O Cristianismo e seu Mistério [EGMC]

O Cristianismo e seu Mistério

A religião cristã fala dela mesma

Abordando a refutação indireta das teses de Guénon relativas ao cristianismo, vamos tentar proceder por um deslocamento do que está em questão, o que significa restituir o cristianismo em seu lugar próprio e a cessar de submeter a exigências estranhas a sua natureza.

Situar o cristianismo em seu próprio lugar, é considerá-lo do ponto de vista de seu “sítio hermenêutico” verdadeiro: “toda revelação comporta uma certa compreensão dela mesma, que é o modo sob o qual ela se apresenta aos homens(…). A este modo hermenêutico, devemos estar atentos”.

Sem dúvida entre os elementos formais do qual se reveste o revelatum, muitos são suscetíveis de uma interpretação universal porque são tomados de empréstimo à tradição universal da humanidade, como é o caso dos elementos simbólicos, onde a obra de Guénon é incontestavelmente insubstituível.

Para conhecer o sítio hermenêutico do cristianismo é conveniente tomar em consideração a figura geral de esboça o conjunto de seus elementos formais. Esta figura fornecerá a visão global, a “ideia” inspirante a partir da qual a religião poderá ser apreciada e compreendida.

Mas uma religião comporta não apenas elementos formais esboçando sua fisionomia espiritual de maneira implícita e conotativa, mas também palavras explícitas, pelas quais se exprime de maneira denotativa a consciência que ela tem dela mesma, e que fornecem as chaves de sua própria compreensão.

No entanto para entrar nesta inteligência, não é suficiente declarar alguns termos que se encontram no Novo Testamento ou na literatura paleo-cristã, deve-se encontrar os sentidos que tinham quando a Igreja (os Apóstolos e seus sucessores) os escolheram entre tantos outros, e qual era então sua intenção.

A exegese desde início do século XX muito avançou embora seja criticável quando recorta os textos sagrados em segmentos de origem disparate, ou a negar sua autenticidade tradiconal, ponde até em dúvida palavras do Cristo. A exegese inaugurada por Orígenes e pelos agostinianos poderia servir de exemplo do que significa escrutar a formulação e dela adquirir uma inteligência mais prenhe de seu sentido, respeitando o texto.

Interessante notar que Guénon que escreveu uma introdução ao estudo das doutrinas hindus (e não diretamente a estas doutrinas elas mesmas) não escreveu uma introdução ao estudo das doutrinas cristãs. Tinha consciência da reforma mental que exigia o estudo do hinduísmo se se queria desembaraçá-la de certos preconceitos ocidentais e recolocá-la em seu próprio sítio hermenêutico. Infelizmente Guénon não se perguntou se operação semelhante não era requerida pelo cristianismo.

Não é intenção de Borella suprir esta lacuna, mas apenas contribuir reunindo testemunhos que demonstram a consciência que tinha a Tradição eclesial da natureza de sua mensagem e de seus ritos. Desta mesnagem se focaliza o essencial do revelatum que por ela se “re-vela”, cujo termo “mistério” resume a integralidade desta mensagem evangélica.

Mistério e Doutrina

Capítulo consagrado essencialmente ao mistério sob seu aspecto doutrinal, onde se estuda a história da palavra e da coisa em uma série de artigos que vão do Novo testamento aos Padres até o século IV. A preocupação constante é situar o “mistérico” cristão em relação aos contextos culturais judeu e helenístico nos quais se desenvolveu. E se verá igualmente o que se precisa pensar da existência de tradições secretas no cristianismo das origens e de seu conteúdo, principalmente em Clemente de Alexandria e Orígenes.

  • O mistério do “cristianismo””
  • Os “mistérios” do paganismo
    • Etimologia e vocabulário
    • Caracteres gerais dos mistérios pagãos
    • Mistérios pagãos e sacramentos cristãos
  • O mysterion teologal no Novo Testamento
  • O triplo mysterion da doutrina cristã
  • O mistério cristão e as tradições esotéricas do rabinismo
  • As tradições secretas em Clemente de Alexandria
  • Esoterismo e conhecimento em Orígenes
  • O esoterismo doutrinal dos primeiros séculos
    • O Cristo ensinou oralmente a doutrinas de fé aos Apóstolos
    • As chaves da gnose só foram confiadas a quatro discípulos
    • O Magistério doutrinal na Tradição cristã

A Iniciação Sacramental e a Disciplina do Arcano

O ensinamento tradicional da Igreja relativo aos três ritos da iniciação cristã e a questão da “disciplina do arcano”.

  • Um esoterismo manifesto
  • Mistérios, sacramentos, iniciação
  • A disciplina do arcano
    • Significação e história da expressão
    • Arcano e catecumenato
    • O arcano nos textos dos séculos II ao IV
    • Um testemunho capital: São Basílio de Cesareia
    • O arcano a partir do século IV
    • Arcano e esoterismo
  • A doutrina sacramentária
    • A catequese batismal de Jesus Cristo
    • O selo do pecado e o selo do batismo
  • Teologia dionisiana da iniciação cristã
    • Uma doutrina sacramentária “arquetípica e mistérica”
    • As três etapas da via e os três graus da hierarquia
    • Hierarquia dos iniciadores e hierarquia dos iniciados
    • Os sacramentos da iniciação: o batismo (adultos e crianças)
    • Confirmação e eucaristia: a iniciação perfeita
    • Os graus de contemplação e a iniciação monástica
  • Um certo espírito de esoterismo
  • Sobre o cânon da missa recitada em silêncio
  • Os graus da salvação
  • Habitus operativo e habitus entitativo
  • São Simeão o Novo Teólogo e o batismo no Espírito
  • As três etapas da via e as três partes da filosofia
  • O batismo das crianças nos Padres da Igreja
  • Natureza da consagração monástica segundo a doutrina católica

A Via Mística

Caracterização da via mística primeiro investigando o sentido deste termo através de sua história, em seguida nos voltando para os ensinamentos dos místicos eles mesmos, pelo menos de alguns: poderemos assim estabelecer que se trata de uma via integral.

  • À escuta da palavra cristã
  • O que os Padres entendiam por “mística”
  • Natureza da contemplação mística
  • Do adjetivo ao substantivo
    • Dos séculos V ao X: a herança dos Padres
    • Dos séculos XI ao XIII: do sentido eucarístico ao sentido eclesial
    • Dos séculos XIV ao XVI: o místico e a mística
    • Sob a patronagem do Santo Dionísio o Areopagita
    • Século XIX: aparição do “misticismo”
  • Ruptura ou continuidade na tradição mística
    • Uma certa psicologização da via mística
    • O aristotelismo enfraqueceu a “virtude gnóstica” do intelecto
    • A mística: refúgio do platonismo cristão
  • Contemplação adquirida e contemplação infusa
  • A via do Cristo e o misticismo “guenoniano”
    • “Eu sou a Via”
    • Desprendimento místico ou demiurgia iniciática
    • O Cristo Jesus não é uma avatara
  • A palavra mística e a Essência divina
    • A questão dos fenômenos
    • A união mística
  • A respeito da “Pérola evangélica”
  • São João da Cruz é voluntarista?