Estreita é a casa de minha alma para que venhas até ela: que seja por ti dilatada. Está em ruínas; restaura-a. Há nela nódoas que ofendem o teu olhar: confesso-o, pois eu o sei; porém, quem haverá de purificá-la? A quem clamarei senão a ti? Livra-me, Senhor, dos PECADOS ocultos, e perdoa a teu servo os alheios! Creio, e por isso falo. Tu o sabes, Senhor. Acaso não confessei diante de ti meus delitos contra mim, ó meu Deus? E não me perdoaste a impiedade de meu coração? Não quero contender em juízos contigo, que és a verdade, e não quero enganar-me a mim mesmo, para que não se engane a si mesma minha iniquidade. Não quero contender em juízos contigo, porque, se dás atenção às iniquidades, Senhor, quem, Senhor, subsistirá? Confissões I, V
Escuta-me, ó meu Deus! Ai dos PECADOS dos homens! E quem isto te diz é um homem, e tu te compadeces dele porque o criaste, e não foste autor do pecado que nele existe. Confissões I, VII
Tu viste, Senhor, que numa ocasião, ainda menino, atacou-me repentinamente um dor de estômago que me abrasava, e que me aproximou da morte. Tu viste também, meu Deus, pois já me tinhas sob tua guarda, com que fervor de espírito e com que fé pedi à piedade de minha mãe, e da mãe de todos nós, tua Igreja, o batismo de teu Cristo, meu Deus e Senhor. Perturbou-se minha mãe carnal, pois que me criava com mais amor em seu casto coração em tua fé para a vida eterna e, solícita, já havia cuidado de que me iniciasse e purificasse com os sacramentos da salvação, confessando-te, ó meu Senhor Jesus, em remissão de meus PECADOS, quando, de repente, comecei a melhorar. Em vista disso, diferiu-se minha purificação, considerando que seria impossível, se eu vivesse, que não me tornasse a manchar; pois a culpa dos PECADOS cometidos depois do batismo é muito maior e mais perigosa. Confissões I, XI
Assim, convertias em bem o mal que eles me faziam, e dos meus PECADOS, me davas justa retribuição, porque é teu desígnio, e assim acontece, que toda alma desordenada seja castigo de si mesma. Confissões I, XII
Pois é, Senhor, meu rei e meu Deus, e a ti consagro quanto falo, escrevo, leio e conto, pois quando aprendia aquelas futilidades, tu eras o que me davas a verdadeira disciplina, e já me perdoaste os PECADOS de deleite cometidos naquelas vaidades. Muitas palavras úteis aprendi nelas, é verdade; porém, estas também se podem aprender em estudos sérios, e este é o caminho seguro pelo qual deveriam encaminhar as crianças. Confissões I, XV
O orgulho imita a altura; mas só tu, Deus excelso, estás acima de todas as coisas. E a ambição, que busca, senão honras e glorias, quanto tu és o único sobre todas as coisas e ser honrado e glorificado eternamente? A crueldade dos tiranos quer ser temida; porém, quem há de ser temido senão Deus, a cujo poder ninguém, porém, quem há de ser temido senão Deus, a cujo poder ninguém, em tempo algum ou lugar, nem por nenhum meio pode subtrair-se e fugir? As carícias da volúpia buscam ser correspondidas; porém, não há nada mais carinhoso que tua caridade, nem que se ame de modo mais salutar que tua verdade, sobre todas as coisas formosa e resplandecente. A curiosidade sugere amor à ciência, enquanto só tu conheces plenamente todas as coisas. Até a própria ignorância e estultícia cobrem-se com o nome de simplicidade e inocência; das quais não acham nada mais simples do que tu. E que pode haver mais inocente do que tu, pois, até mesmo o castigo dos maus lhes vem de seus PECADOS? A indolência gosta do descanso; porém, que repouso seguro pode haver fora do Senhor? O luxo gosta de ser chamado de fartura; mas só tu és a plenitude e a abundância inesgotável de eterna suavidade. A prodigalidade veste-se com a capa da liberalidade; porém, só tu, és verdadeiro e liberalíssimo doador de todos os bens. A avareza quer possuir muitas coisas; porém, só tu as possui todas. A inveja litiga acerca de excelências; porém, que há mais excelente do que tu? A ira busca a vingança; e que vingança mais justa do que a tua? O temor aborrece as coisas repentinas e insólitas, contrárias ao que se ama ou se deseja manter seguro; mas haverá para ti algo de novo e repentino? Quem poderá separar de ti o que amas? E onde, senão em ti, se encontra inabalável segurança? A tristeza definha com a perda das coisas com que a cobiça se deleita, e não quer que se lhe tire nada, como nada pode ser tirado de ti. Confissões II, VI
Como agradecerei ao Senhor por poder recordar todas estas coisas sem que minha alma sinta medo algum? Amar-te-ei, Senhor, e dar-te-ei graças, e confessarei teu nome, pois me perdoaste tantas e tão nefandas ações. Devo à tua graça e misericórdia teres-me dissolvido os PECADOS como gelo, como também todo o mal que não pratiquei. De fato, de que PECADOS não seria capaz, eu que amei gratuitamente o erro? Confissões II, VII
Confesso que todos já me foram perdoados; o mal cometido voluntariamente, e o que deixei de fazer pela tua graça. Quem dentre os homens, conhecendo tua fraqueza, poderá atribuir às próprias forças sua castidade e inocência para amar-te menos, como se tivesse menor necessidade de tua misericórdia, com a qual perdoas os PECADOS aos que se convertem a ti? Confissões II, VII
E que sentimento era aquele de minha alma? certamente, assaz torpe e eu um desgraçado por alimentá-lo. Mas, que era na realidade? E quem há que conheça os PECADOS? Era como um riso, como que a fazer-nos cócegas no coração, provocado por ver que enganávamos aos que não suspeitavam de nós tais coisas, e porque sabíamos que haviam de detestá-las. Confissões II, IX
Acaso será em alguma parte e momento injusto amar a Deus de todo o coração, com toda a alma e com todo o entendimento, e amar ao próximo como a nós mesmos? Por isso, todos os PECADOS contra a natureza, como o foram os do sodomitas, hão de ser detestados e castigados sempre e em toda a parte, pois, mesmo que todos os cometessem, não seriam menos réus de crime diante da lei divina, que não fez os homens para usar tão torpemente de si; de fato viola-se a união que deve existir com Deus quando a natureza, da qual ele é autor, se mancha com a depravação das paixões. Confissões III, VIII
Com relação aos PECADOS que são contra os costumes humanos, também hão de ser evitados de acordo com a diversidade dos costumes, a fim de que o pacto mútuo entre os povos e nações, firmado pelo costume ou pela lei, não seja quebrado por nenhum capricho de cidadão ou forasteiro, porque é indecorosa a parte que não se acomoda ao todo. Confissões III, VIII
Essa a razão pela qual só se pode voltar para ti com piedade humilde, para assim nos purificares nossos maus costumes; pela piedade te mostras propício com os PECADOS dos que te confessam, e ouves os gemidos dos cativos, e nos livras dos grilhões que nós mesmo forjamos, contanto que não ergamos contra ti os chifres de uma falsa liberdade, quer arrastados pela cobiça de mais haveres, quer pelo temos de perder tudo, preferindo nosso próprio egoísmo a ti, Bem de todos. Confissões III, VIII
Mas, entre tantas maldades, crimes e iniquidades, estão os PECADOS dos que progridem, PECADOS que os homens de bom juízo vituperam, segundo a regra da perfeição, e louvam pela esperança de frutos futuros, como o verde é promissor das colheitas. Confissões III, IX
Há outras ações semelhantes a ações maldosas ou a delitos, e que não são PECADOS, porque nem te ofendem a ti, Senhor, nosso Deus, nem tampouco à sociedade humana; como por exemplo quando procuramos coisas convenientes para o uso da vida e às circunstâncias, sem que se saiba se essa busca é cobiça, ou quando castigamos a alguém como desejo de que se corrija, fazendo uso do poder ordinário, e não se sabe se o fazemos por vontade de mortificar. Confissões III, IX
Em Roma fui colhido pelo flagelo de uma doença corporal, que esteve a ponto de me mandar para a sepultura, carregado de todos os PECADOS cometidos contra ti, contra mim e contra o próximo; PECADOS numerosos e PECADOS, que se somavam à cadeia do pecado original, pelo qual todos morremos em Adão. Ainda não me tinhas perdoado nenhum deles em Cristo, nem ele havia apagado com sua cruz as inimizades que contraíra contigo com meus PECADOS. E como poderia ele desfazê-los por uma cruz de onde eu não via pender mais que um fantasma? Porque tão falsa me parecia a morte de sua carne como verdadeira a morte de minha alma, e tão verdadeira a morte de sua carne como falsa a vida de minha alma, que disto se não persuadia. Confissões V, IX
Ainda então me parecia que não éramos nós que pecávamos, mas não sei que estranha natureza que pecava em nós; por isso minha soberba se deleitava em me ter como isento de culpa, e portanto de todo desobrigado a confessar meu pecado, quando agia mal, para que pudesses curar minha alma que te ofendia. Antes, gostava de me desculpar, acusando a não sei que ser estranho que estava em mim, mas que não era eu. Na verdade, eu era tudo aquilo, embora minha impiedade me tivesse dividido contra mim mesmo. E o mais incurável de meu pecado era justamente o não me considerar pecador, preferindo, minha execrável iniquidade, que fosses vencido em mim, para minha perdição, ó Deus onipotente, a que vencesses minha alma para minha salvação. Ainda não tinhas posto guarda diante da minha boca, nem porta de proteção ao redor de meus lábios, a fim de que meu coração não se inclinasse para as más palavras, nem buscasse desculpas para seus PECADOS, como os homens prevaricadores. Eis a razão pela qual eu ainda mantinha relações de amizade com os eleitos dos maniqueus. Mas, desesperado de poder progredir para a verdade dentro daquela falsa doutrina, contentava-me a segui-la até encontrar algo melhor, professando-a já com mais liberdade e frouxidão. Confissões V, X
Entretanto, multiplicavam-se meus PECADOS. Quando arrancaram do meu lado, por ser impedimento ao meu matrimonio, aquela com quem partilhava o leito, meu coração, ao qual ela estava unida, ficou ferido e sangrando. Ela, por sua vez, voltando para a África, fez-te voto, Senhor, de jamais conhecer outro homem, deixando comigo o filho natural que dela tivera. Confissões VI, XV
Mas não se encontra escrito ali que morreu, no tempo marcado, pelos ímpios, e que não perdoaste a teu Filho único, mas que o entregaste por todos nós. Porque escondeste estas coisas aos sábios e as revelastes aos humildes, a fim de que os atribulados e sobrecarregados viessem a ele, para que os reconfortasse, porque ele é manso e humilde de coração. Dirige os pequenos na justiça e ensina aos mansos seu caminho, vendo nossa humildade e nosso trabalho, e perdoando todos os nossos PECADOS. Confissões VII, IX
Fiel cumpridor de tuas promessas, concedes a Verecundo a amenidade de teu paraíso sempre florido, por nos ter oferecido sua propriedade de Cassicíaco, na qual descansamos em ti das angústias do século; lhe perdoaste os PECADOS sobre a terra, na tua montanha, a montanha da abundância. Confissões IX, III
contudo, esta fé não me deixava viver tranquilo quanto a meus PECADOS passados, que ainda não me haviam sido perdoados por teu batismo. Confissões IX, IV
Este dom me pareceria de pouca monta se uma triste experiência não me houvesse mostrado grande número de pessoas — por não sei que horrível contagio de PECADOS, espalhados por toda parte — que não só revelam as palavras pesadas de inimigos irados, mas que ainda acrescentam coisas que não foram ditas. Quem fosse realmente humano, deveria ter em pouca conta ou não excitar nem fomentar as inimizades dos homens, e melhor ainda procurar extingui-las com boas palavras. Confissões IX, IX
E agora, Senhor, to confesso nestas linhas: leia-o quem quiser, interprete-o como quiser. E se alguém julgar que pequei nessas lágrimas, que derramei sobre minha mãe por alguns instantes, por minha mãe então morta a meus olhos, ela que me havia chorado tantos anos para que eu vivesse aos teus olhos, não se ria. Antes, é grande sua caridade, chore por meus PECADOS diante de ti, Pai de todos os irmãos de teu Cristo! Confissões IX, XII
Agora, com a ferida do meu coração já sanada, na qual se podia censurar um afeto muito carnal, derramo diante de ti, meu Deus, por tua serva, outra espécie de lágrimas, bem diferentes, aquelas que brotam do espírito comovido à vista dos perigos que corre toda alma que morre em Adão. É verdade que minha mãe, vivificada em Cristo, antes mesmo de ser livre dos laços da carne, viveu de tal modo, que teu nome era louvado em sua fé e em seus costumes. Contudo, não me atrevo a dizer que desde que a regeneraste no batismo não saiu de sua boca nenhuma palavra contrária à tua lei. Porque a Verdade, que é teu Filho, disse: “Quem chamar a seu irmão de louco será réu do fogo da geena”. Ai da vida dos homens, por mais louvável que seja, se tu a julgares sem a tua misericórdia! Mas porque não examinas nossos PECADOS com rigor, confiadamente esperamos tomar lugar a teu lado. Quem enumera diante de ti seus próprios méritos, que mais expõe senão teus dons? Oh! Se os homens se reconhecessem como homens! Se quem se glorifica se glorificasse no Senhor! Por isso, Deus de meu coração, minha vida e minha gloria, esquecendo por um momento as boas ações de minha mãe, pelas quais te dou graças com alegria, peço-te agora perdão por seus PECADOS. Ouve-me pelos méritos daquele que é o médico de nossas feridas, que foi suspenso do madeiro da cruz e que, sentado agora à tua direita, intercede por nós junto a ti. Eu sei que ela sempre agiu com misericórdia, e que perdoou de coração todas as faltas contra ela cometidas; perdoa-lhe também suas dívidas, se algumas contraiu em tantos anos que se seguiram ao batismo. Perdoa-lhe, Senhor, perdoa-lhe, te suplico, e não entres em juízo com ela. Confissões IX, XIII
Mas tu, Médico da minha alma, faze-me ver claramente a utilidade de meu propósito. As confissões de meus PECADOS passados — que já perdoaste e esqueceste, para me fazer feliz em ti, transformando minha alma com tua fé e teu sacramento — levam o coração dos que as leem e ouvem a não dormir no desespero dizendo: “Não posso”. Mas despertem para o amor pela tua misericórdia e para a doçura de tua graça, que fortalece o fraco e este se dá conta de sua debilidade. Confissões X, III
Os bons, por sua vez, se agradam em ouvir os PECADOS passados daqueles que já não sofrem. Agrada-lhes, não por serem PECADOS, mas porque o foram, e agora já não o são. Confissões X, III
É a esses que me revelarei. Que eles respirem diante de minhas boas ações, e suspirem à vista de meus PECADOS. As obras boas são tuas obras e teus dons; as más são meus PECADOS. As obras boas são tuas obras e teus dons; as más são meus PECADOS, objeto de teus juízos. Confissões X, IV
Exposto a estas limitações, luto diuturnamente contra a concupiscência do comer e do beber, pois não é coisa que possa cortar de uma vez por todas, apenas com o propósito de nunca mais recair, como fiz com a luxúria. É uma rédea imposta a meu paladar, ora para afrouxá-la, ora para retesá-la. E quem é, Senhor, que não se deixa arrastar às vezes além dos limites do necessário? Se existe alguém assim, é de fato grande, e deve engrandecer teu nome. eu porém não sou desse número, porque sou pecador. Contudo, também, eu engrandeço teu nome, e Aquele que venceu o mundo intercede junto a ti por meus PECADOS. Conta-me entre os membros enfermos de seu corpo, porque teus olhos viram minhas imperfeições e porque todos serão inscritos em teu livro. Confissões X, XXXI
Terei também essa miséria como desprezível? Haverá algo que possa restituir-me a esperança, a não ser tua conhecida misericórdia, que começou a me transformar? Sabes o quanto já me transformaste; curaste-me primeiro da paixão da vingança, para perdoar-me também todos meus PECADOS, curar minhas fraquezas, resgatar minha vida da corrupção, conservar-me na piedade e misericórdia, e saciar dos teus bens meu desejo. Derrubaste meu orgulho pelo temor, dobrando minha cerviz a teu jugo. Agora eu trago o teu jugo, e o sinto suave, como prometeste e cumpriste. Na verdade, teu jugo já era suave, mas eu não o sabia quando receava tomá-lo sobre mim. Confissões X, XXXVI
Quem busca o louvor dos homens, quando tu o reprovas, não será por estes defendido quando o julgares, nem poderá subtrair á tua condenação. Mas quando não se louva um PECADOS pelos desejos de sua alma, nem se abençoa quem pratica iniquidades, mas te louva um homem pelos dons que lhe concedeste, se ele se compraz mais no louvor do que no dom que lhe atrai os louvores, tu o reprovas, a despeito dos louvores que recebe dos homens. E quem o louva é melhor do que é louvado, porque um se agradou com o dom de Deus, e o outro alegrou-se com o dom do homem. Confissões X, XXXVI
Atemorizado por meus PECADOS e pelo peso de minhas misérias, meditei o projeto de fugir para o ermo; mas tu te opuseste e me fortaleceste dizendo: Cristo morreu por todos, para que os viventes já não vivam para si, mas por aquele que morreu por eles. Confissões X, XLIII
Mas, como não posso consultar a Moisés, é a ti, ó Verdade, cuja plenitude ele possuía quando enunciou tais palavras, é a ti, meu Deus, que dirijo minha súplica, perdoa meus PECADOS. Confissões XI, III
Senhor, meu Deus, que abismos profundos os de teus segredos, e quão longe deles me levaram as consequências de meus PECADOS! Cura meus olhos, para que eu me alegre com tua luz! Se houvesse de fato um espírito de ciência e de presciência tão grandes para conhecer o passado e o futuro, como conheço qualquer canto popular, esse espírito nos encheria de extraordinária admiração e espanto. Nada, com efeito, lhe seria oculto no passado e nos séculos vindouros, exatamente como, ao entoar essa melodia, sei tudo o que cantei desde o começo, e tudo o que falta cantar até o fim. Mas longe de mim a ideia de identificar um tal conhecimento àquele que tens de todas as coisas futuras e passadas, ó Criador do Universo, Criador dos espíritos e dos corpos. Tua ciência é incomparavelmente mais admirável e mais misteriosa. Confissões XI, XXXI
Todavia, meu Deus, que me elevas em minha pequenez, que descansas minha fadiga, que ouves minhas confissões e perdoas meus PECADOS, tu me ordenas que eu ame a meu próximo como a mim mesmo; não posso crer que Moisés, teu servo tão fiel, tenha sido aquinhoado com menos dons do que eu teria desejado e apetecido se tivesse nascido em seu tempo, e me tivesses confiado a tarefa de te servir com meu coração e minha língua, e disseminar essas Escrituras. Estas, tanto tempo depois, deviam ser úteis a todos os homens e, pelo mundo afora, triunfar com o prestígio de sua autoridade sobre as afirmações das doutrinas falsas e orgulhosas. Confissões XII, XXVI
Senhor, faze que contemplemos os céus, obra de tuas mãos! Dissipa de nossos olhares as nuvens com que os tens velado. Neles está teu testemunho, dando sabedoria aos humildes. Meu Deus completa teu louvor pela boca dos meninos que ainda mamam! Não conhecemos outros livros que assim destruam a soberba, e que abatam tão bem o inimigo que resiste a toda reconciliação contigo, e defende seus PECADOS. Não, Senhor, não conheci outras palavras tão puras, que tantos me persuadissem à confissão, e sujeitassem minha mente a teu jugo, convidando-me a te servir tão desinteressadamente. Oxalá eu as compreenda, bondoso Pai! Concede esta graça à minha submissão, pois as firmaste para os corações submissos. Confissões XIII, XV
Também meditei sobre o significado simbólico da ordem pela qual se fez tua criação e da ordem pela qual a Escritura relata. Vimos que tuas obras, consideradas cada uma em si, são boas, e em seu conjunto, muito boas. Em teu Verbo, em teu Filho único, vimos o céu e a terra, a cabeça e o corpo da Igreja, predestinadas antes de todos os tempos, quando ainda não havia nem manhã, nem tarde. Depois começaste a executar no tempo o que predestinaste antes do tempo, a fim de revelar teus desígnios ocultos e de dar ordem às nossas desordens — porque pesavam sobre nós nossos PECADOS, e nos perdíamos longe de ti em voragens de trevas. Teu Espírito misericordioso pairava sobre nós, para nos socorrer no momento oportuno. Justificaste os ímpios; tu os separaste dos pecadores e confirmaste a autoridade de teu Livro entre os superiores, que te eram dóceis, e os inferiores, para que a eles se submetessem. Reuniste em um corpo único, de mesmas aspirações, a sociedade dos infiéis, para que aparecesse o zelo dos fiéis fecundo em obras de misericórdia, e distribuindo aos pobres os bens da terra para adquirir os do céu. Confissões XIII, XXXIV