Arthur Versluis — Theosophia. As dimensões ocultas do Cristianismo
Apresentação e excertos deste livro de Versluis
Surpreende o pouco que foi publicado sobre Teosofia, e seus principais expoentes, em outras línguas que não sejam o alemão e o francês. Em parte a confusão com a chamada Teosofia de H.P. Blavatsky, e sua Sociedade Teosófica (v. Guenon Teosofismo), explica a pouca atenção dada a esta corrente que, juntamente com a gnose, referia-se a experiências e doutrinas associadas ao Cristianismo, Islã e Judaísmo.
Este livro de Versluis trata da dimensão da Theosophia que se assemelha à chamada gnose cristã. Não àquela que, em alguns casos, se perdeu nos primórdios do Cristianismo, mas certamente àquela que permeia a tradição cristã, alimentando sua ortodoxia, assim parte do gnosticismo dos primeiros séculos cristãos, e que pode ser entendida como “um conhecimento experiencial de coisas divinas”.
Assim gnose se refere não apenas a algumas doutrinas do Gnosticismo do início do Cristianismo mas também à esta dimensão profundamente espiritual que se pode experimentar através de um conhecimento liberador. A gnose se expressa em termos judaicos, cristãos e islâmicos, e possivelmente suas raízes se entremeiam.
Em toda sua história, o Cristianismo incluiu uma dimensão legitimamente gnóstica, que se pode denominar paraclética, segundo Versluis. Esta dimensão pode ser encontrada nas parábolas, mas acima de tudo na descida do Espírito Santo, assim conectada ao mistério do Logos. Desde o início a revelação cristã significou a iluminação do tempo pela eternidade, a transcendência da ordem temporal na radiância do Christos. Esta transcendência é uma ruptura vertical no tempo horizontal, é explica porque o misticismo cristão está sempre acessível na esfera do conhecimento interior, quaisquer que sejam as condições externas: o espírito sopra onde ele quer.
A dimensão paraclética do Cristianismo está diretamente enraizada no Novo Testamento: Todavia, digo-vos a verdade, convém-vos que eu vá; pois se eu não for, o Confortador não virá a vós; mas, se eu for, vô-lo enviarei. (Jo 16:7). Assim o Cristianismo nasce depois da morte de Cristo através do Paracleto, ou Espírito Santo. De fato, os Atos dos Apóstolos deveriam ser chamados “Atos do Espírito Santo”, pois tem início com a conhecida história de Pentecostes e a descida do Espírito Santo sobre a assembleia dos apóstolos. Em Pentecostes, Pedro fez um sermão onde citando o profeta Joel dizia: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos mancebos terão visões, os vossos anciãos terão sonhos; (Atos 2:17).
Esta dimensão paraclética do Cristianismo é profundamente importante — teósofos frequentemente citam estes versos para explicar que seus movimentos buscam a restituição do Cristianismo essencial. A Teosofia é pois um esforço de reconstituição do Cristianismo primordial — viver num mundo onde o milagroso é de fato possível, realizar a dimensão atemporal do momento presente. Assim a Teosofia é uma manifestação moderna da tradição gnóstica e os teósofos apresentam uma outra forma de ver a história, a hiero-história.
A hiero-história é a história da revelação ou da iluminação espiritual que os teósofos garantem ser possível ainda hoje como foi no passado para os apóstolos. A hiero-história revela os lugares e momentos particulares em que o Espírito Santo desceu e pairou sobre grupos. Revelações pentecostais que, segundo os teósofos, separa aqueles que permanecem na “Babel”, um estado de ignorância dependente de fontes externas, como diz Boehme, daqueles que experimentam a iluminação espiritual. Atender às missas, em “igrejas de pedra”, afirma Boehme não é suficiente para nossa salvação: devemos participar da hiero-história e experimentar as dimensões paracléticas ou espirituais da vida.
Theosophia: Hidden Dimensions of Christianity
I. Historia Gnosologiae
1. Gnose e Angelofania
2. Eros religioso na Idade Média Cristã
3. A Questão do Platonismo e do Hermetismo
4. Teosofia
II. Cosmologia
5. Liturgia e Atemporalidade
6. Natureza hierofânica
7. A Unificação do Cristianismo e do Espírito Santo
8. O Templo, o Peregrino e o Apocalipse do Coração
III. Metafísica
9. Metanoia
10. A Divina Sophia
11. A Imaginação Visionária
12. A Hierarquia Celestial