Eckhart fala do termo de um devir: a união, bem como da condição deste: a semelhança. Trata-se, em outras palavras, daquilo que muitos autores expressam de forma proverbial: “Pássaros da mesma pena voam juntos” [Qui se ressemble s’assemble]. »
A aplicação mais frequente deste princípio encontra-se na teoria aristotélica do conhecimento. Numa passagem de seu livro sobre a alma, Aristóteles declara que “o semelhante é conhecido pelo semelhante”1.
Tomás de Aquino, através de quem Eckhart recebeu a herança aristotélica, comenta:
É verdade que o conhecimento se faz no sentido de que a coisa conhecida tem uma semelhança com o sujeito cognoscente; é necessário, de fato, que de uma forma ou de outra o objeto do conhecimento se encontre no sujeito2.
A alteridade, condição inicial do ato de conhecer, graças a uma semelhança entre os dois termos, resolve-se na unidade: a do próprio ato de conhecer. Nesse sentido, “só a semelhança do semelhante estabelece a união”. A maneira de pensar de Mestre Eckhart, treinado no estudo dos comentários escritos por Tomás de Aquino, é muito aristotélica.
O princípio de que o semelhante é transportado para o semelhante — “move-se para o semelhante”3 — já em Aristóteles vai além do simples caso de conhecimento. Em Plotino, onde se encontra4, dá origem a uma primeira metafísica da união, e em Tomás de Aquino, finalmente, à doutrina da visão beatífica5, um verdadeiro tratado sobre a “identidade peregrina” entre o homem e Deus.
Vamos coletar nossos primeiros resultados. Como aristotélico, Eckhart transpõe para o plano da realização progressiva do desapego, do nascimento à união pelo qual Aristóteles caracterizou o ato de conhecer; como neoplatonista, entende a semelhança como assimilação, semelhança conquistada… A união pela qual termina o desapego é mais que noética, é de ordem ascética.
Mestre Eckhart transpõe para a vida presente a união cada vez maior com Deus onde Tomás de Aquino reconheceu o dinamismo da visão. Tal como ele, ele leva a teoria aristotélica do conhecimento a extremos onde, embora mantendo os seus termos, nos desperta para um futuro; como ele, portanto, enriquece-a com as contribuições de uma filosofia do Um. Mas deste confronto entre a tradição aristotélica e a tradição neoplatónica, vê-lo-emos tirar conclusões das quais Tomás de Aquino ainda se tinha afastado.