Alma Substância Divina

TOMÁS DE AQUINO — SUMMA THEOLOGICA I, Q. XC, ART. I

A ALMA NÃO É PARTE DA SUBSTÂNCIA DIVINA

É manifestamente insustentável dizer que a alma é da substância de Deus. Pois, como consta pelo que foi dito, a alma humana é algumas vezes inteligente em potência, adquire a ciência das coisas de certo modo, e tem diversas faculdades; tudo o que é alheio à natureza de Deus, que é ato puro e nada recebe de outro e não contém em si nenhuma diversidade, segundo fica provado.

Porém este erro parece ter seu princípio em duas posições dos antigos. Os primeiros que começaram a estudar a natureza das coisas incapazes de ultrapassar os limites da imaginação, acreditaram nada haver além de corpos, e, consequentemente, afirmavam que Deus era um certo corpo, princípio dos demais corpos; e como sustentavam que a alma era da natureza desse corpo, que chamavam princípio, deduziam que a alma era da substância de Deus. Próxima a esta opinião é a dos maniqueus, que ao pensarem que Deus é certa luz corpórea tiveram que sustentar que a alma é uma parte dessa luz ligada ao corpo.

De acordo com a segunda posição, alguns chegaram a compreender que Deus era um ser incorpóreo, porém não como separado do corpo mas como forma do mesmo; fundado no que disse Varrão que Deus é a alma que governa o mundo com o olhar, o movimento e a razão, segundo relata Santo Agostinho (VII, De Civitate Dei). Por isto acreditaram alguns que a alma do homem era uma parte dessa alma total, como o homem é uma parte da totalidade do mundo, não chegando a alcançar com o entendimento a diversidade dos graus das substâncias espirituais mas apenas segundo a diversidade dos corpos. Mas tudo isto é impossível, como já se provou (q. III, a. 1 e 8); portanto, é falso evidentemente que a alma seja uma parte da substância de Deus.