Artes Plásticas

ARTEARTES PLÁSTICAS

Considero da maior relevância a nota abaixo de Pierre Gordon, em A REVELAÇÃO PRIMITIVA, para uma aproximação de nosso tema, Artes Plásticas.

Se a princípio se imagina um homem efetuando adequadamente nele, esta adaptação (v. Queda), e vivendo em um mundo sensível como em seu elemento natural, sem qualquer escape possível, sem qualquer elã para dele sair, sem nenhum sorriso a um sonho, não se trataria mais em verdade de um homem; um pensamento humano que chegasse a se aderir sem falha a um universo físico engendraria um robô ou um zumbi (tema tão comum em nossos dias). É de resto esta necessidade infrangível de evasão que constitui a base da arte. Pois a arte, como nossa ciência de fonte empírica, teve nascimento, no instante mesmo do pecado e da ocultação. Consiste no esforço que tenta a alma humana para se liberar, em empregando o dado sensível segundo as leis do mundo real. Pode se definir: uma transformação momentânea do mundo da matéria opaca (ou mundo da necessidade) em um universo de liberdade.

Seu papel é tão primordial aqui em baixo quanto aquele da ciência e da religião. Não há dúvida que não é possível se privar do alimento e da bebida cotidianos. Desde o primeiro momento que seguiu a falta inicial, Adão e Eva inauguraram a arte, pelo fato mesmo que, à matéria espacial na qual eles acabam de passar, eles opunham a lembrança do Éden subitamente desaparecido. E não há um só de seus descendentes que, depois deles, não se tenha criado, e não se crie, um mundo interior onde ele se libere. Pode-se conceber um ser aprisionado numa masmorra, e que não sonhe jamais em um cosmo onde se mova sem obstáculo? Reserva-se habitualmente o nome de artistas àqueles que produzem obras facilitando a outro esta liberação. Mas a arte é por essência uma atitude do pensamento, atitude que se produz em todos os homens; e, mesmo no artista propriamente dito, é esta atitude somente que conta: é ela com efeito que o artista se esforça por atingir através da obra; é ela que dá a esta seu fermento de beleza e dela constitui o valor.


Simbolismo