Angelus Silesius certamente não tem a delicadeza aristocrática de São João da Cruz, nem a paixão de Teresa de Ávila, nem a audácia genial de Hadewijch de Antuérpia, nem a pureza abstrata de Mestre Eckhart, mas nenhum místico destacou melhor a sutil relação entre a palavra e o silêncio, que transcende e culmina naquilo que São João da Cruz, em uma frase despreocupada com o senso comum dos tolos, não hesitou em chamar de “música silenciosa” (Cantique spirituel : Comentário sobre a décima terceira e a décima quarta estrofes).
Ah, se eu estivesse sem língua e sem voz”, escreve Angelus Silesius, “eu poderia imediatamente cantar a mais doce canção para Ele! (III, 15),
e assim, longe de ser meramente uma ausência de ruído ou, pior ainda, aquele nada do qual Pascal tem medo, uma solidão terrível na qual aprenderíamos que o céu está vazio, o silêncio pode, ao contrário, tornar-se o superlativo da palavra: o silêncio não está abaixo, mas acima de uma palavra que ele resume e cumpre em um canto inefável (que nenhuma música humana pode igualar, mas que, acreditamos, o canto gregoriano chega mais perto). Fazendo eco ao salmo de Davi: “Silêncio, Senhor, é o louvor que te é devido em Sião”, ouçamos o Angelus Silesius:
O belo canto do silêncio
O canto dos anjos é belo, mas eu sei que o seu,
se você não é nada além de silêncio, é mais caro ao Altíssimo (II, 32).
De onde vem, então, a virtude desse Silêncio, que não é menos, mas mais, infinitamente mais, do que a fala comum? A Palavra silenciosa não é outra coisa senão a Palavra: é o próprio Deus, e é por isso que, em harmonia com essa Palavra, tantos místicos foram grandes poetas, mas cujo único objetivo do poema é homenagear o silêncio, conduzir ao Silêncio, ou seja, a Deus. Deus, por ser Espírito, não diz palavras que possam ser fisicamente ouvidas: esse ponto de importância decisiva é particularmente enfatizado na oração de Santo Ambrósio: “Intret spiritus tuus bonus in cor meum, qui sonet ibi sine sono, et sine strepitu verborum, loquatur omnem veritatem mysteriorum”, uma oração que pode ser traduzida de modo desajeitado como segue: “Deixe seu bom espírito entrar em meu coração, deixe-o ressoar sem som e, sem o tumulto das palavras, fale toda a verdade dos mistérios. Aquele que quiser ouvir a palavra de Deus, de acordo com a aceitação comum do verbo ouvir, nunca a ouvirá e, nesse sentido, é verdade dizer que Deus está em silêncio, mas seria muito imprudente o homem que, a partir desse silêncio, aparentemente obstinado, concluísse pela inexistência de Deus, porque, para aquele que consegue ficar em silêncio, Deus fala incessantemente:
O surdo ouve a Palavra
Amigo, quer você acredite ou não, em toda parte eu ouço,
embora eu seja surdo e mudo, a palavra eterna (II, 63).
Deus é a Palavra, ou melhor, ele gera a Palavra, isto é, o Verbo, mas se Deus é assim essencialmente a Palavra, longe de balbuciar, silenciosamente fala a única Palavra:
É Deus quem fala menos.
Ninguém fala menos que Deus, sem tempo nem lugar.
Ele fala desde a eternidade uma só palavra (IV, 129).