ATOS DE JESUS — ANDAR SOBRE AS ÁGUAS… (Mt XIV, 22-33; Mc VI, 45-52; Jo VI, 16-21)
EVANGELHO DE JESUS: Mt 14:22-33; Mc 6:45-52; Jo 6:16-21
16 Vindo a noite, seus adeptos descem ao mar.
17 Sobem num barco
para ir ao outro lado do mar, a Kephar-Nahoum.
As trevas já haviam chegado, e léshoua1 ainda não havia vindo até eles.
18 Um grande vento sopra, o mar se revolta.
19 Eles já remaram perto de vinte e cinco ou trinta estádios, quando veern Iéshoua‘ andar sobre o mar.
Ele se aproxima do barco. Eles estremecem.
20 Mas ele lhes diz: «Eu sou: não estremeçais.»
21 Eles querem recolhê-lo no barco.
No mesmo instante, este chega à terra onde eles iam. [Chouraqui; Jo VI, 16-21]
Nesses atos de Jesus sobressaem alguns elementos simbólicos importantes: barco, monte, mar, ondas, vento, fantasma, medo, Filho de Deus. Ao se distanciarem de Jesus, em um barco sobre o mar agitado pelas ondas, entenda-se: os discípulos reunidos em sua “arca” de tradição, afastam-se de Jesus e encontram-se diante das dificuldades e agitações do mundo; ou, mais interiormente, as partes mais próximas de Jesus, se afoitam a atravessar em sua “arca” de tradição o mar agitado das paixões que assaltam à alma. Implorando por socorro temem ver um fantasma (uma aparência do Senhor) ao ver Jesus caminhando sobre as águas enfurecidas (as paixões), em sua direção. Uma das partes (Pedro) corajosamente se dispõe a ir ao encontro do Cristo em nós, mas pela falta de fé tem que ser socorrida ao sossobrar diante das ondas (as paixões).
Tal interpretação se justifica pela necessidade de reconhecer nos atos de Jesus uma “história de sabedoria”, como é comum no Oriente. No entanto, a tentativa feita corre o risco de banalizar a riqueza e profundidade de sentido de tal história por uma simples tradução de símbolos em outras palavras. Espero que os leitores entendam esta tentativa na sua ingenuidade, como apenas uma pobre iniciativa para a compreensão deste ato de Jesus.
Duas indicações importantes sobre o medo, ambas porém evidenciando sua fonte originária na identificação de si mesmo e corpo, na percepção equivocada a partir do pensamento que sou o corpo e no corpo estou:
- percepção do que “anda sobre as águas” como um fantasma, uma aparência; sentindo-se à mercê das águas agitadas, sensação do corpo na agitação da alma, o que se vê andando sobre estas águas é aparência, não se tem fé no que domina as águas a ponto de andar sobre elas, por mais agitadas, como inatingido pelas mesmas.
- ao ir ao encontro de Jesus, sobre as águas, a psique agitada, Pedro não tem a fé necessária, cede à crença que é a carne (uma combinação de corpo e psique), daí o medo. Pedro não se abre integralmente e reverbera a Identidade Suprema em face. Pedro é ele mesmo; não reflete sua identidade com O QUE É (TU ÉS ISTO), mas o O QUE É lhe salva.
Bruno Barnhart: LENDO JOÃO DESDE O CENTRO [BBGW]
Maurice Nicoll: ANDAR SOBRE AS ÁGUAS