VERBO DE VIDA — PALAVRA DE VIDA — DIZER DE DEUS
O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida (Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada); O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo. Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra. (1Jo 1:1-4)
Michel Henry [MHSV]
No terceiro texto, a passagem da manifestação mundana — «O que ouvimos (…) tocado de nossas mãos…» — a isto que é dito ser manifestado desta maneira, no mundo, é mais fulgurante e mas desconcertante ainda: não é uma passagem ao que é dito ser manifestado dessa maneira, no mundo — é, na forma de passagem um corte radical, a brusca substituição ao que seria manifestado no visível do mundo e que seria o Verbo, de um outro modo de revelação que é precisamente aquele do Verbo e no qual com efeito o Verbo se revela: o Verbo de Vida. Lembremos o texto: «O que estava desde o princípio (…) o que vimos de nossos olhos (…) o que tocamos de nossas mãos, por isto que é o Verbo de Vida — sim a Vida se manifestou…». E é somente porque esta Vida que, segundo o contexto, é “a Vida eterna”, — «aquela que estava junto do Pai e que se manifestou a nós» —, se manifestou nela mesma e por ela, que é possível saber que Aquele que porta nela a Vida do Pai, é o Verbo. É na auto-revelação desta Vida e por ela somente que alcançamos nela e assim nele, enquanto ela porta nele, enquanto ele é o Verbo, de modo algum por sua aparência de homem visível em um mundo. E é isto que a problemática joanica e o cristianismo inteiro vão estabelecer.
Que não se possa realmente desvendar na aparência de um homem que ele é o Verbo de Vida, é isto que a profecia do Batista bastará para demonstrar. Aos enviados dos Fariseus lhe demandando se ele é o Messias, o Batista declara: «No meio de vós se mantem alguém que vós não conheceis» (Jo 1,26). É preciso reconhecer todavia que o Batista se encontrava na mesma situação que eles — «e eu não o conheço» (ibid. 31) — até que Aquele que o tinha enviado a batizá-lo lhe disse. Só a Revelação de Deus pode revelar o Verbo, o qual não é a princípio nada de outro que a auto-revelação de Deus.