Diálogo com a Samaritana (Jo IV, 1-30)

ATOS DE JESUS — DIÁLOGO COM A SAMARITANA (Jo IV, 1-30)

EVANGELHO DE JESUS: Jo 4:1-42

1 O Adôn sabe que os Peroushíms ouviram: «Iéshoua atrai e imerge
mais adeptos do que Iohanân».
2 — se bem que, na verdade, Iéshoua‘
não imerge, mas o faz através de seus adeptos.
3 Ele deixa a terra de Iehouda e vai de novo para Galil.
4 Ele deve atravessar o Shômrôn.
5 Ele vai então a uma cidade de Shômrôn, chamada Soukhar, vizinha da propriedade que Ia‘acob havia dado a seu filho Iosseph.
6 Ali se encontra a fonte de Ia‘acob.
Iéshoua estava, pois, cansado da estrada.
Ele senta-se junto à fonte; é por volta da sexta hora.
7 Vem uma mulher, uma Shômronit, para tirar água.
Iéshoua’ lhe diz: «Dá-me de beber.»
8 Sim, seus adeptos tinham ido à cidade para comprar comida.
9 A mulher, a Shômronit, lhe diz:
«Como, tu, que és um Iehoudi, pedes-me de beber,
a mim que sou uma mulher, uma Shômronit?»
Pois os Iehoudíms não se misturam com os Shômroíms.
10 Iéshoua’ responde e lhe diz:
«Se conhecesses o dom de Elohîms, e quem é aquele que te diz: “Dá-me de beber”, tu lhe terias pedido e ele te daria da água viva.»
11 Ela lhe diz: «Adôn, não tens balde e o poço é profundo.
De onde terias pois a água viva?
12 És maior que nosso pai Ia‘acob, que nos deu este poço
e dele bebeu, ele mesmo com seus filhos e seu rebanho?»
13 Iéshoua‘ responde e lhe diz:
«Quem bebe desta água torna a ter sede.
14 Mas quem bebe da água que eu dou não tem mais sede em perenidade, pois a água que eu dou
torna-se nele fonte de água que jorra para a vida em perenidade.»
15 A mulher lhe diz: «Adôn, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede
e não me desloque mais para vir tirá-la.»
16 Ele lhe diz: «Vai, chama teu marido e volta aqui!»
17 A mulher responde e diz: «Não tenho marido.»
Ele lhe diz: «Dizes muito bem: “Não tenho marido.”
18 Sim, tiveste cinco maridos
e aquele que tens agora não é teu marido.
— Assim, dizes a verdade!»
19 A mulher lhe diz:
«Adôn, vejo que és um inspirado!
20 Nossos pais prostravam-se nesta montanha, mas vós dizeis:
“O lugar onde se deve prostrar, é Ieroushalaîms!”»
21 Iéshoua lhe diz: «Crê em mim, mulher! Vem a hora em que, nem nesta montanha nem em Ieroushalaîms, prostrar-vos-eis diante do pai.
22 Vós vos prostrais
diante do que não conheceis.
Nós nos prostramos
diante do que conhecemos,
pois a salvação vem dos Iehoudíms.
23 Mas vem a hora, e é agora,
em que aqueles que se prostram em verdade prostrar-se-ão diante do pai no sopro e na verdade.
Sim, o pai procura aqueles que assim se prostram.
24 Elohîms é sopro:
aqueles que se prostram diante dele devem se prostrar no sopro e na verdade.»
25 A mulher lhe diz:
«Eu sei que o mashiah vem, aquele que é clamado Christos.
Quando ele vier, nos anunciará tudo.»
26 Iéshoua lhe diz: «Eu sou, eu que te falo.»
27 E neste momento chegam seus adeptos.
Eles se surpreendem por vê-lo falando com uma mulher. No entanto, nenhum diz: «O que procuras?» ou «Por que tu lhe falas?»
28 A mulher deixa então seu cântaro, vai à cidade e diz aos homens:
29 «Vinde, vede um homem
que me disse tudo o que eu fiz.
Não é ele o mashiah?»
30 Eles saem da cidade e vêm até ele.


Mestre Eckhart: SERMÃO 26

Joaquim Carreira das Neves: Diálogo com a Samaritana

Jean-Yves Leloup: ORAÇÃO DA ATENÇÃO À RESPIRAÇÃO


Roberto Pla: Evangelho de ToméLogion 74

A água à que agora vai referir-se Jesus não é a água estável do poço que a alma samaritana conhece e bebe, senão as águas vivas; estas são o caudal do que se nutre a alma, pois como línguas ígneas do conhecimento procedentes de Deus (Pentecostes), desde todos os veios do mundo, se agregam à alma para enriquecê-la com fluxos de salvação.

Estas são as águas que acalmam a sede de vida eterna, essa sede que em definitivo é a única sede verdadeira da alma. Todas as águas desta espécie que a alma recebe, se convertem nela em fonte própria que emana para fazer possível as bodas sagradas com o espírito. A isto se refere, sem dúvida, a inopinada alusão de Jesus aos “maridos” da alma samaritana. Tais “maridos” são denunciados por Jesus como desposados (psíquicos) inadequados, posto que o único matrimônio reputado como verdadeiro é o que se celebra com o esposo pneumático, e que nele tende a desembocar, quando transcorre com lucidez, a vida inteira da alma.

A boda interior, “oculta”, ou melhor o Caminho até esta boda de união sagrada, implica na exigência de uma adoração permanente, que só pode ser praticada “em espírito e verdade”. Estes são adoradores segundo a vertente oculta de Cristo; sacerdotes que oficiam prosternados diante do “nascido do alto” (Nascer do Alto), que neles está. Em verdade, a presença deste nascido do Espírito é como o vento cuja voz é ouvida sem saber o como e o porque, mas os adoradores verdadeiros, não necessitam nenhum outro templo, ou monte da terra, para prosternar-se e adorar com plenitude.

A alma samaritana, sem “maridos”, diz então: “Sei que vai vir o Messias, o Chamado Cristo”. E Jesus a contesta: “Eu Sou. O que te está falando”.

Segundo a vertente “oculta” é como se tivesse dito: O Cristo, em espírito e verdade, está aqui, presente diante de teus olhos. Quando a sua “vinda” ele vem sempre se o vês e sabes entender que ele é o que ti olha. Ele é o Vivente que te vê, desde o fundo insondável de ti mesmo. Quando tua alma se faça uma só carne com ele, já não habitareis nas imediações do poço, senão “no poço”.

Hás de saber que tu é, em uma só e única coisa, o poço, o Vivente que te vê, e a imagem transitória, mortal, que olha e busca na superfície do poço. É esta imagem que convém que seja esquecida.

Antonio Orbe: AS TENTAÇÕES DE JESUS