Philip Zaleski — ORAÇÃO
#A história da oração é a história do impossível: de como criatura de carne e sangue assaltam o céu, falam ao Criador de todas as coisas, e esperam, com confiança e ceticismo esperançoso, uma resposta.
#O que é esta ação paradoxal que chamamos oração? Oração é a ação que garante a comunicação ou a comunhão entre os reinos humano e divino.
**Oração é fala, mas mais rica que apenas a fala. É uma espécie peculiar de fala que age, e uma espécie peculiar de ação que fala às profundezas e alturas do ser.
**A maioria das vezes, a oração parece nada mais ser que fala: louvando, pedindo a Deus; enviando mensagens para anjos da guarda e espíritos tutelares; invocando poderes cósmicos benevolentes. Mas a oração também é ato.
#A oração implica numa multiplicidade de formas e de metas.
#A oração requer expressão ritual, a prática ritual quase sempre inclui oração.
**Pois o ritual é o teatro sagrado no qual desdobra-se eventos cruciais, tais como as benção da colheita e a iniciação em novos estágios de vida do nascimento à morte, cujo sucesso do resultado depende de um apelo aos poderes divinos.
**Para João de Cronstadt a oração é “o alento da alma, nosso alimento e bebida espirituais”.
**Teriam os seres humanos descoberto primeiro a oração e depois desenvolvido o ritual como um meio de domar suas energias, criando trilhas bem marcadas para as massas seguirem? Ou teria o ritual vindo primeiro, dando nascimento à oração, do mesmo modo que a fala deu nascimento ao pensar?
**Participar em um ritual é entrar no mundo da oração, e tornar um hábito a oração é abrir a porta ao ritual.
#A oração pode ser breve; “orações curtas penetram o céu”, como afirma o autor anônimo da Nuvem do Desconhecido, que recomenda a exclamação de uma sílaba “Deus!” como a oração ideal.
#As orações podem ser longas, estendendo-se por meses a fio, interrompidas apenas pelas necessidades do corpo, como na vida de alguns ascetas.
#As orações podem ser solitárias ou comunais; em cerimônias privadas ou arenas públicas.
#A oração pode conduzir a Deus ou convencer de sua ausência; a oração pode abençoar e pode “morder”; “Quando os deuses querem nos punir eles respondem nossas orações”, segundo Orson Welles.
#Segundo Kierkegaard, “a oração não muda Deus mas muda àquele que ora”.
#Para aquele que já contemplou o assunto, a oração é um cosmo cujo centro está em toda parte, em cada coração humano, e cuja circunferência não está em parte alguma, na infinidade de Deus.
#A oração jaz no coração da cultura; em toda sociedade tradicional toda ação significativa começa pela oração; assim como a oração torna toda ação, significativa.
#As mais antigas culturas urbanas cresceram ao redor de prédios que eram essencialmente centros de culto dedicados ao sacrifício, a propiciação e a oração.
#As orações dominantes de uma sociedade nos revelam seus valores preeminentes.
#Para entender algo da oração na pré-história do homem, Zaleski busca autores como o Abbé Breuil e Alexander Marshack. Deve-se reconhecer a enorme dificuldade de se compreender este passado tão remoto, cujo legado pictográfico e de peças e utensílios parecem nos apresentar algo tão distante de nosso mundo atual.