Amai-vos uns aos outros (Jo XV, 9-17)

AMAI-VOS UNS AOS OUTROS (Jo XV, 9-17)

9 Como meu pai me ama, eu também vos amo. Permanecei no meu amor.
10 Se observais minhas ordens, permanecereis no meu amor.
Eu também observo as ordens de meu pai e permaneço no seu amor.
11 Digo-vos isto para que meu bem-querer esteja em vós e vosso bem-querer seja pleno.
12 Eis minha ordem: amai-vos uns aos outros como eu vos amo.
13 Ninguém tem mais amor
que aquele que entrega seu ser por seus amigos.
14 Vós sois meus amigos se fizerdes o que vos ordeno.
15 Não vos chamo mais servos, porque o servo
não sabe o que faz seu Adôn.
Mas vos chamo meus amigos, porque tudo que ouvi de meu pai, vos dei a conhecer.
16 Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi a vós.
Eu vos designei para irdes e para que deis fruto e vosso fruto permaneça.
Assim, o que quer que pedirdes ao pai em meu nome, ele vos dará.
17 Eis o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros. [Chouraqui]


Mestre Eckhart: SERMÃO XXVII; SERMÃO XXVIII

Mathew Fox: Passion for Creation

A partir da afirmação de Eckhart, “Todas as virtudes que tenham sido exercidas por toda a raça humana te pertencem tão perfeitamente como se tivesses as exercido tu mesmo — com efeito, até mais claramente e melhor”, Mathe Fox que em tal existência nós mesmos estaríamos dando nascimento ao amor e ao Espírito Santo como o Filho faz. “O amor com o qual amamos é o Espírito Santo”. Assim fazendo, estamos certamente dando nascimento a Deus. Pois Eckhart não apenas diz “Deus é amor”, mas que “amor é Deus”. “Amor em seu nível mais puro e desprendido nada mais é que em si mesmo Deus”. Ele não distingue dualisticamente entre um amor para criaturas e um amor para Criador, como muitos teólogos espiritualistas fazem. Ao invés, a diferença em amor é dentre de nós mesmos. Se nosso amor é verdadeiramente aquele que desprende-se, então todo ato de amor, para com amigos e criaturas igualmente, partilha do Espírito Santo. Todo momento através do qual somos movidos para o amor é um momento no qual nada outro nos move a não ser o Espírito Santo. Todo movimento de amor é inspirado por Deus, Eckhart nos diz.
Eckhart investiga assim o que amor significa na frase de Jesus no Evangelho de João, “amai-vos uns aos outros”. Ele diz duas coisas sobre a experiência do amor humano que por sua vez aplicam-se a nossa experiência do amor divino. A primeira destas é que o amor é entre iguais. “Amor nunca estará em algo onde igualdade e unidade estão. Onde não há igualdade — como entre um mestre e seu servo — não há amor. Mas onde há igualdade — como entre esposo e esposa — pode de fato haver amor. Verdadeiro amor, Eckhart nos diz, é verdadeira união. “Quando um não é o outro” não pode haver qualquer amor, pois então “há dois e aí encontramos deficiência”. Amor é o fim das separações e dualismos. Esta lição aplica-se a nossa necessidade de amar nossos inimigos, como sugerido no Sermão da Montanha, e também aplica-se ao amor de Deus para conosco. Como, diz Eckhart, “dois não podem manter-se um com outro”, porque em tal situação “um deles” seria forçado a submeter seu ser, então o mesmo vale entre Deus e as pessoas. Não somos dois em nossa relação de amor com Deus mas um. Não somos mais humanos mas divinos. Assim Eckhart usou a analogia do amor matrimonial para descrever como nosso amor — como aquele da vinha e das ramas — é com Deus. Se Deus é uma vinha divina e somos as ramas, também somos divinizados.