Athanasius Kircher: Oedipus Aegyptiacus

Excertos do livro de Joscelyn Godwin

Este livro é um dos mais notáveis de Kirsher e do Renascimento. Tendo em conta que toda tradição tem um lado esotérico e outro exotérico, sendo o primeiro invariavelmente próximo da verdade, quase a metade deste livro é dedicado à exposição dos sistema teosóficos de Zoroastro, Orfeu, Pitágoras, Platão e Proclo, e da Cabala Caldeana e Hebraica. Todos derivaram da sabedoria do Antigo Egito, que acreditava ter sido passada pelos escritos herméticos.

Kirsher interpreta os Oráculos Caldeanos, os Hinos Órficos e os Versos Dourados de Pitágoras. Os Caldeanos, por exemplo, afirmam que a alma tem duas vestes: a superior é racional e espiritual, e inferior é luciforme e superficial. Em termos modernos estes seriam o corpo mental, que porta o pensamento destacado e controlado, e o corpo astral que contém as emoções e os pensamentos diários coloridos de sentimentos. De acordo com os Caldeanos, se a alma luciforme por der mantida sem cor, i.e. livre de fantasmas corporais, a alma racional pode ser transformada em Deus. Esta doutrina, Kircher diz, não difere da ortodoxia (cristã) exceto que nesta inclui-se a união através do Amor assim como do Intelecto. De novo, ele comenta que o que Zoroastro chama o pester (redemoinho ígneo) é o intelecto contemplativo no centro da alma. Aumentada por exercícios mentais, ele aproxima-se a mente de Deus e então, totalmente preenchido com amor, coalesce com ela. Os aforismos gnômicos de Pitágoras, também são interpretados como instruções de meditação: “Quando se entra no templo…” refere-se à concentração no coração; “Não adores em portais” quer dizer não fantasie; “Fuja de caminhos públicos” significa evire pensamentos perturbadores; “Nutra um galo mas não o sacrifique, pois é sagrado para o Sol e a Lua” significa não desperdice seu “fogo sagrado” em carnalidade, mas consagra-o ao Intelecto e a Natureza. O estranho aforismo, tomado de Pico della Mirandola, “Ninguém pode beber com Baco sem primeiro copular com as Musas”, refere-se à escada de estados de ser, ou de deidades, que deve ser atravessada pela alma em busca de sua meta final de deificação. As Musas são as alma ou inteligências das esferas celestiais, e deve-se contemplar com amor as coisas sujeitas a elas antes de alcançar Baco, o “intelecto do Numen Solar”. Em resumindo os vários sistemas cósmicos, Kircher explica que estes múltiplos níveis e seus deuses são equivalentes aos mundos siderais e angélicos. As nove divisões do mundo intelectual de Jâmblico são as nove ordens de anjos, e os Hebreus e Árabes também são citados como tendo tradições de coros angélicos do céu até a terra.

O volume II do Oedipus Aegyptiacus é assim uma reafirmação do cânon da Antiga Teologia, do qual Kircher se destaca com último mais completo e simpatizante expoente. Como um Ficino ou um Pico della Mirandola, aos quais deve muito, buscou justificar os pagãos ao mundo católico. Como o Antigo Egito e a Antiga Grécia estava mortas em um passado já longínquo ele podia seguramente lhes dar o crédito devido pela sabedoria que alcançaram sem o benefício do Cristo. Mas no tocante aos pagãos do Oriente, a situação era diferente e Kirsher não poupava suas críticas depreciativas.