Leloup Samaritana

Jean-Yves Leloup — UMA ARTE DA ATENÇÃO
Diálogo com a samaritana
Pela prática do que chamo a «anamnese essencial» quer dizer memorizar o Ser no coração de minha vida cotidiana, memorizar o incondicionado em todos os condicionamentos nos quais vivo. Memorizar o incriado na criatura, no ser composto que sou: memorizar, tornar presente este Ser que tocou neste momento particular, transitório, Abrir-se em nossos cercados (o que Heidegger poeticamente denominou a «clareira do ser»). É a prática concreta da oração hesicasta transmitida pelo Cristo à Samaritana quando a chama à oração «en pneumati kai aletheia» — a oração no sopro (pneuma) e a atenção (aletheia).

O que memoriza o Ser em mim, neste momento, é o sopro: me sopro, neste momento, está em contato com o ser, e se não estivesse, não respiraria. Trata-se de entrar nesta consciência, neste sopro consciente. Orar, é respirar.

À respiração, junta-se a vigilância — aletheia, «verdade», que significa literalmente «sair da lethe, sair do sono, estar em estado de atenção». Traduzido geralmente por «oração em espírito e em verdade», deve-se, para respeitar verdadeiramente o texto grego, traduzir «en pneumati kai aletheia» por : «oração de atenção ao sopro, oração do sopro consciente». Estar presente à consciência do sopro, ao coração de minha respiração, estar presente ao pneuma. Deus está conosco mas nós, não estamos com Ele; trata-se de entrar neste movimento que me inspira e que eu expiro, entrar neste movimento do sopro. É a primeira prática.