Devotio Moderna — GERARDO ZERBOLT DE ZUTPHEN
GERARDO ZERBOLT E OS PRIMÓRDIOS DA DEVOÇÃO MODERNA
Tradução de Antonio Carneiro
«Um talento muito promissor o qual uma morte precoce não permitiu realizar sua promessa». Tal poderia ser a apreciação que caracterizaria Gerardo Zerbolt de Zutphen (1367-1398).
Zerbolt é um dos primeiros membros da “FRATERNIDADE DA VIDA COMUM em Deventer, grupo de homens vivendo em comunidade em uma casa onde podiam com total liberdade consagrar suas vidas à Deus. Sem voto nem viver sob uma Regra, se engajavam uns com os outros pelas promessas. Sob a condução de mestre Florent Radewijns, pretendiam levar uma forma de vida em comum, semi-religiosa, fora das estruturas eclesiais então estabelecidas, exercendo um apostolado sobretudo próximo aos alunos da Escola Latina de Deventer. A forma de vida em comum e religiosa levada pelos irmãos de Deventer é característica dos primórdios da Devoção moderna, um movimento de reforma que surgiu durante a segunda metade do século XIV, à predicação de Gerardo Groot (1340-1384)1.
À aurora deste novo movimento, o aporte pessoal de Gerardo Zerbolt foi de crucial importância. Aliava à inteligência um verdadeiro talento de escritor e produziu um número de textos influentes sobre variados assuntos. É por seus escritos que põe os fundamentos jurídicos necessários à continuidade do movimento. Consegue plenamente quando a aprovação oficial de bispo do lugar foi-lhe dada no início do século XV, de onde seguiu-se uma grande expansão durante as décadas seguintes. No seio do movimento, Gerardo representou ainda um papel marcante dando forma, por dois tratados espirituais, o ideal de vida que animava seus irmãos e ele próprio, o difundindo também para além do círculo restrito da Fraternidade.
Johannes BuschJohannes Busch, um dos primeiros historiadores da Devoção moderna (ver: Gomez Devotio Moderna), concede à Gerardo Zerbolt uma curta e densa menção: se enfurnou na igreja do monastério à Windesheim; escreveu dois livros piedosos à propósito das ascensões espirituais, seu “Beatus vir” e seu “Homo quidam”. Faz por aí referência aos dois escritos de espiritualidade que possuímos de Gerardo, conhecidos sob seus respectivos títulos de “De spiritualibus ascensionibus” e “De reformacione virium anime”2. Dentre os escritos de Gerardo esses são os mais conhecidos; receberam grande difusão e exerceram durante séculos até hoje, uma profunda influência sobre a formação à vida espiritual daqueles que, como Zerbolt, procuravam viver segundo sua fé.
NOTAS
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Pour l’histoire de la Fraternité, voir C. van der Wansem, Het ontstaan en de geschiedenis der Broederschap van het Gemene Leven tôt 1400 [La fondation et l’histoire de la Fraternité de la Vie commune], Leuven 1958. Pour Gérard Grote, voir l’étude fondamentale de G. Epiney-Burgard, Gérard Grote (1340-1384) et les débuts de la Dévotion Moderne, Wiesbaden 1970 et son édition Gérard Grote, fondateur de la Dévotion Moderne. Lettres et traités, Turnhout 1998 (Sous la Règle de saint Augustin, 4); pour Florent Radewijns, on pourra se reporter à l’introduction donnée par Th. Mertens à Florent Radewijns, Petit manuel pour le dévot moderne. Tractatulus devotus, texte latin, sources et traduction F.J. Legrand, Turnhout 1999 (Sous la Règle de saint Augustin, 6). ↩
Dominus Gerardus de Zutphania in Windesem sepultus, qui duos libelles devotos: «Beatus vir» et «Homo quidam» de spiritualibus ascensionibus composuit (Johannes Busch, Liber de viris illustribus, dans K. Grube, Des Augustinerpropstes lohannes Busch Chronicon Windeshemense und Liber de refor-matione monasterium, Halle 1886, p. 49). Une édition latine du De spiritualibus ascensionibus avec une traduction adaptée en néerlandais a été faite par J. Mahieu, Van geestelijke opklimmingen, Brugge 1941. Sur les éditions et la traduction néerlandaise du De reformacione, voir respectivement les pages 83 et 59. ↩