Original
Le Prologue de l’Evangile de Jean s’achève par le témoignage de Jean-Baptiste au sujet d’un être (ho on) de lumière dont il ne donne pas le nom, mais qu’il qualifie de fils unique (monogènès) et de Dieu.
Aussitôt après c’est le témoignage de Jean-Baptiste au sujet de lui-même, suivi d’un autre, le jour suivant :
« Le lendemain, il voit Jésus venant vers lui et dit : Voici l’Agneau de Dieu, celui qui enlève le péché du monde » (1, 29).
« Le lendemain, de nouveau, Jean se tenait là ainsi que ses disciples et voyant Jésus qui passait, il dit : « Voici l’Agneau de Dieu » (1, 35).
Dans un contexte sémitique ces mots ont une résonance particulière :
— Le témoignage : le mot hébreu qui l’exprime se rattache à plusieurs racines voisines entre elles et qui se rejoignent dans l’idée d’une qualité ou d’une multiplicité centrée sur l’unité [[Hébreu : « témoignage », ’édut, témoin, éd. — Comparaisons : akkadien : adù : « serment » et « maintenant » ; arabe : ’ahad : « serment », « engagement », ’aud : « retour », « recommencement » ; hébreu : ’edah : « assemblée », ’ad : « éternité », « jusqu’à », ’od : « de nouveau ».]]. Galaad est le monceau de pierres du témoignage qui distingue (et unit) les territoires de Laban et de Jacob. L’arche du témoignage (Exode 25, 22) est l’arche de l’alliance (Jos. 3, 6), alliance du Ciel et de la Terre, et elle est appelée ainsi parce qu’elle contient le Témoignage : les Tables de la loi qui sont doubles unissant l’amour de Dieu à celui du prochain.
— « Le lendemain », hébreu mimaharat [[Le lendemain se dit aussi bôqer : l’heure du salut. Cf. Zohar II 38 b.]] est ce qui unit un jour à l’« autre » (héb. aher) à travers la nuit, ce qui fait l’unité du jour composé d’un soir et du matin qui lui succède.
Le texte biblique le plus significatif est Lév. 23, 16 : « Jusque (’ad) au lendemain du 7e Sabbat », c’est-à-dire le jour de la Pentecôte qui unit entre elles deux semaines de semaines et qui est le jour de l’apparition divine.
— Tandis que Jean est immobile, Jésus « venait », « passait ». Ces termes évoquent les passages de Dieu dans la Bible : celui du jardin d’Eden, le passage de Dieu la nuit de l’Exode (Ex 12,12 et 11, 14) et puisqu’ici la scène a lieu au Jourdain, « le passage de Dieu comme un feu dévorant » pour permettre aux Hébreux d’entrer en Terre sainte. (Deut. 9, 3).
— Enfin l’« agneau » :
Tout le récit de la mort de Jésus dans l’Evangile de Jean est une allusion à l’agneau pascal. Au contraire des autres Evangélistes il situe la mort de Jésus au moment où, dans le Temple, les agneaux étaient immolés pour la Pâque. Il est le seul à parler d’hysope pour l’éponge mouillée tendue à Jésus sur la croix, l’hysope étant spécifiée dans l’Exode comme ce qui servait à imprégner du sang de l’agneau. Il est aussi le seul à préciser qu’aucun des os de Jésus ne devait être brisé et il donne la référence à l’Exode 12, 46.
Si, au moment où Jésus va cesser de vivre, il est identifié à l’agneau pascal, il en est bien de même le jour de sa première apparition dans l’Evangile de Jean. C’est une « inclusion », la répétition d’une même image au commencement et à la fin d’une histoire. Et s’il est dit que l’agneau enlève les péchés du monde, c’est parce que, dans le christianisme, c’est la mort de Jésus qui délivre du péché.
De même, au témoignage de Jean-Baptiste au début de l’Evangile, correspond le témoignage de l’autre Jean, l’Evangéliste à la fin : (Jean 19, 35 et le dernier verset de l’Evangile).
Si Jean l’Evangéliste est témoin de la Pâque de Jésus, à son immolation, Jean-Baptiste, d’après les Evangélistes, représente Elie, celui qui doit venir un jour de Pésah (de Pâques) dans la tradition juive pour introduire le Messie. C’est pourquoi dans le Seder, dans le rituel de la Pâque juive, une coupe de vin reste pleine destinée à Elie.
Antonio Carneiro
O Prólogo do Evangelho de João finaliza pelo testemunho de João-Batista acerca de um ser (“ho on”) de luz cujo nome não fornece, mas que o qualifica de filho único (monogènès [[NT: “Monogénês”: na Septuaginta foi empregado quando relata sobre a filha de Yiphtah: “Ora ela era verdadeiramente única filha. Fora ela, não tinha nem filho nem filha.” (Jz 11:34). João qualifica várias vezes o Senhor Jesus Cristo de Filho único-engendrado por Deus (Jo 1:14; 3:16, 18; 1 Jo 4:9) … em seu estado de existência pré-humana, é apresentado como “Filho único-engendrado” que seu Pai enviou “ao mundo” — (1 Jo, 4:9). In: “UNIQUE-ENGENDRÉ”.]]) e de Deus.
Logo após é o testemunho de João-Batista acerca dele mesmo, seguido de outro, o dia seguinte:
« No dia seguinte, vê Jesus vindo em direção a ele e diz: Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo » (1, 29).
« No dia seguinte, de novo, João se encaminhava para lá assim como seus discípulos e vendo Jesus que passava, disse: « Eis o Cordeiro de Deus » (1, 35).
Em um contexto semítico essas palavras têm uma ressonância particular:
— O testemunho: a palavra hebraica que o exprime se liga à várias raízes vizinhas entre elas e que se reúnem na ideia de qualidade ou de multiplicidade centrada sobre a unidade [[Hebreu: « testemunho », ’édut, testemunha, éd. — comparações: acadiano: “adù”: « juramento » e « agora »; árabe: ’ahad: « juramento », « engajamento», ’aud: « retorno », « recomeço »; hebreu: ’edah: « assembleia », ’ad: « eternidade », « mesmo inclusivamente », ’od: « de novo ».]]. “Galaad” é o montão de pedras do testemunho que distingue (e une) os territórios de Labão e de Jacó. A arca do testemunho (Êxodo 25, 22) é a arca da aliança (Js. 3,6), aliança do Céu e da Terra, e ela é chamada assim porque contém, o Testemunho: as Tábuas da Lei que são duplas unindo o amor de Deus àquele do próximo.
— « No dia seguinte », hebreu “mimaharat”[[“No dia seguinte” se diz também “bôqer”: a hora da salvação. Cf. Zohar II 38 b. (NT: Para palavra: “bôqer” ou vide).]] é o que une um dia ao « outro » (hebreu “aher”) através da noite, o que torna a unidade do dia composta de um entardecer e da manhã que lhe sucede.
O texto bíblico mais significativo é o Lev. 23, 16: « Até (“’ad”) no dia seguinte do 7° Sabath », isto é o dia de Pentecoste que une entre ele duas semanas de semanas e que é o dia da aparição divina.
— Enquanto que João está imóvel, Jesus « vinha », « passava ». Esses termos evocam as passagens de Deus na Bíblia: aquela do jardim do Éden, a passagem de Deus na noite do Êxodo (Ex. 12,12 e 11, 14) e visto que a cena tem lugar no Jordão, « a passagem de Deus como fogo voraz » para permitir aos Hebreus entrar em Terra Santa. (Dt. 9, 3).
— Enfim o « cordeiro »:
Todo o relato da morte de Jesus no Evangelho de João é uma alusão ao cordeiro pascal. Ao contrário dos outros Evangelistas ele situa a morte de Jesus no momento quando, no Templo, os cordeiros eram imolados para Páscoa. É o único à falar do hissopo para a esponja molhada estendida à Jesus sobre a cruz, o hissopo [[NT: 1: “Hysope – In: Dictionnaire Biblique Westphal”: 2: Hysope – Étude perspicace (vol. 1).]] sendo especificado no Êxodo (12, 22 [[NT: “Tomareis um punhado de hissopo, molhá-lo-eis no sangue da bacia, aplicareis à padieira e às duas ombreiras das portas e, até o amanhecer, ninguém sairá pela porta de sua casa.” (TEB). Existem outras passagens não mencionadas no texto referentes a hissopo (“ewod” em hebreu): (Lv 14, 4-6-49-51-52); (Nm 19,18) e principalmente o Salmo 51,9: “Tira o meu pecado com o hissopo e estarei puro;/ lava-me, e serei mais branco do que a neve.” (TEB). Como leitura complementar sobre hissopo na p. 135, mencionado no início do artigo. In: “Caquot, André. Purification et expiation selon le psaume LI. In: Revue de l’histoire des religions, tome 169, n°2, 1966. pp. 133-154. DOI: 10.3406/rhr.1966.8336.”]]) como o que servia à impregnar do sangue do cordeiro. É também o único à precisar que nenhum dos ossos de Jesus devia ser quebrado e fornece a referência ao Êxodo 12,46.
Se, no momento quando Jesus vai cessar de viver, é identificado ao cordeiro pascal, o mesmo acontece no dia de sua primeira aparição no Evangelho de João. É uma « inclusão », a repetição da mesma imagem no começo e no fim da história. E se é dito que o cordeiro tira o pecado do mundo, é porque, no cristianismo, é a morte de Jesus que libera do pecado.
Do mesmo modo, no testemunho de João-Batista no início do Evangelho, corresponde ao testemunho do outro João, o Evangelista no fim: (João 19, 35 e o último versículo do Evangelho).
Se João o Evangelista é testemunho da Páscoa de Jesus, à sua imolação, João-Batista, segundo os Evangelistas, representa Elias, aquele que deve vir em dia de “Pessa’h” (« Páscoa ») na tradição judaica para introduzir o Messias. É por isso que no Seder [[NT: Seder (hebreu: סדר « ordre ») ritual simbólico da festa de Pessa’h, visa reviver seus participantes, em particular as crianças, o acesso à liberdade após anos de cativeiro.]], no ritual da Páscoa judaica, um copo de vinho permanece cheio destinado à Elias.