escriturários da função hipostática
1) Função hipostática no homem
2) Função hipostática em Deus
Seção II Os fundamento teológicos da função hipostática
1) A pessoa é inominável
2) A pessoa se manifesta como vontade
3) A Pessoa do Espírito Santo é uma imagem sem imagem
Seção III A maternidade hipostática do Espírito Santo
1) Aspectos teológicos
2) Seus fundamentos na Escritura e na Tradição
XVI — Síntese metafísica do “mysterium caritatis”
Introdução
Seção I O amor natural
1) O “eros”
2) A “philia”
3) A caridade natural
Seção II O Amor sobrenatural
1) Os três graus do amor sagrado
2) A imperfeição radical do amor criado
3) O amor criado depende livremente de seu fundamento
Seção III O Amor “in divinis”
1) Em Deus, três amores que só fazem Um
2) O Espírito Santo procede do Amor comum do Pai e do Filho como o único peso de amor que o Os move do interior a se amar Um ao Outro
3) O Amor hipostático, só, revela o Amor essencial
4) É somente “na unidade” do Espírito santo que a Essência divina pode entrar em relação com Ela mesma
5) Identidade e Alteridade em Deus
6) Assunção de de todos os amores humanos no Amor divino
Seção IV O Espírito Santo como fundamento da caridade
1) Como o eros caritativo se une ao Espírito Santo que dele é o fundamento
2) Como a pessoa caritativa se une ao Espírito Santo que dele é o fundamento